domingo, 4 de abril de 2010

A um amigo poeta


Às vezes me pergunto se o poeta está predestinado à solidão. Ele não tem norte, direção... Caminha sem bússola por entre matas fechadas. Vive afogado em seus mares de temores, segredos e amores. O "silêncio" das palavras é a sua arma mais poderosa. Ele faz da escrita a válvula de escape do seu desespero. Utiliza o lirismo como alimento necessário e indispensável à sua subsistência. É extremamente exigente e meticuloso em seus trabalhos. Irrita-se e alegra-se com facilidade. Chora e sorri na mesma intensidade. Ama a seriedade e o escracho. Prefere os labirintos às linhas retas. É quase sempre criticado e incompreendido. Aprisiona-se em seu próprio sonho de liberdade. Eleva-se espiritualmente mas se rende aos vícios terrenos. Aprecia as adegas e as tabacarias. Algumas vezes, ele é humilde; outras, narcisista. Não perdoa os próprios erros. Odeia a incoerência e permanece nela.

O poeta expressa seus sentimentos de uma forma tão ímpar que as emoções se sobrepõem aos seus desatinos. Tentar classificá-lo e entendê-lo é como reduzir-lhe o coração e o pensamento à mediocridade. Poetas não vieram ao mundo para serem compreendidos, mas para deixarem seu legado aos demais.

quinta-feira, 25 de março de 2010

CD de duetos celebra os 50 anos de Renato Russo

Se estivesse vivo, o cantor Renato Russo faria 50 anos de idade no próximo dia 27 de março. Para celebrar a data, a EMI Music - gravadora de toda a obra fonográfica do cantor - colocará no mercado no início de abril o disco Duetos, que une - por meio de recursos tecnológicos avançados - a voz de Renato a de cantores como Leila Pinheiro, Caetano Veloso, Marisa Monte, Fernanda Takai, Laura Pausini e a saudosa Cássia Eller. Além disso, o álbum ainda compila os duetos que de fato aconteceram, como A cruz e a espada (com Paulo Ricardo), A carta (com Erasmo Carlos) e Mais uma vez (com 14 Bis). Confira o set list desse verdadeiro presente para os fãs:

1. Like a lover - com Fernanda Takai
2. Celeste - com Marisa Monte
3. Vento no litoral - com Cássia Eller
4. Mais uma vez - com 14 Bis
5. A carta - com Erasmo Carlos
6. A cruz e a espada - com Paulo Ricardo
7. Cathedral song - com Zélia Duncan
8. Change partners - com Caetano Veloso
9. Strani amori - com Laura Pausini
10. La solitudine - com Leila Pinheiro
11. Come fa um'onda - com Célia Porto
12. Só louco - com Dorival Caymmi
13. Esquadros - com Adriana Calcanhotto
14. Nada por mim - com Herbert Vianna
15. Summertime - com Cida Moreira

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fumo

Tenho ficado em casa mais tempo do que de costume, aproveitando as horas livres para ler e reler várias coisas. Certo dia, redescobri a obra polêmica e encantadora de Florbela Espanca, poetisa admirada em todos os cantos do mundo, devido à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como principal interlocutor o universo masculino. Eu conheci a arte de Florbela através do cantor cearense Raimundo Fagner, que musicou magistralmente os sonetos Fanatismo, Chama quente, Tortura e Fumo (o meu preferido!). Fiquei embevecido com tanta angústia, lascívia e paixão, expressados em versos contundentes.
Em Fumo, a poetisa põe lado a lado o amor e o vício. Há a comparação da pessoa amada com a fumaça, que nos escapa aos dedos, impossível de se segurar. É como se o amor se perdesse antes mesmo de se encontrar. Impressionam-me também as imagens que ela utiliza para retratar a dor da ausência, em versos como: "Longe de ti não há luar nem rosas/ Longe de ti há noites silenciosas/ Há dias sem calor, beirais sem ninhos". Ela compara, nas entrelinhas, sua tristeza ao clima de outono em Portugal: "Os dias são outonos - choram, choram/ Há crisântemos roxos que descoram". Seus pensamentos suplicam o tempo inteiro a presença da pessoa amada: "Meus olhos são dois velhos pobrezinhos, perdidos pelas noites invernosas/ Abertos, sonham mãos cariciosas/ Tuas mãos doces, plenas de carinho". Enfim, são muitas as minhas impressões acerca desse soneto belíssimo, mas prefiro retratar cantando o que sinto:


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quero beijar-te mais sete mil vezes!!

