quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A violência bate à porta

Somos, diariamente, separados de forma brusca dos entes queridos, amigos, companheiros de trabalho ou de escola. Enfim, pessoas que amamos são extirpadas do nosso convívio sem, ao menos, terem chance de reação. Não é difícil descobrir sobre o que estou escrevendo. Que brasileiro não tem uma triste história de violência para contar?

Infelizmente, muitos de nós conhecemos vítimas de assaltos, seqüestros, balas perdidas, estupros e assassinatos. Vidas são ceifadas por motivos vis. Hoje, dá-se muito valor às coisas materiais. Mata-se por um carro, um celular, um real. Mata-se por tudo. Mata-se por nada.


Antes, ouvíamos comentários de amigos que tiveram amigos assaltados ou que sofreram algum tipo de violência. Hoje, já não são só os amigos dos nossos amigos. São os nossos amigos, os nossos familiares, são pessoas que amamos. A terrível sensação de que a violência bate à nossa porta é real.

Eu sou uma dessas pessoas que, infelizmente, têm histórias tristes para contar. Uma delas, ainda, não consigo acreditar que foi verdade. Parece um pesadelo que nunca terá fim. No dia 1º de janeiro de 2006, perdi um amigo, e de uma forma lastimável. Ele foi assassinado em um crime passional. Um policial covarde atirou contra ele, que não resistiu e morreu. Nunca imaginei perder um amigo tão cedo, ainda mais desse modo. Um jovem que teve seus sonhos interrompidos. Crescemos juntos, estudamos juntos, brincamos tantas vezes... Só me restaram essas doces lembranças e uma grande indignação!

Gostaria de estar escrevendo sobre algo alegre, bonito. Contudo não posso fechar os olhos para a realidade - triste realidade! Nossos políticos ainda tiveram a “brilhante” idéia de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Apenas isso irá resolver? Considero 16 anos uma idade muito avançada! Que tal reduzirmos para dez anos? Essa medida é mais um paliativo. É uma forma que os governantes encontraram para “atender” ao apelo do povo que clama por justiça. Precisamos encarar com mais seriedade esse assunto. Temos leis eficazes, que não são aplicadas como deveriam. Por outro lado, elas têm inúmeras brechas. Temos uma justiça morosa, uma polícia corrompida e somos representados por políticos corruptos, os quais, sozinhos, não chegam onde estão: eles contam com a nossa preciosa ignorância!

Aos políticos o que interessa mesmo é a nossa incapacidade de escolher as pessoas certas. E não estou falando, apenas, daquele humilde cidadão que troca o voto por uma dentadura, um botijão de gás ou uma cesta básica. Falo, sobretudo, dos grandes empresários que investem vultosas quantias nas campanhas eleitorais em troca de milionários favores.

O que podemos esperar desse país que tinha, naturalmente, tudo para ser uma potência mundial e, entretanto, graças à incompetência dos governantes (e por que não dizer da nossa ignorância e passividade), parece fadado ao fracasso. As eleições se aproximam, e eu espero que possamos escolher bem aqueles que irão defender os nossos direitos. Não vamos votar em fulano porque é bonitinho, porque é cômico, porque é artista, porque fala bem... Tenhamos critérios para votar corretamente! É preciso conhecer a vida pública dos candidatos, para não termos que nos envergonhar de ter eleito Clodovil, Frank Aguiar, Paulo Maluf, Roberto Jefferson, Fernando Collor, Renan Calheiros, José Dirceu, etc., e para não nos sentirmos ofendidos com conselhos como o da excelentíssima ministra, Marta Suplicy:
“Relaxa e goza.”

Aniversário de Madonna!

Madonna, a mais aclamada popstar do mundo, completa 49 anos de idade nesta data! A cantora está em plena atividade e forma física, produzindo seu novo álbum, a ser lançado ainda neste semestre, após o grande sucesso de “Confessions on a dance floor”. O novo álbum conta com a co-produção do cantor Justin Timberlake, com quem Madonna compôs seis músicas e divide os vocais em pelo menos duas delas. “Ela é uma mulher extremamente talentosa. Existem momentos onde eu paro e penso: ‘Uau estou trabalhando com a Madonna!’. Ela é cool, inteligente e muitíssimo inovadora. Eu me senti honrado em trabalhar com ela. Madonna é ao mesmo tempo divertida e sabe dar conselhos e direções, sem contar que ela tem uma mente genial”, afirma Justin. Para 2008, a popstar planeja uma grande festa em Manhattan para comemorar seus 50 anos de idade. Há, ainda, rumores de uma possível mega-turnê e um curta-metragem. Parabéns para a estrela!

Música nova de Djavan nas rádios.

Já está em execução nas rádios de todo o Brasil a nova música do mestre Djavan, intitulada "Pedra", do seu mais novo e aguardado CD, "Matizes", o 18º de sua carreira, com lançamento previsto para setembro. Djavan não lança disco inédito desde o classudo "Vaidade" (2004). Seu último trabalho foi "Na pista, etc.", uma compilação de sucessos em versões remixadas, lançada em 2005, mas que não obteve muito êxito.

"Agora é só fluir, que o melhor ainda está por vir".

