sábado, 27 de outubro de 2007

Pós-modernidade: o tempo acelerado e a imagem que se assume descartável antes da maturação


Em outubro de 1992, Madonna lançava uma cartilha definitiva da sexualidade pós-moderna: o disco "Erotica", o filme "Corpo em Evidência" e o livro-fantasia de conotações pornô "Sex" diziam ao mundo que os padrões da sociedade tradicional - que estabeleciam o papel da mulher como mãe, educadora e dona-de-casa, enquanto ao homem cabia o de pai, chefe de família, responsável pelo sustento da casa - já não existiam.

Como resultado do movimento feminista dos anos 60, saindo de uma era conservadora Madonna apareceu com suas roupas e atitudes, reformulando o papel revolucionário da mulher, ajudando a construir uma nova identidade a partir da moda, da sexualidade e da atitude diante de relações de poder. "Madonna brinca, de forma direta com os papéis sexuais, usa roupas masculinas, ocupa posições masculinas, propondo a quebra de estereótipos convencionais, como na turnê 'Blondie Ambition' em que seus bailarinos aparecem com seios e suas bailarinas, com pênis", explica a antropóloga Karlla Souza.

A cantora norte-americana nos apresenta um conjunto de contradições. Na elaboração de alguns clipes e na apresentação de algumas turnês, principalmente em 'Erotica', ela explora a imagem sexual e se apresenta como uma mulher dominadora, mostrando a liberdade feminina como algo natural e sadio, ironiza códigos sexuais e brinca com gestos obscenos. Em outras épocas passa a imagem da mulher romântica, passiva e sofredora. "Madonna choca quando surge de terno e segurando a virilha, realçando a artificialidade da imagem de poder do estereótipo masculino. Ao mesmo tempo, ela apresenta o papel das mulheres coisificadas, dessa feita enquanto instrumento sexual, avaliadas segundo a aparência, o glamour e a jovialidade", diz Karlla Souza.

Senhora ou profana, burguesa ou espiritualizada, Madonna invade os lares e as mentes do mundo inteiro através da cultura da mídia e do consumo. "Como resultado da sofisticação que os meios de comunicação de massa foram tomando, ela vem constituindo nos nossos dias a principal forma de socialização. Os produtos veiculados pela mídia não podem ser considerados apenas como entretenimento inocente, mas, por terem um cunho socializador e por situarem-se num terreno de lutas e representações dos atores sociais. O estudo da cultura da mídia permite, então, que se amplie, para além da crítica ideológica, a crítica para questões da identidade e da sexualidade e consumo" avalia Karlla.

O resumo da história é que hoje as mulheres passaram de donas-de-casa a donas de si. Mas, baseado na noção de pós-modernidade, a identidade das mulheres aderiu à bricolagem de elementos. A idéia predominante do indivíduo é formar imagens agradáveis de si mesmo. "Num verdadeiro processo de experimentação, tais imagens nunca existem em definitivo, mas estão em constante reformulação, em reaproveitamentos ou combinações de elementos diversos", conta a antropóloga.

A bricolagem é um fenômeno presente nas artes, na música, na informação. "O que vemos despontar no cenário regional e nacional através das bandas de forró elétrico por exemplo, utilizando letras românticas e danças sensuais pode ser um exemplo do que acabamos de definir como sendo uma bricolagem. Misturando elementos das canções e das performances de Madonna, associando isso ao ritmo quente e fogoso do forró, o estilo vem ganhando espaço através da indústria midiática e do comércio de símbolos sexuais. As mulheres exibindo seus corpos seminus chegam a lembrar Madonna feliz e dançante do início de sua carreira, porém, recuperando o arquétipo da mulher-objeto, e não daquela que aposta no futuro e na sua vontade de se expressar", define Karlla Souza.

Portanto, entendo que a imagem da mulher pós-moderna no palco vale para todas que, aliás, provavelmente, sequer sabem por que posam tão sensuais para capas de discos, ou porque rebolam para além do som. "A maldição da mídia é que ela tem que acompanhar a aceleração da pós-modernidade. Seus produtos não têm um tempo necessário de maturação. Tudo acaba sendo impiedosamente atropelado, e nesse frenesi sobram alguns restos e muitas reaproveitações. As coisas não evoluem, elas se complicam, e antes mesmo que se resolvam, são simplificadas em um número infinito de releituras e reapropriações grosseiras, de figurinos, imagens e som. O imperativo do comércio midiático tornou a novidade obsoleta e, antes mesmo que Madonna pudesse se tornar antiga, outras novidades tiveram de ser lançadas", explica Karlla Souza.

Por isso, o que parece ser é que a mulher decidida já não serve, a super-fêmea também já está fora de moda. "Erótica", por um lado, é uma obra musicalmente excelente, reveladora e pontua a virada de conceitos e liberdades, ou libertinagens. Por outro, 15 anos depois do estardalhaço, a efemeridade do nosso tempo levou a imagem ou a mulher a se adequar aos desígnios do novo mercado: é preciso assumir-se descartável para sobreviver.


"Erotica" e a quebra de tabus

O grande mérito do álbum "Erotica" - lançado em outubro de 1992 - foi ter dado um duro golpe na ignorância e hipocrisia predominantes na sociedade, ao promover a liberdade sexual numa época marcada pelo medo do "monstro" da AIDS. O perturbador e controverso álbum, no entanto, não se resume apenas a sexo, mas também apresenta algumas canções que falam sobre desentendimentos, incertezas, traições, tolerância e amor. Dentre os singles do disco, além da faixa-título, estão as canções "Fever", "Bad Girl", "Rain", "Deeper and Deeper" e "Bye Bye Baby". O álbum vendeu aproximadamente 7 milhões de cópias em todo o mundo e figura entre os melhores da carreira de Madonna.

Entrevista

Nila Araújo, nascida em 1978 em Campina Grande, na Paraíba, não queimou sutiã ou mesmo saiu às ruas erguendo bandeirolas de nenhum movimento reivindicatório. Em 1999, ela jogou para o alto tudo que fazia e decidiu apostar num sonho. Oito anos depois da façanha, começa a colher as notas plantadas de um trabalho antes dominado pelos homens, especialmente no Nordeste. Como um fruto 'de vez', mas devorado na Paraíba, a agora DJ Hunter (referência à cantora Björk e a postura adotada por ela na hora de caçar o melhor som) não esconde o desejo de devorar as discotecas do Rio Grande do Norte, onde têm forte relação com a paisagem da capital.

Williams Vicente - Como foi que você chegou até a música?
DJ Hunter - Freqüentando a noite, as baladas, me identifiquei com a música eletrônica. Passei a ser baladeira e daí por diante tomei gosto por tentar fazer aquilo que eu achava que faltava nos dominadores das pistas. Mas antes eu já curtia os primórdios, como Depeche Mode, Information Society, Erasure, kraftwerk... então antes de me tornar baladeira, já curtia os primeiros sons eletrônicos. Sempre prestei atenção no que faltava devido a cultura da cidade (Campina Grande) estar muito ligada ao rock e a música alternativa. Digamos que a música eletrônica no seu boom (DJ's) chegou fazendo parte dessa cultura trazida primeiramente pelo gueto GLS, posteriormente aderida por outros guetos e atualmente por todos os grupos sociais na cidade.