Ah! Meu corpo arde em brasa e minha mente fica tomada por pensamentos lascivos quando me lembro da delícia dos teus beijos, criatura voluptuosa! Estou atônito, inebriado... Nem consigo acreditar que tu paraste de massacrar meu peito e resolveste dar vazão aos instintos e anseios que - para meu espanto - também eram teus!
Passei dias a te observar, a procurar um sinal, um elemento que eu pudesse tomar como resposta afirmativa de um desejo recíproco, mas teu olhar estava envolto em uma nuvem de mistério, e isso só agravava minha angústia de saber se eu poderia seguir em frente. No entanto, nada precisei fazer para desvendar teus segredos: tu vieste a mim, de ímpeto, entregue a meus carinhos, como num filme.
Minhas mãos ainda guardam o calor quase febril do teu corpo, que percorri lenta e suavemente, tal qual um escultor utilizando a argila do prazer, moldando com apuro cada pedaço de sua obra de arte. Que imagem, que visão!
Agora me encontro irremediavelmente louco de tesão por ti. Preciso ver novamente teu sorriso de candura quase infantil, contrastando com teu ser vibrante, pulsante...
Vem se aventurar, vem pagar pra ver, vem me desvendar, ter e dar prazer. Mas vem sem fantasia, sem mentir para o que sentes. Vem perder-te em meus braços, pelo amor de Deus!
Sei que estás em uma ilha cercada por um mar revolto de dúvidas e temores. No entanto, não quero nem posso te largar! Preciso beijar tua boca linda mais umas sete mil vezes, pelo menos!Esperarei pacientemente por ti... mas, por favor, baby, não demora tanto a vir matar minha sede... de cair na tua rede!
*O texto contém ligeiras citações de Angela Ro Ro, Jorge Vercilo, Chico Buarque e Djavan

segunda-feira, 20 de julho de 2009

20 anos sem Lauro Corona

Há exatos 20 anos morria, no auge da carreira, o ator Lauro Corona, um dos mais queridos e populares artistas da televisão brasileira da década de 80. Corona tornou-se conhecido nacionalmente a partir de 1978, devido a sua atuação ao lado de Glória Pires na novela Dancin' Days, de Gilberto Braga, exibida pela Rede Globo. Fugindo dos padrões dos galãs da época, Laurinho não era másculo nem sólido - ele era frágil e tinha pouco mais de 1,60m de altura. No entanto, sobravam-lhe talento e carisma. Dono de olhos azuis, sorriso perfeito e aparência de bonzinho, Lauro dominou os folhetins televisivos, emocionando o Brasil inteiro com personagens que marcaram época, como Rafael, de Corpo a Corpo (1984), e Adriano de Montserrat, de Direito de amar (1987).


Corona também se destacou nas novelas Marina (1980), Baila comigo (1981), Elas por elas (1982), Louco amor (1983) e Vereda tropical (1984). No cinema, atuou ao lado de Cazuza e Débora Bloch em Bete Balanço (1984). Seu último trabalho na TV foi na novela Vida Nova, em 1988, no papel de Manuel Victor, um imigrante português que namorava uma judia brasileira, interpretada por Deborah Evelyn. No início de 1989, Lauro pediu afastamento da novela, da qual ele era protagonista, alegando uma estafa. Retorna dois meses depois, muitos quilos mais magro e uma notável calvície - o que aumentou os boatos de que estaria com AIDS. Corona negava veementemente a doença. Novamente ele abandonou as gravações e a novela teve que ser encurtada. Seu personagem teve um final apressado, com uma viagem para Israel. Sua última cena na novela mostrava um carro partindo numa noite chuvosa, ao som de um poema de Fernando Pessoa, declamado em off pelo próprio ator.

Em seguida, o ator mudou-se para a casa dos pais e se manteve isolado. Lauro não comentava com os amigos sobre a doença e nem aceitava sua condição - tratava os sintomas das doenças oportunistas com homeopatia. Seu estado de saúde se agravou e depois de uma internação de nove dias, morre em 20 de julho de 1989, com apenas 32 anos de idade.