Acabo de ter um acesso de inspiração nesta madrugada gélida e chuvosa. É que me encontro no estado de graça típico dos ébrios! Mas o meu uísque não é suficiente para saciar a sede que estou sentindo da tua presença, criatura voluptuosa! Nem acredito que estive a poucos centímetros de distância da tua boca, do teu olhar malicioso e do cheiro altamente inebriante que exala da tua pele... Meu corpo em frêmito pede o teu... E eu quero a esgrima de língua, o toque ágil das tuas mãos, o calor das tuas coxas nas minhas, o afago nos cabelos, a compilação de obscenidades ao ouvido, a respiração quente e ofegante a me entorpecer... Sinto a vontade incontida de fazer do meu corpo o teu templo de torpes desejos! Quero romper os limites da paixão arrebatadora e me esquecer do mundo mesquinho e desprezível lá fora, para que eu possa ficar unicamente à mercê dos teus carinhos, sem pensar em mais nada... No entanto, tu encontras todo tipo de acinte para me deixar morrer de sede em frente ao mar, e isso só faz aumentar a minha ânsia de te conquistar a qualquer custo. Dou-te a certeza de que persistirei em alcançar o meu intento de te fazer cair de amores por mim!

Ah! Agora preciso dormir, mas não sem antes terminar de beber aquele uísque que deixei pela metade para vir escrever estas ignóbeis, porém sinceras linhas.

"Eu só queria que não amanhecesse o dia/ Que não chegasse a madrugada/ Eu só queria amor/ Amor e mais nada".

terça-feira, 7 de agosto de 2007

"Tudo é tão claro em mim... Sei que é amor e será fundo como o mar".

Não é possível prever a data em que o amor baterá à nossa porta (ou entrará sem pedir licença). De repente, encontramo-nos perdidos, entregues, jogados aos leões da paixão “infinda”. Quando, enfim, percebe-se que os planos foram destruídos e que o amor foi banido de um dos corações por algum motivo de força maior, nada resta a não ser dizer: - Vai! Segue teu caminho e sê feliz! Espero que tu consigas amar alguém um dia!

Ficar triste? Claro! Somos humanos, embora não seja muito inteligente estagnar-se por conta de uma desilusão. Ajudar os outros é uma boa sugestão para esquecer o peso nos próprios ombros. “Essa já não é mais a época de se ligar na própria dor”.

Algo que não me deixa permanecer triste é minha relação de carinho e amizade com as palavras. Através delas, posso ser eu mesmo, posso personificar coisas e criar personagens, os quais, na verdade, não passam de frações da minha própria essência: o “eu racional”, o “eu sozinho”, o “eu crítico”, o “eu (in)dignado”, o “eu amante” etc. Enfim, EU, e nada mais que eu mesmo!

E sigo assim: tropeçando e me reerguendo, mas amando sempre! E, como diria Djavan, espero que o amor nunca se perca de mim, enquanto puder...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Auto-retrato.

Às vezes penso que sou um poeta atormentado, insano e equivocado. Talvez eu seja um simples “nerd” hipertenso e viciado em nicotina, devaneios poéticos e canções de amor! Porém, em mim prevalece um vício maior: ser feliz. Mas pode a felicidade ser classificada como vício? Não seria um caminho ou um estado de espírito? Decerto, todos a querem, embora poucos a consigam. Ninguém está satisfeito por completo com o que tem. Essa insatisfação nos leva a uma busca desesperada e constante de um bem irreal, o qual está muito acima de nossas limitações de pobres mortais.

É difícil lidar com a ambigüidade tão presente nesta existência, tal qual o fogo e a água no planeta. Ganha-se daqui, perde-se dali! Desconsolo e solidão não são prerrogativas apenas dos desvalidos. Sofrem de tristeza o sóbrio e o ébrio, o branco e o preto, a Rita e a Beatriz, o belo e o mal-afeiçoado, o patrício e o plebeu. A vida é inconstante como o clima equatorial, em que os raios ensolarados de uma manhã facilmente se convertem em tarde sombria e chuvosa.

Bem, mas não vou ficar aqui a escrever coisas tolas e sem nexo sobre prazeres e dissabores! Tampouco terei a pretensão de querer explicar o que não tem explicação: o amor. Meu maior defeito (ou virtude) é gostar demais das coisas da vida e amar com toda a intensidade do meu corpo e do meu espírito! Contudo, há uma simples coisa que nunca consegui fazer: conjugar o verbo auxiliar SER na primeira pessoa do presente do indicativo junto ao verbo AMAR no particípio.

domingo, 5 de agosto de 2007

Blog aberto a convidados!

É com grande satisfação que resolvo abrir espaço a contribuições de amigos, a fim de diversificar o meu blog com outros conteúdos, visões e estilos de escrita! O primeiro texto recebido - e já postado - foi o da colega Renata Gabrielle, cujo conteúdo evoca os valores de Pernambuco em diversas esferas, ressaltando suas principais referências. Boa leitura!

Uma rica mistura

A minha mãe costuma contar que por pouco eu não nasci no Rio Grande do Norte (nada contra), é um lugar lindo, mas, graças ao bom Deus, sou pernambucana. Filha desta terra multicultural e multirracial. Sou filha desta rica mistura.