WV - O que você fazia antes disso?
DH- Trabalhava em locadoras de vídeo, pois também sou cinéfila, ou seja, procuro fazer o que gosto (risos).

WV- Então quer dizer que o universo GLS é uma fonte inesgotável de lançamentos de tendências?
DH- Sem dúvidas, pois eles têm toda uma cultura envolvida com a música eletrônica. Quando você fala em boate, ou vai a uma cidade que tem boate, ou você encontra uma boate GLS ou muitos deles nas baladas. Porém, eles têm seu próprio estilo e conhecem aquilo que gostam e que consomem. Cultura no nosso meio é fundamental, você tem que saber o que está consumindo, como curtir, e saber sobre MPB, bossa nova, o mesmo se dá na musica eletrônica.

WV - Isso quer dizer que o universo GLS é mais antenado e tem gosto melhor pela música?
DH - Não, isso não quer dizer que eles tenham gosto melhor, absolutamente. Apenas que sabem sobre aquilo que estão ouvindo, diferentemente da cultura de massa que não identifica os estilos, as vertentes. Mas também acontece o preconceito, pois, tanto eles não aceitam dentro do gueto outros estilos que não sejam o deles, como também se você tocar a vertente deles em outro ambiente, logo irão identificar que se trata de uma música mais 'alegre' (risos).

WV - Por que há essa separação, a música eletrônica não é essencialmente de massa?
DH - Falei demais? (risos). Não, ela se encontra na massa, mas os estilos, as vertentes tendem a separar os grupos sociais, como vemos nos grupos que consomem outros estilos, como exemplo: quem curte pagode tá lá na mesa de bar ouvindo, quem curte MPB tá no barzinho, rock tá no show, e na música eletrônica, mesmo que você tenha um DJ em qualquer desses lugares, ele tem que se adaptar ao público. Por exemplo: se o Dj vai tocar pra um grupo que consome o padoge, ele tem que agradá-lo chegando o mais próximo possível da realidade deles, tocando funk por exemplo. Se for tocar pra galera roqueira, tem que tocar batida quebrada, com big beat, breakbeat, drum n'bass, hip hop.

WV - Mas, qual é seu estilo?
DH - Breakbeat e big beat, mas às vezes sou chamada pra tocar em boites, aí faço o diferencial, atualmente com electro.OM - E isso não te incomoda? Ter que tocar de tudo e não apenas a vertente que você escolheu trabalhar?DH - Mas eu não toco de tudo, apenas comentei sobre como a música eletrônica chega aos diversos grupos. Eu apenas trabalho dois tipos de grupos, o GLBTS e o alternativo. Portanto, toco o que gosto. Tenho mais afinidade com a batida quebrada, com a qual posso criar e me dar a possibilidade de interagir melhor tocando ao vivo.

WV - Então, um Dj não é mero executor de música...
DH - Jamais ele pode ser. A ponto de levar a música eletrônica de alguma forma pra quem não tem acesso até está valendo, mas para aqueles que já fazem parte dessa cultura a coisa muda de configuração. Hoje em dia o DJ tem que produzir suas próprias músicas e não apenas executar músicas de outros produtores. Por isso, depende da cultura. DJ chegar numa cidade pequena fazendo scratch, neguinho não vai entender nada.

WV - Você deve ter encontrado muitas dificuldades para vencer nessa área, não? Por ser mulher talvez?
DH - Sim, no início. Mas hoje em dia isso é até motivo de valorização por não ser muito comum. No princípio passei alguns preconceitos e dificuldades. Os Dj's não se conformavam de participar de uma festa comigo e no final das contas eu ter sido a melhor da noite, por exemplo. Como pode, uma mulher? Voltando um pouco atrás, vejo essa divisão como arte ou entretenimento.

WV- Discotecagem é arte?
DH - O Dj que executa é entretenimento, o que se preocupa em fazer o diferencial é arte, depende. Porque ser Dj é discotecar.

WV - Dj dos anos 90 pra cá, quando a música eletrônica chegou às massas, virou moda, passou a ser cultuado como ídolo. Você se importa com o espaço que a profissão ganhou graças ao modismo, ao empurrão que a mídia deu? Vejamos: The Chemical Brothers, Moby, Fatboy, sem esses precursores da cultura pop o Dj não seria requisitado como o é hoje.
DH - Claro que não me importo até porque esses são profissionais mesmo, produzem cada um na sua configuração, não são Dj's que tocam apenas set´s mixados de outros produtores. Claro que não desvalorizo, pois é necessário que hajam os tocadores de set, mas o cara não pode parar por aí. Os Dj's devem ter como referência esses precursores pra compreender melhor o universo e ter a ambição de crescer e produzir, pra acabar com esse mito de que Dj não é músico.

WV - Isso quer dizer que você é uma artista?
DH - Me considero, pois além de produzir, procuro inovar quando estou tocando, interagindo com a música, construindo efeitos, não apenas executando. Também interajo com músicos, o que me traz o diferencial.

WV - São Jam's com bandas?
DH - Faço sim, já toquei com Chico Correia, Baixinho do Pandeiro, Etnia Sound, são músicos pernambucanos e paraibanos.

WV - E o RN? Eu sei que você costuma trabalhar por Natal, o que rola por lá?
DH - Cultura norte-americana. O que os EUA estiverem consumindo chega por lá. No caso, ainda atualmente a vertente mais forte por lá é o electro. A diversidade é interessante, mas ainda deixa a desejar no sentido produção musical e live P.A (entenda-se fazer discotecagem ao vivo).

WV - Mas baseada em que você diz isso? Você conhece a cena rave de lá?
DH - Em Natal, participo mais das festas dadas em boites. O único ambiente livre que toquei foi no MADA, mas a raves não, pois de uns dois anos pra cá o Psy Trance roubou esta cena, o que deixa os DJ's por fora. Não considero Dj de Psy um DJ, é um executor.

WV - E Mossoró, já ouviu falar?
DH - Bastante. Já recebi convites pra tocar aí, mas quando soube da distância, cabritei (risos). Como eu estava muito cheia de trabalho, deixei pra próxima. Um de meus alunos já tocou na cidade e me falou que o público é bem divertido, que não esperava pela agitação que foi. Achava que só na capital era assim.

WV - Voce é professora?
DH - Também. Me importo com a educação dos novos profissionais na área.

WV - Você promove cursos de DJ no caso...
DH - O próximo módulo inclusive será em João Pessoa. Quem sabe um dia em Mossoró.