Lauro Corona é parte importante da história da televisão brasileira. Contou até o fim com o companheirismo de sua melhor amiga e irmã em arte, Glória Pires. Seus personagens inesquecíveis ainda residem na memória de muitos brasileiros que vivenciaram os anos 80. E ele poderia ser bem mais lembrado, caso a Rede Globo não insistisse tanto em reprisar folhetins com um passado tão recente e desse lugar aos clássicos, até para que as novas gerações pudessem ter uma ideia da magia e fascínio que as novelas provocavam em outras épocas, até mais que hoje.
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Eis alguns links de vídeos que relembram a carreira do ator:
Lauro Corona e Glória Pires atuam na novela Dancin' Days e cantam João e Maria no Fantástico
Despedida de Lauro Corona na novela Vida Nova (1989)

Cena da novela Direito de Amar (1987) – Adriano resiste às investidas da perversa Paula

http://www.youtube.com/watch?v=o2yGycKpPcE


Cena de Corpo a Corpo (1984) - Bia (Malu Mader) ganha concurso e Rafael (Lauro Corona) fica aborrecido

Cena da novela Elas por Elas (1983) - Aracy Balabanian, Tássia Camargo, Lauro Corona e Mário Lago

http://www.youtube.com/watch?v=07bbLUa0Jfg


Cena da novela Baila comigo (1981) - Lauro Corona e Tony Ramos

Fontes pesquisadas:
- Wikipedia:
- Blog do Aguinaldo Silva
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Jorge Vercillo, inspiradíssimo, confirma a magnitude de seu carisma em show excepcional no Recife.

Os ares de junho trouxeram um presente aos recifenses amantes da boa música: Guilherme Arantes e Jorge Vercillo no Chevrolet Hall. O primeiro, monstro sagrado da música brasileira, autor de clássicos que fizeram história em trilhas sonoras de novelas nas décadas de 70 e 80. O segundo, o mais notável talento da nova geração, surgido nos anos 90, e que vê na década atual a sua consagração, fruto de seu gênio criativo e incontestável lirismo, capaz de trazer um novo ânimo à MPB, entoando canções que falam com alto grau de beleza artística e perfeição estética sobre o mais elevado e sublime dos sentimentos: o amor.

Desde o lançamento de seu último CD de estúdio, “Todos nós somos um” (2007), Jorge Vercillo vem colecionando elogios não apenas do público, que sempre lotou seus shows desde os primeiros discos, mas também da crítica, que passou a ver seu trabalho com mais receptividade e o dissociou finalmente da imagem do Djavan, que o perseguia desde o início da carreira, com comparações constantes e, muitas vezes, descabidas. Pode-se afirmar que Vercillo, de uns tempos para cá, tem vivido o auge de sua produção: modificou a sonoridade; trocou de banda; musicou texto inédito de Maysa; teve música em trilha de novela; participou de projetos especiais, como o “Coisa de Jorge”; diversificou parcerias com artistas do cacife de Fátima Guedes, Dudu Falcão, Marcos Valle, Nico Rezende, Isabella Taviani, Ana Carolina etc, e teve composições gravadas por Maria Bethânia, Leila Pinheiro, Pedro Mariano e Luiza Possi, dentre outros.

O referido disco de Jorge Vercillo rendeu bons frutos, como o CD/DVD ao vivo, “Trem da minha vida”, gravado no Canecão no início de novembro de 2008. O novo DVD reforça a densidade das canções do álbum “Todos nós somos um” e mostra a emoção que o CD de estúdio não consegue ressaltar em sua plenitude. Embora bem intencionado, o novo trabalho ao vivo sofreu algumas críticas por conter repetições de seu DVD anterior, datado de 2006, e também pelo fato de Vercillo ter deixado de fora da gravação algumas importantes canções como “Luar de sol”, uma das mais pedidas dos fãs, “Cartilha”, grande parceria com Fátima Guedes, e “Numa corrente de verão”, feita em duo com Marcos Valle. No entanto, só quem vai a um show de Jorge é capaz de sentir a força das canções e constatar a magnitude do carisma que ele tem com os fãs. É uma espécie de atração de ímã, que faz com que as pessoas não desgrudem os olhos do palco. Ele, com um jeito simples e, muitas vezes, requieto, consegue mesmo assim deixar o público em suas mãos.