Pernambuco reúne de forma harmônica uma infinidade de culturas, raças, credos e ritmos. Além de uma exuberante beleza natural, composta de um vasto litoral e um rico interior. A alegre miscelânea de estilos e ritmos é marca registrada desse Estado. Ritmos como o frevo, maracatu, caboclinho, ciranda, xote, xaxado, coco, baião e manguebeat são frutos da união entre o moderno e o tradicional. Criados a partir da genialidade de mestres como o rei do baião Luiz Gonzaga e o mangueboy Chico Science.

Pernambuco foi palco de memoráveis batalhas. O seu solo foi regado pelo sangue de bravos guerreiros e berço de grandes intelectuais. Aqui, há uma das maiores concentrações de fazedores de arte do país. Com seus entalhes de madeira, cerâmica, tapeçaria, bonecos de barro e pinturas, artesãos traduzem de diversas formas a vida do nosso povo, sofrido, porém marcado pela coragem, alegria e hospitalidade. É possível perceber no rosto de cada pernambucano a multiplicidade de raças. Vê-se neles (em nós) o negro, o índio e o branco mesclados de forma singular.

A natureza foi, realmente, generosa com esse Estado. Uniu o litoral, formado por praias de areia branca, piscinas naturais e águas mornas, ao interior, caracterizado pelo clima quente e, às vezes, úmido e frio das cidades serranas. O pernambucano convive com os encantos do litoral e o aconchego do interior.

Não posso esquecer de falar da bandeira de Pernambuco, que é a mais bela dos Estados tupiniquins. Carregada de significados, é exibida com orgulho pelos seus filhos e pelos visitantes que, à primeira vista, apaixonam-se. Não é difícil amar Pernambuco - difícil mesmo é viver longe daqui... Longe dessa região mágica que abriga homogêneos contrastes; cantada, pintada, declamada, talhada e esculpida pelas mãos de anônimos e fabulosos artistas inspirados na exuberante beleza da “terra dos altos coqueiros”.

Um texto é pouco para descrever esse pedacinho do Brasil que o desbravador espanhol Vicente Pinzón escolheu para atracar. Foi aqui que surgiu o Brasil. Foi neste solo, ricamente adubado pela criatividade, que nasceram: Gilberto Freyre, Capiba, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Nabuco, Alceu Valença, Nelson Rodrigues, Juninho Pernambucano, Geninha da Rosa Borges, José Wilker, Lula Cardoso Ayres, Manuel Bandeira, Ascêncio Ferreira, Frei Caneca, Mestre Vitalino, Lia de Itamaracá, Josué de Castro, Arlete Sales, Antônio Nóbrega, Cícero Dias, Carlos Pena Filho, Mestre Salustiano, Lampião, Patrícia Franca, Padre João Ribeiro, Brennand, Lenine, José Ermírio de Morais, Aguinaldo Silva, Rivaldo, Paulo Freire, Dominguinhos, General Abreu e Lima, Luiz Gonzaga, Barbosa Lima Sobrinho, Nando Cordel, Marco Nanini, Bezerra da Silva, Virgínia Cavendish, Geraldo Azevedo, Henrique Dias, Chico Science, J. Michilles, Padre Roma, Naná Vasconcelos. Só para citar alguns. Há tantos outros que ainda estão para nascer. Há tantos que ainda hão de brilhar...

Para entender todo o encantamento que Pernambuco causa nos filhos e nos visitantes, só vindo até aqui e conhecendo os mínimos e fascinantes detalhes dessa terra única, sedutora, apaixonante... imortal, imortal, imortal.


quinta-feira, 2 de agosto de 2007

18 anos sem o Rei do Baião.

“Sempre achei Luiz Gonzaga a maravilha máxima. Cantando e contando a verdade nordestina, Gonzaga nos mostra, com um lirismo incomum, as dores e a sensibilidade de um povo extraordinário”. (Nara Leão)


No dia 02 de agosto de 1989, falecia aquele que se tornara expressão maior da cultura nordestina de todos os tempos: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Nascido em 13 de dezembro de 1912, esse pernambucano de Exu estabeleceu definitivamente sua carreira como músico na década de 40. Tornou-se nacionalmente reconhecido a partir do lançamento, em 1947, da canção Asa Branca, parceria sua com Humberto Teixeira, e que se tornou mundialmente conhecida, quase chegando a ganhar uma regravação dos Beatles.

Luiz Gonzaga é uma figura ímpar no cenário musical brasileiro. Sua música é simples, mas de um lirismo profundo e um incomensurável alcance popular! Deixou um legado artístico-cultural que ficará resguardado para sempre na memória do povo brasileiro. O velho “Lua” era um músico extremamente inventivo – foi responsável pela introduçãoo e consolidação do gênero a que se chamou Baião. Sobre Luiz e seu legado, eis algumas palavras do ministro da cultura, Gilberto Gil:

“Dentre aqueles gêneros diretamente criados a partir da matriz folclórica, está o baião e toda a sua família. E da família do Baião, Luiz Gonzaga foi o pai. Seu nome se inscreve na galeria dos grandes inventores da música popular brasileira, como aquele que, graças a uma imaginativa e inteligente utilização de células rítmicas extraídas do pipocar dos fogos, de moléculas melódicas tiradas da cantoria lúdica ou religiosa do povo caatingueiro e, sobretudo, da alquímica associação com o talento poético e musical de alguns nativos nordestinos emigrantes como ele, veio a inventar um gênero musical. Eu, como discípulo e devoto apaixonado do grande mestre do Araripe, associo-me às eternas homenagens que a História continuada prestará ao nosso Rei do Baião”.