WV - O que é a música eletrônica afinal?
DH - Música feita a partir de equipamentos eletrônicos sem a necessidade de tocá-los como instrumentos, mas de construir música a partir de sons que são construídos em softwares ou processadores de efeitos. Tem tudo, segue-se compasso, ritmo, harmonia, melodia, isso vai depender do profissional que a constrói. Espírito, o espírito do pós-modernismo, todos os ruídos que temos que ouvir hoje em dia pelas máquinas e usinas podem ser transformados em música. Como diz Björk, tudo é música.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Em tudo que é belo.

Prezados vercilianos, enquanto o disco novo - previsto para novembro deste ano - não sai, ouçam atenciosamente "Em tudo que é belo", um dos melhores trabalhos de Jorge Vercilo. Sobre o referido disco, escrevi isto há cinco anos:

INDICAÇÃO: CD EM TUDO QUE É BELO – Artista: JORGE VERCILO - Gravadora: Warner Continental – 1996

O segundo trabalho do cantor e compositor carioca - que, inclusive, rendeu-lhe uma indicação ao prêmio Sharp em 1997 - possui uma diversidade sonora e rítmica vista em poucos discos de MPB. É, sem dúvida, o mais eclético álbum de Jorge Vercilo e o que melhor demonstra sua versatilidade como cantor e músico-criador. Recheado de belos arranjos, o disco recebe uma nítida influência black (soul, funk, charm). Faixas como Mão do destino e Eu só quero dançar lembram a maneira de cantar do Michael Jackson e do Stevie Wonder. Fácil de entender revela a veia reggae do artista. Infinito amor e Raios da manhã dão um requinte especial ao disco, com doces cordas e um Jorge Vercilo pra lá de romântico. Oração Yoshua é a mais hermética do CD: constitui-se num mantra cantado em falsete e nos proporciona uma grande demonstração da técnica, modulação e amplitude vocal do cantor. O disco ainda contém o afoxé Fenômenos da natureza, cuja poética letra associa os sentimentos pela pessoa amada aos agentes e fatores da água, do ar, da terra e do céu. Himalaia tem influência ibérica no ritmo e nos arranjos; nela, Vercilo nos leva, com toda sua alquimia, a viajar de Sarajevo a Pequim e a voar sobre cordilheiras, sentindo a leveza do nosso ser. Na faixa-título, Jorge nos traz uma mensagem de esperança, tal qual Roberto Carlos cantando Paz na terra e Pensamentos (guardadas as devidas proporções, é claro!). Enfim, é o Jorge Vercilo compositor em seu estado mais puro, recebendo energia e inspiração de todas as correntes musicais e encantando com seu lirismo peculiar, inconfundível e indelével. Álbum indispensável em qualquer discoteca básica de MPB/POP.

Freddy Simões
(Outubro/2002).

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Michael Jackson novamente em apuros!


O eterno "Rei do Pop" se meteu mais uma vez em encrenca: está sendo processado em US$ 7 milhões mais danos por quebra de contrato pelo príncipe Abdulla El-Khalifa, de Bahrain, uma ilha a oeste da Arábia Saudita.

A história começou da seguinte maneira: dias após sua absolvição das acusações de abuso contra menor de idade, em meados de 2005, Michael mudou-se para a referida ilha e passou a ter todas as suas despesas custeadas por Abdulla - o que incluiu custos com advogados em inúmeros processos por dívidas -, uma conta na casa dos milhões de dólares. Em troca de todas as benesses, Jackson assinou um contrato em abril de 2006, no qual se comprometia a lançar dois álbuns, produzir um musical e escrever uma autobiografia para o príncipe, que por seu lado criou a 2seas Records, construiu um estúdio de altíssima qualidade e desembolsou US$ 7 milhões de adiantamento.

No entanto, Michael fez o que faria todo legítimo popstar em apuros: utilizou-se da desculpa de que iria se apresentar no MTV Japan Awards em maio de 2006, saiu de Bahrain e nunca mais botou os pés lá novamente. De acordo com o reportado pela Fox News, o príncipe afirma ter recebido apenas duas notas de assistentes do cantor afirmando que ele não cumpriria suas obrigações contratuais, e nada mais a acrescentar. Dessa forma, Abdulla entrou na justiça da Inglaterra e dos EUA em busca de indenização.

Na contramão de toda essa confusão, Michael Jackson lançará no início de 2008 uma versão comemorativa dos 25 anos de Thriller, seu mais fantástico álbum, que figura no Guinness Book como o disco mais vendido da história da música - até 2006, tinha sido adquirido por mais de 104 milhões de pessoas no mundo. A reedição virá com sobras de estúdio e alguns remixes, o que deverá alavancar ainda mais as vendas do álbum.

domingo, 21 de outubro de 2007

Bordoada na indústria e a nova relação de consumo da música


http://www.inrainbows.com/ - esse é o mais novo endereço para trilhar o caminho da felicidade, pelo menos para os fãs da boa música, ou do rock. Trata-se do site oficial do Radiohead, umas das maiores bandas surgidas dos anos 90 para cá, que acaba de promover um estardalhaço na indústria da música. Desde 10 de outubro, a banda disponibilizou seu mais novo álbum "Inrainbows" para download ao preço que o consumidor quiser (que pode ser nada inclusive).A partir daí, a banda define um caminho que nos tempos de Internet já vem sendo trilhado, embora muitas vezes pela pirataria.


Baixar música de graça na rede não é novidade, e vez por outra, artistas disponibilizam singles gratuitamente e as gravadoras também já contabilizam as vendas a partir de número de downloads vendidos. A novidade é que dessa vez "Inrainbows" não ‘vazou’, nem há ninguém consumindo a obra de forma irregular. Preenchendo o cadastro no site, o internauta escolhe quanto pagar pelo disco. Isso acontece depois que a banda cumpriu seu contrato com a gravadora Capitol após o lançamento de "Hail to the thief", em 2003. O Radiohead está livre para vender seu novo álbum como bem entender.


Lobão, em 1999, também disse não às gravadoras e colocou “A Vida é Doce” à venda em bancas de revista. O cantor Prince, que já se arrisca em incursões digitais há algum tempo, encartou seu último álbum, "Planet Earth", na edição dominical do jornal "Daily Mail" em julho passado e vendeu 2,8 milhões de cópias distribuídas em um dia.


Percebendo que não poderá mais ficar em casa ouvindo o tilintar das moedas pingarem em sua conta com a venda de discos, a cantora Madonna assinou na terça-feira passada (16) um contrato com a Live Nation, empresa que organiza shows e turnês, para o gerenciamento total de sua carreira musical. Pelo acordo, especulado em 120 milhões de dólares, a rainha do pop deixou a Warner depois de 25 anos de contrato. Em comunicado oficial, ela diz "O paradigma nos negócios da música mudou, preciso acompanhar essa mudança. Pela primeira vez em minha carreira, a maneira como minha música pode chegar aos meus fãs está ilimitada. Quem sabe como meus álbuns serão distribuídos no futuro?". O Radiohead sabe.