(Extraído do Livro “Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”, de Dominique Dreyfus).


Luiz, junto com inúmeros parceiros, numa infinidade de canções, passeou por vários estilos adjacentes ao baião, dentre eles o xote, a marchinha junina e o forró. A versatilidade do cantor pode ser percebida em músicas como Noites brasileiras (xote), Olha pro céu (marcha), Numa sala de reboco (xote) e ABC do Sertão (baião).

Além de compositor, o Rei do Baião tinha uma bela e grandiosa voz – por essa razão, ele era um grande intérprete de suas próprias canções e também dava a sua cara a composições de outros autores, fazendo-as parecer que fossem suas. Dentre canções de outros autores que ficaram eternizadas na voz do Rei, destacam-se: Boiadeiro e Cigarro de Paia, ambas de Klécius Caldas/A.Cavalcante; Súplica Cearense (Gordurinha/ Nelinho); Óia eu aqui de novo (Antonio Barros Silva); A feira de Caruaru (Onildo Almeida); Hora do adeus (Luiz Queroga/ Onildo Almeida); e a toada A triste partida (Patativa do Assaré).

Mas foi com os parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas que Luiz Gonzaga compôs seus mais importantes sucessos. Com o primeiro, ele fez músicas como Baião, Respeita Januário, Légua tirana e Qui nem jiló. Com o segundo, compôs O xote das meninas, Riacho do Navio, Vem morena, Vozes da seca, A volta da Asa Branca, Cintura fina, Forro de Mané Vito, Sabiá, A dança da moda, dentre outras.

Luiz Gonzaga soube, como ninguém, retratar com propriedade a cultura, os hábitos e as mazelas de seu povo:

Quando eu vim do Sertão, seu moço, do meu Bodocó
A maleta era um saco e o cadeado era um nó
Só trazia coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei...

(Trechos de Pau-de-Arara, parceria de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes).


Em seu cancioneiro, há inúmeras músicas que primam pelo humor, como é o caso de Capim novo (Luiz Gonzaga/ José Clementino):

Nem ovo de codorna,
Catuaba ou tiborna
Não tem jeito não
Não tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não, não, não
Esse negócio de dizer que
Droga nova
Muita gente diz que aprova
Mas a prática desmentiu
O doutor disse
Que o problema é psicológico
Não é nada fisiológico
Ele até me garantiu
Não se iluda amigo véio
Vai nessa não
Essa tal de droga nova
Nunca passa de ilusão
Certo mesmo é
Um ditado do povo:
- Pra cavalo véio
O remédio é capim novo.

Em muitas canções, o mestre expressa romantismo de uma forma simples, singela e única:

Juazeiro, Juazeiro
Me arresponda por favor
Juazeiro, velho amigo
Onde anda o meu amor
Ai, Juazeiro
Ela nunca mais voltou
Diz, Juazeiro
Onde anda o meu amor

Juazeiro, não te alembras
Quando o nosso amor nasceu
Toda tarde à tua sombra
Conversava ela e eu
Ai, Juazeiro
Como dói a minha dor
Diz, Juazeiro
Onde anda o meu amor

Juazeiro, seja franco
Ela tem um novo amor
Se não tem, por que tu choras
Solidário à minha dor
Ai, Juazeiro
Não me deixa assim roer
Ai, Juazeiro
Tô cansado de sofrer...

(Excertos de Juazeiro, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

Vai cartinha fechada
Não deixa ninguém te abrir
Aquela casa caiada
Onde mora a letra i
Existe uma cacimba
Do rio que o verão secou
Meus óio chorou tanta mágoa
Que hoje sem água
Me responde a dor
Ai, diz que o amor
Fumega no meu coração
Tal qual fogueira
Das noites de São João
Que eu sofro por viver sem ela
Tando longe dela
Só sei reclamar
Eu vivo como um passarinho
Que longe do ninho
Só pensa em voltar.

(A letra i, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. O “i” a que a música faz referência é de Iolanda, pessoa por quem Zé Dantas se apaixonou e para quem fez a letra, a qual foi musicada por Luiz Gonzaga).

Em sua vasta discografia, o velho Lua não se esquece de exprimir sua religiosidade:

Quando batem as seis horas
De joelhos sobre o chão
O sertanejo reza
A sua oração

“Ave Maria, mãe de Deus, Jesus
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz”

Nessa hora bendita e santa
Viemos suplicar à Virgem Imaculada
Os enfermos vir curar

“Ave Maria, mãe de Deus, Jesus
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz.”

(Ave Maria Sertaneja)

Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer minha oração
Vou pedir à padroeira
Numa prece verdadeira
Que proteja o meu baião

Penha, Penha
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, Venha
Trazer paz para o meu lar

Nossa Senhora da Penha
Minha voz talvez não tenha
O poder de te exaltar
Mas dê bênção, padroeira
Pra essa gente brasileira
Que quer paz pra trabalhar.