O contrato inclui todas as canções e produtos musicais lançados por Madonna, de 49 anos, no futuro, incluindo a exploração comercial da marca da cantora, seus novos discos, suas turnês, merchandising, fã-clubes, websites, DVDs, programas de TV, filmes e projetos patrocinados. Isso não deixa de ser um sinal de que a proposta do Radiohead vem para fazer as gravadoras repensarem a maneira de explorar os artistas e os consumidores, além de humanizar o showbusiness: shows serão mais lucrativos do que a venda dos discos.


Há pouco mais de 25 anos, a Philips (em parceria com a Sony) lançava no mercado o compact disc digital áudio, invenção tecnológica que viria a revolucionar de forma definitiva a produção e a distribuição de música. O primeiro CD lançado foi o célebre "The Visitors", do Abba, famoso por ser também o último da bem-sucedida carreira do grupo sueco. Finalmente, oito anos depois de a música sair do disco para ganhar o espaço dos tocadores de MP3, algo começa a acontecer na relação entre ouvintes e artistas. Quem sabe aqui a pirataria visitará o limbo e os artistas independentes terão mais espaço para trabalhar. Previsões ainda são arriscadas porque a indústria não apresentou suas armas e ainda é cedo para saber se o consumidor aprenderá a respeitar o direito autoral, embora tenha a partir de "Inrainbows" a opção de até não pagar pela obra. Fato é que para registro, e como no caso de "Inrainbows" a oferta é em Euro, paguei nada pelo álbum que não tem preço.


A SAGA DA MELANCOLIA

Scratch na abertura, rock sincopadíssimo, pancada e melodia casadas com pirações eletrônicas... bem-vindos à primeira música "15 Step" que dá o tom do vigor do rock que a banda resgata. "One by one, come to us all", um por um, venham todos a nós, diz Thom Yorke na faixa arrebatadora que introduz o álbum "Inrainbows", o sétimo da carreira do Radiohead, banda famosa por hits como "Creep", "Paranoid android" e "Karma police", disponível apenas para download em www.inrainbows.com. É dos melhores, aliás. O estado etéreo do tempo que o Radiohead já havia provocado em "Idioteque" e, em certa medida, em "Everything in Its Right Place" (ambas de "Kid A") está de volta, porém mais rock 'n'roll do que nunca. Portanto, vá até eles.



Não se engane com a preferência pela melancolia de Tom York, o vocalista. Não se trata de um álbum de baladas. É rock revestido de Trip Hop até o fim, fruto de uma mente genial que não cansa de aguçar nosso espírito para despertá-lo da banalidade da dor. O Radiohead resolveu não apenas dar um tapa na indústria, mas nos ouvidos de quem há tempos não se lembrava o que era rock. "Bodysnatchers" tem guitarras que lembram o U2. Mais distorções e sonoridade suspensa em "Nude", bela melodia que transforma a melancolia em estado de prazer é a síntese do espírito da banda. Aqui você inflamará toda dor, ou toda dor-de-cotovelo que houver.


Batidas quebradas para triturar um coração adormecido em “Weird Fishes/Arpeggi”. A doçura segue com "All I Need" (que diz "você é tudo o que preciso") que desemboca nas cordas infinitas de "Faust Arp". A banda volta a atacar em "Reckoner", uma balada também arranjada com maneirismos vocais e sonoros que muito lembram o U2 novamente, até retornar a assombrar as almas com a sonoridade de "House of cards". Quando você pensar que está perto do fim, a linha de baixo de "Jigsaw falling into place" promoverá o recomeço de um novo orgasmo. Descanse com “Videotape”, a última, e começe tudo de novo.



Por isso e por mais, "Inrainbows" é a maneira mais eficaz de celebrar os dez anos do estupefaciente disco "OK Computer" e de pensarmos se ainda é apropriado chamar os álbuns de discos. Pelo menos por enquanto sim. Fãs também podem encomendar caixas contendo o novo álbum em CD e vinil, um segundo CD com faixas extras, artes e fotos, encarte com letras, além de um download (o pacote sairá antes de 3 de dezembro). A caixa custará 40 libras (aproximadamente R$ 160,00).



O QUE OS ARTISTAS PENSAM DO DISCO QUE NÃO TEM PREÇO

"Inicialmente imagino que eles estão fazendo uma provocação à subjetividade humana. Acredito que uma determinação dessa natureza no mundo eminentemente capitalista com certeza surpreenderá a uma indústria cultural que visa só e somente ao lucro, deixando a consciência planetária perplexa e, sobretudo, deixando a indústria sem o preparo necessário para ingressar no universo de solidariedade aos que constroem a arte com talento e muita dificuldade", Genildo Costa, cantor mossoroense.


"O que diabo é Radiohead? É banda de rock internacional? Ainda estou ouvindo os Beatles e no rock nacional Raul, Mutantes e Rita Lee. Sobre a questão da venda, de longe vou observar o mercado para depois avaliar. A princípio é estranho. Dizem que em alguns países avançados, bota-se gasolina sem o frentista e a turma não dá calote. No Brasil, quebraria os donos de postos. Acho que se praticássemos um preço justo no disco, em torno de R$ 20,00, evitariamos a pirataria", Zé Dias, produtor cultural.


"Este negócio de Internet está deixando doido a questão dos direitos autorais. Baixar música e não pagar por ela é estranho. Baixar e deixar por conta do consumidor o direito de estipular o valor, a princípio é democrático demais para uma sociedade consumista e de poucos valores éticos. É no mínimo estranho e vou pagar para ver", Khrystal, cantora.


“Não acho que é a morte do CD, assim como o livro que ainda não acabou. É o futuro mesmo. Sou desconhecida, mas estou vendo uma forma de me inserir nisso. Em muitas circustâncias não vale a pena disponibilizar tudo, mas para uma banda como eles é fantástico. O caminho para acabar com a pirataria é esse. O que as pessoas vão piratear se tem como baixar? Esse negócio de pagar o que você quiser vai levar as pessoa a ter consciência”, Simona Talma, cantora.

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Para votar na enquete "O Radiohead assassinou o CD?", acesse:


Louco por você...

Nos últimos dias, tem sido difícil carregar o peso de tanta aflição em meu peito... Tamanho tormento precisa acabar, e já! Gastei toda minha retórica em profusões de metáforas e diversas outras construções eruditas do vernáculo, mas agora quero simplificar com veemência as coisas: sou louco por você!

Pronto, está dito! Simples como fogo! E não pense que eu perdi o tino por causa de tal atitude libertária! Saiba: não é nada fácil confessar-se dessa forma, mas há situações-limite em que não dá mais para ficar afogado num mar de angústias e temores, preocupando-se exacerbadamente com a possível reação negativa de outrem.

A sua aparição em minha vida me fez adentrar o meu "eu" desconhecido e colocou em xeque muitos de meus valores e princípios até então estabelecidos como via de regra, e que vieram a se tornar totalmente obsoletos com o tempo! Gosto de você mesmo, e não me importa o que pense ou fale!

Sem mais delongas, é melhor que fique tudo às claras mesmo! Assim eu me sinto mais verdadeiro, mais leve! Afinal de contas, apaixonar-se não é crime!

"Toda razão perde o seu fim se um coração for o juiz". (Djavan)

Obs.: queridos leitores, o nome do blog ainda é "Café Cultural", e não "Café Confessional", cabe ressaltar!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Nobody lives without a love!

I'd like to dedicate these words to my sweet love:
Now I'm here... by myself... I'm waiting for you but I know that you won't come back to me at this moment. Please my love, tell me what must I do without seeing you! Since you went away, nothing else matters to me. I can't forget you. Everybody says that a great love only may be forgotten when a new love appears. I can not forget you because my heart says to me that I'll not love anybody as I loved you.

However I know (maybe) one day you'll come back to me because another love like mine you'll never find around the world. Nobody lives without falling in love. Nobody lives without a love!

Inspired on a Brazilian song named "Ninguém vive sem amor", composed by Almir Bezerra and performed by The Fevers.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Até a vitória, sempre!

CHE: ícone que virou souvenir na mão do capitalismo

Ernesto Guevara de La Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, na Argentina, onde, aos dois anos de idade, teve sua primeira crise de asma, doença que o acompanhou pelo resto da vida. De família de classe média, Che, como ficou conhecido, pretendia estudar engenharia, mas aconselhado pela avó, partiu para a medicina. Em 1952, resolveu fazer uma viagem de motocicleta pela América Latina com o amigo Alberto Gramado (história retratada em filme de Walter Salles “Diários de Motocicleta”) e quando viu a pobreza pelo continente, decidiu que terminaria os estudos e assumiria sua alma política com o sonho de fazer justiça e acabar com as desigualdades sociais.
O primeiro casamento de Che foi com a peruana Hilda Gadea, com quem teve uma filha, Hildita. Em 1955, após viajar para a Bolívia e para Guatemala (a dependência que a América Latina tinha com relação aos Estados Unidos foi o motivo do fim de seu primeiro projeto político na Guatemala, quando a Casa Branca apoiou a derrocada do presidente Jacobo Arbenz), foi ao México onde conheceu Fidel Castro e se uniu a ele - primeiro como médico e mais tarde como comandante - em sua expedição armada para expulsar do poder o presidente cubano Fulgencio Batista (apoiado pelo Estados Unidos), em uma coluna guerrilheira que, a partir do leste da ilha, tomou Santa Clara (centro) e em 1º de janeiro de 1959 promoveu o triunfo da revolução. Depois do feito, Che adotou a nacionalidade cubana. Na ilha, conheceu Aleida March de la Torre, com quem teve Aleidita, Celia, Camilo e Ernesto.
De guerrilheiro para membro de governo houve poucos atritos com sua ideologia - próxima ao marxismo-leninismo radical, mas heterodoxa que seria chamada de "guevarismo" -, e, após desempenhar cargos como o de presidente do Banco de Cuba e o de ministro da Indústria, deixou a ilha em 1965. Na viagens que realizou, Che esteve no Brasil em abril de 1961, quando foi recebido e condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul pelo então presidente Jânio Quadros.
Che deixou o governo para sair novamente pelo mundo propagando seus ideais de revolução, até que em 8 de outubro de 1967 foi capturado e executado no dia seguinte por soldados bolivianos na aldeia de La Higuera, aos 39 anos. O corpo só foi encontrado em 1997 e hoje está enterrado num mausoléu, na cidade de Santa Clara, em Cuba. Curiosamente, o homem que estava por trás do fuzil que matou o guerrilheiro, Mario Terán, recuperou a visão graças a cirurgiões cubanos, após uma operação de catarata. Nos 40 anos da morte de Che, a sua cidade natal - a argentina Rosário - prepara um calendário para comemorar, em 2008, os 80 anos do nascimento do guerrilheiro, ocorrido em 14 de junho. Já os exilados do regime castrista criticam uma figura que defendeu a extinção do imperialismo e a conseqüente recuperação dos países subdesenvolvidos.

Somente a luta armada e a revolução podem melhorar a vida dos pobres: são necessários "lares" de guerrilha para conduzir a um levante geral; o Terceiro Mundo é explorado por dois blocos: capitalista e comunista; a salvação é uma revolução que alia guerrilha, camponeses e reforma agrária; a revolução, assim como o advento de um "homem novo", procura recompensas morais e não materiais; a América Latina é uma só civilização, mestiça, com fronteiras artificiais, que têm que ser derrubadas; a revolução e a luta total contra o imperialismo devem ser mundiais.
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CONTRAPONTOS
Os historiadores e demais estudiosos se dividem quanto a representação de Che para a sociedade hodierna. Para o historiador e presidente do PC do B de Mossoró, Antônio Capistrano, Guevara "é o maior ícone revolucionário da América Latina e um dos maiores do mundo. A maior contribuição que ele deixou foi dedicar a sua vida a uma causa, um internacionalista. Um homem cuja pátria era o universo. Ele era argentino, mas não deixa de ser um herói do mundo. Ele era também um homem de idéias, deixou um legado cultural muito grande. Pensou uma sociedade justa, onde todo mundo teria direito", diz, rebatendo as críticas de veículos como a revista Veja, que publicou esta semana uma ode de desprezo ao guevarismo.
Capistrano diz: "Quem é exilado já está dizendo, fugiu. Nem Jesus é unanimidade. Cuba também tem seus opositores. O que a Veja fez, vem fazendo com os ícones do comunismo de todo mundo. O que é financiado pelas organizações norte-americanas não é de interesse que essas personalidades sejam bem-vistas", completa. Capistrano acredita ainda que o exemplo de Che inspire as ideologias políticas de hoje. "Acho que o exemplo dele de abnegação particular para interesse coletivo vale como exemplo. O cara que deixa de ser ministro e se mete na África, Ásia, nas selvas para fazer guerrilha, isso mostra exatamente a força da idéia e o caráter humanitário da figura de Che. Esse exemplo que faz com que os partidos comunistas, marxistas, sigam seu caminho. A luta armada tem sentido em momentos - o contexto é que determina isso. Mesmo existindo o predomínio do capital, da grande mídia, acho que hoje há o caminho para o diálogo", finaliza.
Por outro lado, o historiador Tomislav Femenick não poupa críticas ao universo guevarista. "Ele era um sonhador e como sonhador acabou se transformando num aventureiro a ponto de perder a ternura. Ele era tão aventureiro que incomodou o governo cubano. Ele foi um desastre dentro do governo cubano. No Brasil, de certo modo, Che contribuiu para a renúncia de Jânio Quadros quando foi condecorado. Existe muito mito em torno dele. Ele não tinha compromisso com a realidade, só com o sonho". Femenick não percebe influências das idéias de Che para a política local: "Não há influência na política local hoje. Ninguém pensa como Guevara, nem o toma como modelo. Ele foi aventureiro e não um pensador", mas pondera ao admitir que "não resta dúvida que ele contribuiu para humanizar o capitalismo, mas foi uma contribuição involuntária para quebrar a visão americana de que somos o quintal deles".