(Baião da Penha, de Guio de Moraes e David Nasser).

Na qualidade de intérprete, Luiz estava sempre atento às novidades que apareciam no cenário musical. Em 1971, gravou um LP intitulado “A música jovem de Luiz Gonzaga”, constituído de canções do pessoal da bossa e do tropicalismo, que estava em evidência. O LP continha as músicas Procissão (Gilberto Gil); Fica mal com Deus (Vandré); No dia que eu vim me embora (Caetano Veloso/ Gilberto Gil); Cirandeiro (Edu Lobo/ Capinan); Caminho de Pedra (Vinícius de Moraes), dentre outras.

Luiz Gonzaga realizou, ao longo de sua carreira, duetos com os mais diversos artistas, dentre eles, Elba Ramalho (Sanfoninha choradeira) e Gal Costa (Forró nº 01). Também gravou dois discos com Fagner, em 1984 e 1988, ambos um enorme sucesso de vendas. Cabe ressaltar suas parcerias com seu filho Gonzaguinha, como Pense n'eu e A vida do viajante, dois grandes sucessos da carreira de ambos.

O Rei do Baião manteve-se na ativa, compondo, lançando disco e fazendo show até o fim, mesmo acometido do câncer, somado à osteoporose que o debilitava fisicamente. O último disco lançado, "Vou te matar de cheiro", trazia a faixa-título (parceria de Luiz Gonzaga e João Silva) e Xote ecológico (Aguinaldo Batista/Luiz Gonzaga) como músicas de trabalho, as quais fizeram enorme sucesso, elevando as vendas do disco, também motivadas pela comoção em torno da enfermidade do rei do baião. Seu último show foi realizado em Recife-PE, no Teatro Guararapes, no dia 06 de junho de 1989. Debilitado, em cadeira de rodas, o velho Lua entrou vestido a caráter, com gibão e chapéu de couro. Apresentava perda de memória e já não se lembrava direito até mesmo de Asa Branca, seu maior sucesso. Mesmo assim, exprimia preocupação em falar, expressar sua gratidão ao povo que sempre o acolheu com bastante carinho. “Ninguém vai acabar com o forró. Não vai, porque essa é a música do povo”. Falou dos músicos que o acompanhavam, como Dominguinhos e Pinto do Acordeon. Caiu em prantos quando falou de Exu, sua terra natal. Em 21 de junho do mesmo mês, foi internado no Hospital Santa Joana, onde viria a permanecer por 42 dias na UTI. Nos momentos de dor atroz, para apaziguar a dor, Luiz trocava os gemidos por prolongados aboios que ressoavam em alto e bom som pelos corredores. Logo em seguida, desculpava-se humildemente com os outros doentes que se encontravam na UTI: - Não me levem a mal. Sinto muitas dores e gosto de aboiar quando deveria gemer.

Luiz Gonzaga encerrou sua passagem na Terra às 5h15 do dia 02 de agosto de 1989, aos 76 anos de vida, deixando um patrimônio artístico de incalculável valor que ficará eternizado na memória de sua imensa legião de admiradores, de geração a geração.


segunda-feira, 30 de julho de 2007

Silverchair de volta ao cenário musical.

A banda mais aclamada da Austrália está de volta – após um hiato de cinco anos – com o seu novo CD Young Modern, lançado no mês de março naquele país e com lançamento no continente americano previsto para o segundo semestre deste ano. O novo trabalho possui a grande responsabilidade de ter surgido depois do êxito do belíssimo Diorama, lançado em 2002, e que rendeu à banda a mais brilhante turnê de sua história, com meteórica passagem, inclusive, pelo Brasil.

O enorme sucesso do grupo se deve a Daniel Johns, vocalista, guitarrista e letrista, que está para o Silverchair assim como o saudoso Renato Russo para a Legião Urbana, no Brasil – ou seja, ele vale por 90% da banda. Genial e criativo, o vocalista de apenas 28 anos começou no Silverchair aos dezesseis, juntamente com os colegas Chris Joannou (baixo) e Ben Gillies (bateria). O disco de estréia chamava-se Frogstomp (1995), cujo carro-chefe era a canção Tomorrow. Na seqüência, veio o álbum Freak show (1997), que apresentava os sucessos Freak e Cemetery. No entanto, o ápice da banda deu-se com o lançamento do CD Neon Ballroom (1999), que trazia uma enxurrada de boas canções, como o mega-sucesso Miss you love, responsável pela projeção mundial do trio. São desse disco Emotion sickness (cujo clipe trazia imagens fortes e pungentes, chegando a ficar semanas no topo dos mais vistos da MTV), Anthem for the year 2000 e Ana’s song (que fazia menção à anorexia, doença da qual o cantor foi acometido nessa época. Ouça o trocadilho dos versos “Ana wrecks your life/ Like an anorexia life”). É desse período a tendência do Silverchair de incluir belos arranjos de cordas nas músicas, e que viria a se consolidar no trabalho seguinte, Diorama, que apresentava regências grandiloqüentes para canções como Across the night, World upon your shoulders, Tuna in the brine e Luv your life (música mais bonita do disco). Os clipes de Without you e The greatest view também fizeram bastante sucesso. A música que encerrava o CD era a mesma que abria os shows da turnê: After all these years, que pode também ser entendida como “after all diseases”, pois retrata o período saudável de Daniel Johns, o qual – além da anorexia – sofrera de asma e de um tipo raro de artrite que o deixara prostrado durante meses numa cadeira de rodas. É dessa época também a união do músico com a cantora australiana Natalie Imbruglia.