SOUVENIR

Che Guevara se tornou símbolo de rebelião e revolução. Seu status de ícone popular continua difundido pelo mundo, misturando política e arte. Na política, na América Latina vários políticos citam a luta de Che. Na Nicarágua, os sandinistas guevaristas foram reeleitos em 2006, após serem afastados do poder por 16 anos. O presidente boliviano, Evo Morales, sempre faz homenagens a Che. Na Venezuela, Chavez é conhecido por fazer discursos usando camisas com foto de Guevara. Che inspira ainda as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército Zapatista da Libertação Nacional, no México. Em Cuba, o regime de Fidel une o sistema soviético ao culto à personalidade de Che. Nas artes, em outras palavras entenda-se no showbusiness/entretenimento, o capitalismo abusa do poder de subversão de valores para maquiá-lo de liberdade juvenil e promovê-lo como produto de consumo de massa. A indústria sabe manipular a imagem de Che para vendê-la como suvenir da moda e da música, por exemplo.
De qualquer modo, alienado ou não, o ideal de igualdade está solto na sociedade, embora embalado. De um lado a luta armada, a barbárie (de que lado venha) não é remédio para sanar os problemas; de outro, como se fazer notar pelo poder repressor do passado se não pela guerrilha? O produto Che - longe dos confrontos físicos, da luta armada - age sorrateiramente e sem mortes. Se a dialética do capitalismo se confirmar, o sistema estará lucrando hoje, mas criando e propagando as armas de sua própria destruição para amanhã.
"Sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer um em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário", escreveu em seus últimos anos aos quatro filhos de seu segundo casamento.

MATERIALISMO HISTÓRICO

O presidente boliviano, Evo Morales, presta homenagem a Che Guevara e lança selo comemorativo aos 40 anos da morte do ex-líder, em Vallegrande, na Bolívia (Foto: Aizar)


A modelo Gisele Bündchen desfila de biquíni com a imagem de Che Guevara (Foto: AFP)

Em 2003, um dos maiores ícones do consumo capitalista, a cantora americana Madonna, apropriou-se da imagem de Che para lançar "American Life" e protestar contra o governo Bush. Não deu certo. Vendeu pouco, o disco é chato, mas valeu pela "briga" com os americanos.



O ex-jogador de futebol argentino Maradona mostra sua tatuagem de Che guevara (Foto: AFP)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aniversário de Jorge Vercilo!

O mais querido cantor e compositor da nova música popular brasileira chega nesta data aos 39 anos de idade em plena atividade: inspiradíssimo, agenda cheia, prêmios acumulados, aclamação popular, prestígio entre os grandes nomes da MPB e dois lançamentos praticamente simultâneos - o DVD "Coisa de Jorge" (em parceria com Jorge Mautner, Aragão e Benjor) e um CD de inéditas previsto para novembro, intitulado "Todos nós somos um", que já possui, inclusive, uma música de trabalho chamada "Ela une todas as coisas", que já é parte da novela Duas Caras, da Globo. O primeiro é resultado de um show realizado para milhares de pessoas na Praia de Copacabana no dia 23 de abril deste ano, em homenagem a São Jorge, santo guerreiro. A música de trabalho, o ijexá "Líder dos Templários" está na boca das pessoas, em todas as rádios do Brasil. Quanto ao novo CD de inéditas, trata-se - nas palavras do próprio cantor - de seu CD mais brasileiro, com produção de Paulo Calasans e participações de músicos do quilate de Guinga, Marcos Valle, o percussionista Marçal, o baixista Arthur Maia, e arranjos de cordas de Gilson Peranzetta, Eduardo Souto Neto e Jota Moraes. O álbum trará ritmos distintos como samba, xote, bossa-nova e algumas incursões no rock e no jazz. Agora só resta aguardar!

O aniversário é de Jorge Vercilo, mas quem ganha é seu público, contemplado assim com tantos e bons lançamentos! E o nosso Café Cultural não poderia deixar de homenagear esse cara tão amado no cenário musical brasileiro!
Parabéns, Jorge!

domingo, 7 de outubro de 2007

Santiago Nazarian, a sensação da Bienal do Livro!

Na última sexta feira (05/10), saí correndo desesperadamente do trabalho pra ver se chegava a tempo de assistir à palestra do jovem escritor paulista Santiago Nazarian (um dos meus favoritos dessa novíssima geração) na VI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, realizada no Centro de Convenções.

Santiago é talvez a figura mais pop da escalação da Bienal deste ano e, por essa razão, o auditório Clarice Lispector estava lotado para assistir à sua bem-humorada palestra com o tema Literatura e Underground. O escritor de 30 anos foi entrevistado pelo poeta Delmo Montenegro, respondeu perguntas da platéia e falou sobre seus 04 romances publicados: Olívio (2003), A Morte sem Nome (2004), Feriado de Mim Mesmo (2005) e o mais genial deles, Mastigando Humanos (2006). Com seu sarcasmo habitual, ele divertiu a platéia e causou frisson ao brincar com a mítica sexual que existe em torno de sua persona pública: "depois da palestra, eu 'atenderei' ao público no box 1 do banheiro masculino. Vou deixar a porta entreaberta". Dentre as surpresas, Nazarian nos adiantou um capítulo inteiro de seu livro inédito (ainda sem título) que tem previsão de lançamento para meados do próximo ano. O romance litorâneo (a história se passa numa praia pouco freqüentada) conta a história de um grupo de rapazes física e psicologicamente atípicos que vêem suas vidas transformadas pela chegada de um professora. Enfim, nas palavras do próprio autor, é uma coisa meio "Branca de Neve e os Sete Anões". Durante o debate, falou-se bastante sobre Mastigando Humanos, seu último livro lançado. A história consiste num romance com toques juvenis, cujo protagonista é um jacaré que vive nos esgotos de São Paulo e é apaixonado por um "sedutor" tonel de óleo. O réptil é amigo de um sapo fumante e de um travesti vendedor de yakissoba, que alimenta o crocodilo quando joga os restos de comida no bueiro. Recheado de personagens esdrúxulos e referências impensáveis, o texto bem-humorado e fascinante contém ideais filosóficos, contestação adolescente, humor, carga dramática, lirismo pop e sutis toques góticos. Na verdade, o personagem central - o jacaré que quer comer gente - pode ser personificado na figura de um jovem adolescente, virgem, existencialista, que ainda não encontrou seu rumo e está em busca de descobertas de si mesmo e do mundo.