Após a turnê de Diorama, deu-se o longo período de descanso da banda, em que os integrantes dedicaram-se a projetos paralelos: Daniel Johns compôs várias novas canções e formou, juntamente com o tecladista Paul Mac, a banda The Dissociatives, que trouxe alguns elementos de música eletrônica, aliados ao rock alternativo – influência também percebida no mais recente disco do Silverchair. O baterista Ben Gillies, por outro lado, formou a banda Tambalane, em parceria com o vocalista Wesley Carr.

Em 2006, Daniel, que antes havia insinuado um possível fim do grupo, resolve se contradizer – para alegria de todos – e acaba retomando os trabalhos junto à banda, compondo e produzindo o mais novo fruto, Young modern, que mostra um Silverchair versátil, capaz de se renovar e de modificar a sonoridade a cada trabalho, sem, no entanto, perder a sua essência grunge, às vezes pop, outrora alternativa, e até meio indie rock. O álbum – mais longo que os anteriores – foi gerado num clima de grande expectativa dos fãs e contém 13 faixas meticulosamente produzidas ao longo de mais de dez meses. O primeiro single e clipe, Straight lines, já é sucesso no país de origem da banda e em várias partes do mundo, como nos Estados Unidos. A faixa comprova que Daniel Johns – com seu belo timbre agudo que vai da doçura à acidez – está cantando cada vez melhor. Reflections of a sound é a segunda música de trabalho, da qual também foi produzido um clipe. O ápice do disco é o medley Those thieving birds (Part 1) – Strange behaviour – Those thieving birds (Part 2), que remete ao álbum anterior no que diz respeito à inclusão de requintados arranjos de cordas, dando um ar clássico às canções. All across the world – música de encerramento do disco, dotada de arranjos eletrônicos e totalmente distinta de tudo que a banda já fez – em nada lembra a sonoridade do Silverchair dos primórdios e apresenta nítida influência do trabalho de Johns no The Dissociatives, seu projeto alternativo, que trouxe o sucesso Forever and a day. Destaque ainda para as faixas Young Modern Station e If you keep loosing sleep. Enfim, Young modern distancia-se enormemente de Frogstomp e Freak show (os dois primeiros álbuns), não traz um mega-sucesso em potencial como Miss you love, do CD Neon Ballroom (maior êxito do grupo) e tampouco carrega a beleza única de Diorama (o incrível disco anterior). No entanto, o mérito do novo CD é denotar o talento e a sensibilidade de Daniel Johns como músico-criador e mostrar que o Silverchair ainda é capaz de mostrar um trabalho interessante e de boa qualidade, embora tenha exagerado um pouco a dosagem das mudanças.


Young Modern
Silverchair
Lançamento: março de 2007 (Austrália)
Gênero: rock
Gravadora: Virgin

quarta-feira, 25 de julho de 2007

"(...) Aturdido, sem sentido, não sei onde vou..."

Eu poderia beijar mil bocas indiscriminadamente para tentar te apagar do pensamento - ainda assim, seria inútil o esforço, pois a simples possibilidade de beijar a tua boca já é melhor que qualquer ação concretizada com outrem... Meu bem, eu só tenho pensado em ti a todo instante - minhas horas estão divididas entre a realidade e o sonho de me perder em teus braços, ter-te por completo, ali, entregue aos meus carinhos voluptuosos... A tua mão vadia a percorrer cada centímetro de minha pele cravada de arrepios, à mercê do prazer que só a tua presença inebriante é capaz de me proporcionar... Teus olhos de mar a olharem os meus, felizes... A satisfação de te ouvir dizer, à meia-voz, que me quer e me deseja por toda vida, mais que tudo, fazendo-me, dessa forma, descobrir que o amor existe...

Um estampido abala meu coração e me faz despertar bruscamente para o mundo real, tão mais chato sem tua companhia próxima a mim... Meu amor, vê a magnitude do meu querer por ti, capaz de me fazer tolo a ponto de escrever um texto totalmente passional, talvez piegas e deveras lascivo em meu blog de variedades! Meu Deus, estou aturdido, sem sentido... Onde ficou perdida a minha sã consciência? Tens tão pouco a me oferecer! Como posso esperar tanto de ti, de mim, da vida?

Palavras, palavras, palavras... Preciso controlá-las! Não posso vomitá-las assim, sem recato!!!

Ah, fim de papo! Sou apenas um simples homem que precisa de carinho...

"Morrer de amor não é o fim, mas me acaba". (Djavan)


segunda-feira, 16 de julho de 2007

Novo show de Ana Carolina causa estardalhaço e protestos!

A cantora e compositora Ana Carolina vem causando bastante inquietação com o seu novo show, "Dois quartos", que contém o repertório do novo CD homônimo, duplo, que já vendeu 200 mil cópias, aproximadamente. Os últimos três dias de apresentação em Belo Horizonte foram marcados por severas críticas inerentes ao conteúdo lascivo e dissoluto das novas canções. Uma delas se chama "Eu comi a Madona" (assim mesmo, com um só n na grafia de Madonna, para evitar complicações na Justiça, e não deixar claro se ela se refere à maior popstar do mundo). Eis o trecho que causou perturbação no público: "Me esquenta com o vapor da boca e a fenda mela/Imprensando a minha coxa na coxa que é dela".

Outro momento polêmico do show é a exibição de um vídeo sadomasoquista de 1950, onde é exibida uma técnica milenar de amarrar o parceiro. Na canção "Nada te faltará", Ana diz: "Meninas sangrando na boca e no meio das pernas/ no meio da noite tomando cacete". Na quase infame "Cantinho", a cantora encarna a figura de um homem e solta, despudoradamente, à meia-voz: "Me levou pra um cantinho e disse: - Morde/ Quando dei por mim, pensei: - Que sorte!/ Disse: - Tudo bem, tudo é natural/ Olhou-me nos meus olhos/ Chupou meu pau".

Mesmo com todo esse excesso de verborragia erotizada, a cantora não consegue, nem de longe, provocar o furor que Madonna (a quem faz referência) causava nos anos 80 e início dos 90, com os discos "Like a Virgin", "Like a Prayer" e "Erotica", por exemplo. Apesar de ser campeã de vendas, Ana Carolina não alcança em qualidade musical a sua colega Angela Rô Rô, que surgiu no Brasil em 1979, causando discussões e polêmicas com uma avalanche de boas canções com arranjos simples, porém sofisticados, e letras confessionais, verdadeiras e muitíssimo bem elaboradas, que foram regravadas por nomes como Marina Lima, Maria Bethânia, Léo Jaime, Barão Vermelho, Emílio Santiago etc.

No fim das contas, o novo repertório de Ana Carolina - bastante inferior ao antecessor, "Estampado" - não inspira razão para tanto "bafafá" em torno do show, que apenas traz um punhado de canções com apelo excessivo e desnecessário, gosto bastante duvidoso e qualidade altamente questionável. Mas o show da cantora não se resume somente a polêmicas, há momentos em que se assemelha à turnê "Estampado", com canções românticas, como "Carvão", que está na trilha sonora da novela Paraíso Tropical. No show, ainda estão incluídos alguns de seus sucessos como "Pra rua me levar" e "É isso aí", esta última com Ana ao piano. Ela canta ainda a nova música de Marina Lima, "Três", que Adriana Calcanhotto já vem cantando em seus shows. Enfim, deve agradar aos fãs mais fiéis e despertar ao menos curiosidade nos demais. O show deve seguir para Rio de Janeiro e São Paulo, a partir do dia 19 de julho. Em agosto é a vez de Recife conferir a apresentação, no Chevrolet Hall. A cantora admite que sente prazer em ousar e afirma, "Gosto de brincar com a liberdade. Ouve quem quiser ouvir, vai ao show quem quiser ir. (...) A arte não faz sentido se não mexer no buraco do outro".

Afora isso, Ana tem se dedicado a compor músicas em parceria com outros compositores, como Jorge Vercilo, com quem fez várias canções, dentre elas: "Abismo" (gravada por Jorge no disco "Signo de Ar"); "Um edifício no meio do mundo" (gravada por Ana para o CD "Dois quartos"); "Eu que não sei quase nada do mar" (gravada por Maria Bethânia em seu mais recente CD, "Pirata"); e "Personagem" (gravada por Pedro Mariano em seu mais recente CD homônimo). Além disso, emprestou sua música "Ruas de Outono" à voz de veludo de Gal Costa, para a trilha sonora da novela Paraíso Tropical, da Globo.

Show "Dois quartos", de Ana Carolina, em Recife:
Local: Chevrolet Hall
Data: 18 de agosto de 2007
Ingressos: R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia-entrada).

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Michael Bublé lança ótimo CD!

Michael Bublé é a mais grata surpresa que o mundo da música poderia ter: voz límpida que causa deleite, carisma arrebatador, quase 12 milhões de CDs vendidos, diversos discos de platina, indicações ao Grammy e incríveis 80 semanas em 1º lugar na Billboard. O jovem e talentoso cantor canadense lança seu terceiro e mais novo CD de estúdio, intitulado Call me irresponsible, após o êxito de It's time, álbum que tornou Bublé conhecido mundialmente, devido ao mega-sucesso Home. O novo e refinado disco segue a receita dos dois anteriores: repertório sofisticado, composto de baladas, standards, clássicos do jazz e duas inéditas, Everything (primeiro single do álbum) e Lost, "uma balada triste com certo toque de esperança", como define o próprio cantor. No álbum há temas de Leonard Cohen e Eric Clapton, cujo êxito Wonderful tonight é interpretado em duo com o músico brasileiro Ivan Lins. No disco, há ainda a deliciosa releitura da canção Me and Mrs. Jones (K. Gamble, L.Huff, C.Gilbert), que está incluída na trilha sonora da novela Paraíso Tropical, da Rede Globo. Um dos melhores CDs de 2007!