Ao findar a palestra, Santiago Nazarian autografou livros e tirou fotos com os fãs, e eu fui um deles!
(Detalhe: ele não é tão alto assim! Estava em cima de um degrau)

Santiago Nazarian é (depois do"fenômeno" Bruna Surfistinha) o escritor entre os 20 e 30 anos que mais vende livros do Brasil. Cabe uma ressalva: ao contrário da famigerada "Surfistinha", ele é bastante talentoso, escreve muito bem e sabe compor personagens como há muito não se via na Literatura Brasileira. Tornou-se nacionalmente conhecido a partir do lançamento do livro Feriado de mim mesmo. Nesta época, concedeu, inclusive, entrevista no Programa do Jô Soares. Enquanto alguns classificam sua obra simplesmente como adolescente, outros o vêem como a mais grata surpresa da literatura brasileira dos últimos anos. O fato é que seu estilo fascinante, dotado de uma roupagem pop, contém o ímpeto advindo da jovialidade e versatilidade de quem já passou por várias profissões atípicas: ele já foi barman de pub punk em Londres, compositor de jingles, professor de inglês, redator de histórias de disque-sexo e de horóscopo. Além disso - visto que no Brasil não dá pra viver somente se literatura - ele faz legendas de filmes e traduz livros para o Português, como é o caso das obras Maldito Coração, de J.T.Leroy, e Fan-Tan, de Marlon Brando.

A VI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco segue até o domingo (14/10) no Centro de Convenções (Olinda-PE).

Obs.: querida Claúdia Campelo, eu devo essa matéria a você que me avisou da referida palestra. Amiga, tenha meus sinceros agradecimentos!

sábado, 6 de outubro de 2007

Pirataria na Internet e morte do CD.

Pirataria na rede

Nos últimos anos, a tecnologia da informação tem afetado drasticamente a maneira de se vender música. A facilidade com que a Internet permite a troca de arquivos digitais entre seus usuários elevou a pirataria a níveis estratosféricos. Em poucos minutos, é possível baixar o CD ou DVD do artista preferido, sem ter que desembolsar um centavo sequer! No Orkut - o mais famoso site de relacionamento do mundo - há inúmeras comunidades com esse fim, tais como "Trocando MP3" (com mais de 30.000 usuários) ou "Discografias"(que possui inacreditáveis 430.000 membros). Nelas, os usuários podem fazer pedidos de músicas raras ou lançamentos de seus artistas favoritos e, em poucos dias, são prontamente atendidos: recebem os devidos links dos sites para baixarem as canções solicitadas. Esses sites funcionam como uma espécie de HD virtual compartilhado, onde os internautas podem fazer upload e download de arquivos diversos, livremente. Tais comunidades consistem num verdadeiro sonho para os colecionadores de música digital. E não há como banir esse tipo de comportamento na Internet, até porque (pelo menos no Brasil) não existe uma legislação completa e eficaz para coibir os abusos da pirataria na rede. No entanto, alguns países já são mais severos no tocante a essa questão: no início do ano, em Montauban (França), uma vovó de 66 anos foi multada em quase 500 euros por danos e prejuízos porque baixou mais de três mil músicas na Internet.
Surge então o seguinte questionamento: é certo que um erro não se justifica com outro, mas até que ponto é tão grave baixar músicas pela Internet num país como o Brasil, no qual a política econômica é totalmente desvirtuada e os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) encontram-se na mais pura sarjeta ética e moral? A pirataria é apenas mais um sintoma do sistema econômico mal administrado de um país em que até imunidade parlamentar é sinônimo de passagem livre para roubalheira descarada! Pirataria é roubo, sim! Ela prejudica um sem-número de artistas e desemprega outros milhares envolvidos no processo de criação, produção, distribuição e venda dos produtos. Porém, é bastante incoerente que se pratiquem os preços exorbitantes dos artigos originais: alguns lançamentos em CD e DVD chegam a custar, respectivamente, absurdos 10% e 15% do salário mínimo atual, em média. A carga tributária altíssima sobre os produtos não pode nem deve ser utilizada como única justificativa para os valores abusivos!
Nessa nova conjuntura, a fim de manter a sobrevivência no mercado, os artistas e gravadoras têm começado a repensar a forma de comercialização de seus produtos, pois a tendência é de sumir o produto físico e permanecer o intangível. Alguns artistas já inovaram a sua sistemática de venda. O exemplo mais recente é o do Radiohead, uma das mais influentes bandas de rock do mundo, que disponibilizará, a partir do dia 10 de outubro, o seu novo álbum "In Rainbows" no formato mp3 em seu site (http://www.radiohead.com/). O mais curioso é que o preço ficará a cargo do fã, que pode escolher não pagar, se preferir. Especialistas dizem que o grupo pode vir a ganhar com essa escolha, pois já possui uma sólida base de mercado.

No Brasil, já existem sites de comercialização de música digital, como o UOL Megastore e o i-música, que oferecem ao usuário a opção de baixar, por exemplo, as músicas de trabalho de um álbum lançamento ao preço de R$ 1,80 cada faixa, em média. Dessa forma, o consumidor que não se interessa em comprar o disco inteiro adquire sua música favorita e ainda valoriza e prestigia o artista. O grupo de forró universitário Falamansa, por exemplo, já disponibilizou em mp3 (ao preço de R$ 1,69 cada download) as músicas de trabalho de seu mais novo álbum, Segue a vida, cuja versão em CD ainda está sem data prevista. As três faixas disponibilizadas - Segue a vida, Miou e Amor amor - são recordistas de downloads no site da Deckdisc, gravadora da banda. Experiências como essa comprovam que é possível ao artista divulgar o seu trabalho musical sem necessariamente ter que lançar um CD. Além disso, o novo formato pode incentivar mais ainda a criatividade dos compositores na disputa de mercado, pois evita que o consumidor tenha que levar um CD inteiro somente por causa de uma única boa faixa. Com isso, espera-se uma maior qualidade das canções lançadas, no intuito de atrair os consumidores, que só irão comprar as faixas que realmente lhes interessem!

Breve histórico do CD:

Há pouco mais de 25 anos, a Philips (em parceria com a Sony) lançava no mercado o compact disc digital audio, invenção tecnológica que viria a revolucionar de forma definitiva a produção e a distribuição de música. A leitura das músicas sem o contato físico proporcionava a incrível qualidade e total pureza do som. No entanto, os equipamentos para reprodução dos disquinhos eram caríssimos - os primeiros CD players lançados chegavam a custar certa de 2 mil dólares (o equivalente, hoje, a cerca de R$ 4,15 mil). Acreditava-se que os aficcionados de música clássica teriam mais dinheiro para adquirir CDs do que os consumidores de cultura pop.