Call me irresponsible
Michael Bublé
Lançamento: maio de 2007
Gênero: Jazz/ Easy listening
Gravadora: Reprise/ Wea


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Asas cortadas

Gostaria de fazer uma abordagem muito pessoal sobre a bela canção ASAS CORTADAS, a qual considero a mais interessante do CD “Livre” do Jorge Vercilo, lançado em 2003. A letra fala (nas entrelinhas) de um homem que, quando criança, queria “ganhar o céu, o infinito”, tal qual um pássaro sem medo de voar. Porém, ao crescer, ele percebe que não pode voar tão alto quanto desejara, pois o mundo – em sua vil e insistente ignorância – cortou-lhe as asas, cobrindo-o de limitações. “Eu, pássaro perdido, que ‘avoou’ sem medo quando era menino / Sério, eu chego a me lembrar e logo chega o mundo pra intimidar/ Eles gritam e conseguem me assustar (...)”. Agora, quando ousa alçar vôo, vê-se acuado pelas grades (violência moral) da sociedade e, assustado, fica com medo de cair, pois está há muito tempo convivendo com o ócio que lhe foi imposto. Ele está ocioso em relação às coisas as quais um dia sonhara fazer. O mundo tenta cingir-lhe a vida, impelindo-o à mediocridade. “ (...)Vez em quando bate um vento por aqui/ Abro as minhas asas pra tentar subir/ Mas com tanto tempo preso a essas grades, me esqueci/ E agora tenho medo de cair (...)”.


Nos versos, “Tiê, venha das alturas me salvar (...) sua liberdade me libertará”, Vercilo faz uma inteligente referência ao tiê-sangue, pássaro raro, de cor vermelha, cauda preta e uma mancha branca no bico. É encontrado próximo a capoeiras, restingas e beiras de mata do litoral brasileiro, da Paraíba a Santa Catarina. Uma peculiaridade impressionante desse pássaro o torna especial, distinto das demais espécies: sua beleza é impossível de ser apreciada em cativeiro, visto que, quando preso, ele perde a cor, assumindo um aspecto completamente pálido, alaranjado, desbotado. A beleza do tiê está na proporção de sua liberdade, ou seja, quanto mais LIVRE, mais bonito. Por isso, o tiê é tão amado e tem a sua lindeza citada, cantada, retratada e apreciada pelos poetas e artistas em geral. Não raro os compositores utilizam-se da figura de um pássaro como metáfora para expressar a liberdade (ou a falta dela). Veja o exemplo de Renato Russo, que em sua “Clarice”, nos diz: “(...) eu sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperam que eu cante como antes (...) Mas um dia eu consigo resistir e vou voar pelo caminho mais bonito”.


Nós, seres humanos, somos muito parecidos com o tiê-sangue: carecemos de liberdade para sermos pessoas felizes, realizadas. Precisamos voar bem alto em nossos sonhos, a fim de obtermos a contínua esperança de uma vida melhor, longe de dissabores, vícios, prisões ou de qualquer coisa que subtraia nossa dignidade e nosso amor próprio. Sem isso, nossa vida será desbotada e nosso riso será pálido, triste.


Confesso ter tido a sensação de estar voando ao ouvir ASAS CORTADAS pela primeira vez... No término da música, o Jorge cantando “um dia eu vou voar/ eu já vivi no ar/ vem me ver voar”, a marcação da bateria, a progressão dos acordes... O máximo! Sinto-me gratificado por conseguir reter da musicalidade do Jorge Vercilo esses elementos interessantes que somam coisas boas em minha vida!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Segredo...

"Desses olhos tenho medo/ Quer dizer tudo/ Tudo é segredo/ Vejo em sua cor/ Que tudo será triste/ Se um dia eu deixar de te ver..."

Sinceramente, não sei mais o que pensar nem o que dizer a respeito de minha humilde pessoa. Desconheço minhas atitudes e estou completamente desprovido de razões que possam, de alguma forma, justificar meu comportamento. Só tenho a certeza de uma coisa: da inquietação imensa que sinto; da vontade de gritar para o mundo inteiro o quanto eu amo! Meu Deus, até quando terei que calar as minhas palavras, meus planos, meus desejos? Por quanto tempo precisarei estancar meu sangue que ferve nas veias, que clama por amor?


Fui pego de surpresa! De repente, eu me vi assim: totalmente embevecido com a tua lindeza, com o brilho estonteante dos teus belos olhos de mar, com o timbre embriagante de tua voz deliciosa que me provoca arrepios de desejo... Que vontade de te abraçar! O que é isso? Será doença? Destino? Não sei, não sei... Apenas sinto...


No entanto, digo-te que não te preocupes, Amor, pois te amar é como olhar a lua inacessível. É melhor eu não saber se tu poderias gostar de mim algum dia... Prefiro as feridas da solidão à dor da tua indiferença. Não te quero perder de vista por nada neste mundo! Deixa do jeito que está... Serei feliz enquanto estiver a contemplar a essência da tua beleza de forma imaculada, impoluta, genuína...

Guarda contigo o meu beijo mais apaixonado e a certeza do meu afeto indelével...

"Há sempre algo de ausente que me atormenta." (Camille Claudel)