O primeiro CD lançado foi o célebre "The Visitors", do Abba, famoso por ser também o último da bem-sucedida carreira do grupo sueco. Os dois casais que formavam o quarteto estavam se separando, e a crise podia ser constatada nas letras das músicas. Entretanto, o formato só veio ter um maior alcance popular com o título "Brothers in arms", da banda Dire Straits, em 1985. Era a primeira vez que um CD vendia mais de um milhão de unidades. Somente em 1988 é que as vendas de CDs superaram as de LPs. Em 1992, o álbum "Erotica", de Madonna, foi o primeiro CD a imitar entre as músicas o som do chiado do vinil, e no encarte havia uma observação explicando que "todas as imperfeições eram propositais". No Brasil, os primeiros discos digitais chegaram em 1985, mas só tiveram seu boom no início dos anos 90, e a fabricação dos antigos LPs só encerrou no Brasil em 1996.

O consumidor e sua relação com os CDs:

Eu, Freddy Simões, sempre fui um exímio colecionador de CDs. Lembro-me de que o meu primeiro CD comprado foi uma coletânea de Lulu Santos chamada Acervo. Era um disco que eu ouvia constantemente. Continha canções como Tudo bem, A cura e Condição . Entretanto, lembro-me de que num aniversário meu, em 1995, meu pai me deu R$ 60,00 e eu, muito feliz da vida, torrei o dinheiro todo numa loja de CDs - adquiri os fantásticos álbuns V (cinco), da Legião Urbana; Sobre todas as coisas, do Cidade Negra e um CD cuja banda eu nem conhecia, mas comprei por causa da capa diferente, esverdeada, que mostrava uma figura esdrúxula, assustadora e com um sorriso irreverente - o álbum era Calango, do Skank, que fez enorme sucesso com os hits Jackie Tequila, Esmola, O beijo e a reza e Pacato cidadão. Foi o disco que deu amplitude e popularidade à banda mineira. Eu também adorava uma coletânea de Djavan, chamada Pétala, que ganhei de presente de minha irmã, Linda Simões. Hoje possuo as discografias de Roberto Carlos, Djavan, Jorge Vercilo, Maria Rita, Marisa Monte, Legião Urbana, Beatles, Caetano Veloso, Fagner, Ivete Sangalo, Michael Jackson, e mais uma infinidade de cantores e bandas de inúmeros estilos, de A a Z.


Toda inovação tecnológica (se for para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas) é bastante louvável. A criação de players de Mp3 é fantástica, implica em comodidade, praticidade, conforto e ecomomia para os consumidores de música, mas não traz o contato táctil com o produto - nada substitui o prazer de comprar aquele álbum desejado, com uma capa que faz história, encarte com letras e informações complementares. O disco cria um vínculo mais forte e verdadeiro entre o consumidor e seu artista predileto. Eis alguns relatos de alguns consumidores e sua relação com o CD:

"O meu primeiro CD player me foi dado de presente de aniversário, em 1992, pelo meu ex-marido. Sempre fui uma pessoa bastante musical, e fiquei fascinada com a qualidade de som ouvida naqueles disquinhos reluzentes. Eu adorava o novo formato! Lembro-me de que, dentre os primeiros CDs que adquiri, figuravam Coisa de Acender, de Djavan, e o delicioso disco da Banda Beijo que possuía uma bandeira ilustrando a capa e tinha o cantor Netinho como líder", afirma a administradora Dagmar Simões. A secretária Cátia Veloso relata seu primeiro contato com o CD: "Eu já tinha constatado a ótima qualidade do som, pois cheguei a ouvir alguns CDs em casas de amigos. Fiquei encantada, mas não tinha dinheiro para comprar o aparelho, porque o preço ainda era muito alto. O ano era 1994. No entanto, eu resolvi me antecipar e comprei, mesmo sem ter onde reproduzir, dois CDs maravilhosos que eu queria muito: The Stonewall Celebration Concert, de Renato Russo, meu ídolo na época, e Valsa Brasileira, de Zizi Possi, minha cantora favorita. Após a compra, eu os guardei com muito carinho em minha estante, e isso me serviu de incentivo para que eu adquiririsse um CD player o mais rápido possível". Já a arquiteta Pricylla Girão afirma: "Nunca fui uma assídua compradora de CDs, mas me recordo de que o primeiro título que comprei foi uma coletânea da banda Simply Red, a qual eu não me cansava de ouvir. Fiquei muito feliz com aquisição e tenho ótimas recordações dessa época". Danilo Gouveia, estudante, 25 anos, lembra-se de que seu primeiro CD adquirido foi Cor de Rosa e Carvão, de Marisa Monte: "Eu considero até hoje esse álbum como o trabalho mais bonito da cantora. Fiquei vidrado na voz suave dela cantando aqueles sambas, bossas e baladas pop. E o encarte ainda vinha com músicas cifradas! Foi um verdadeiro tesouro musical. Até hoje esse CD me causa emoções e arrepios".

O CD, como produto de mercado, está em processo de morte lenta e, em poucos anos, deve ceder o lugar a outros tipos de mídia, como o DVD áudio, que possui uma incrível qualidade e permite ouvir o som com maior riqueza de detalhes não percebidos no CD. No Brasil, ainda existem pouquíssimos títulos no formato DVD áudio, como a edição remasterizada do célebre álbum "Elis e Tom", de 1975, cujas minúcias da gravação original agora podem ser ouvidas com total clareza e perfeição. Entretanto, como produto de capricho e reverência, o CD ainda perdurará por muitos anos, pois amor de fã é incondicional e eterno, e os consumidores conservarão os discos de seus artistas favoritos, até porque - mesmo que o aparelho tocador de CD deixe de ser fabricado - o formato ainda poderá ser reproduzido nos DVD players.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Voltei a escrever!

Prezados leitores, após um mês de ócio criativo, é com grande satisfação que lhes comunico da minha disposição a escrever novamente no nosso Café Cultural! Apesar de eu não ser libriano, tenho muita afinidade com os ventos de outubro, os quais sempre me trouxeram bastante inspiração (não me perguntem por que razão!). Às vezes, quando se está com a cabeça cheia de problemas, é complicado obter entusiasmo para iluminar a mente. No entanto, eu já estava com saudades deste espaço onde a liberdade de expressão e a profusão de idéias devem persistir como o principal propósito. Portanto, de agora em diante, não se surpreendam ao se depararem com textos mais espontâneos, despidos daquela carga intensa de formalidade, mas, obviamente, dotados da qualidade esperada e fiéis às regras do vernáculo.

Gostaria de prestar um agradecimento especial aos queridos Williams e Renata, meus colaboradores, por manterem o blog sempre atualizado com seus excelentes textos! Aliás, a verve criativa de Williams está em alta: o rapaz foi recordista de comentários no blog por dois meses consecutivos - em agosto, pelo texto sobre Tieta do Agreste e, em setembro, pelas considerações acerca da cantora Roberta Sá! Parabéns!

Saibam que farei - junto com meus colaboradores - o impossível para transformar este blog numa verdadeira revista eletrônica, com postagens cada vez mais atrativas e interessantes pra vocês!

Um sincero abraço!

Freddy Simões