Jorge Vercillo e Guilherme Arantes cantando "Planeta Água"


Jorge veio fazer seu enésimo show em Recife no último dia 06/06 para lançar justamente o novo DVD, que contém apenas uma música inédita, a faixa-título, “Trem da minha vida”, um reggae feito em homenagem à mãe dele. O show começou pouco tempo depois da apresentação solo de Guilherme Arantes, na qual Vercillo fez uma grata surpresa e cantou o hit “Planeta Água” com o cantor, no bis, em número ovacionado por uma platéia histérica. Como sempre, Jorge abriu o espetáculo com “Melhor lugar”, seguida pela autobiográfica “Tudo que eu tenho”. Logo depois, Jorge fez os cumprimentos e iniciou cantando, com sua voz de veludo, os versos “Eu tô pensando em tu que só/ É chão que chega a dar um nó/ Um homem para se envolver/ Difícil como o bicho se render”, brindando o público com sua doce canção “Luar de sol”, de sabor regional e com direito ao arranjo original completo. Rara beleza! Seguiram-se outros sucessos como “Signo de ar”, “Leve”, “Homem-Aranha” e a tão aguardada “Devaneio”, momento pungente do show. A grande surpresa do repertório foi a inserção da lúbrica “Cartilha”, canção que abre o CD “Todos nós somos um”, e que inexplicavelmente ficou de fora da turnê e do DVD ao vivo. Jorge teceu, com humor, algumas considerações sobre a letra dessa música:

“Vocês conhecem a Fátima Guedes? Pois é, a Fátima é uma libertina, no bom sentido. Quando nós estávamos fazendo essa música, ela, com aquela voz de professorinha de inglês, perguntou (Jorge imita a voz de Fátima e arranca risos do público):

- Jorge, você gostou da cartilha de amores hindus?
- Claro, Fátima, as imagens contidas na letra são muito bonitas! Gostei muito!
- Mas, Jorge, você sabe o que é a cartilha de amores hindus?
- Sim, são imagens que você usou na letra e...
- Não, Jorge! A cartilha de amores hindus é o kama-sutra!
Depois de ouvir isso, aí foi que fiquei gostando mais da música. Mas então ela continuou:
- Jorge, e aquela parte da letra que fala dos lábios azuis?
- Sim, achei muito bonita. É pra combinar com aquela parte que fala em pedaço do céu... Ficou legal falar em azul, essas imagens, coisa e tal...
- Jorge, você não sabe o que são os lábios azuis? São os lábios genitais femininos!
(O público adorou!)

Depois disso eu passei a gostar mais ainda dessa música!”, afirmou o cantor.

Logo depois, Jorge cantou a ótima canção “Toda espera”, e afirmou “Vocês pediram essa música, ela não ia entrar no DVD, mas por causa de vocês, ela acabou se tornando uma das mais importantes”. Após cantar canções como “Vôo cego”, “Trem da minha vida”, “São Jorges” e “Ela une todas as coisas”, Vercillo abriu espaço para pedidos: voltou ao passado e entoou a bela canção “Praia nua”, da forma como ela foi originalmente concebida, com voz e violão. Ele cantou alguns trechos da letra em espanhol. Em seguida, depois de pedidos incessantes das pessoas, Jorge cantou “Avesso”, música constante nos seus shows em Recife desde a época da turnê “Leve” (2000-2001) e que nunca saiu do repertório, devido a toda história que se criou em torno dela, por causa da letra de teor homoafetivo. Sobre “Avesso” e também “Final Feliz” (que alguns afirmam ser a extensão da primeira), o jornalista e pesquisador musical Rodrigo Faour afirma em seu livro “História sexual da MPB: a evolução do amor e do sexo na canção brasileira”, Ed. Record, 2006, pág. 425-426:

Encerrando o velho milênio, um dos poucos artistas da MPB jovem a se firmar como cantor e compositor, Jorge Vercilo emplacou no CD “Leve” duas canções de apelo homoerótico. A primeira – ao que parece – foi sem querer. Trata-se do mega-sucesso Final feliz ­– gravada em duo com seu ídolo Djavan –, que dizia “Chega de fingir, eu não tenho nada a esconder (...) Pode me abraçar sem medo/ Pode encostar sua mão na minha, e a segunda, bem mais contundente, Avesso. “Fiz Final feliz falando de duas pessoas com medo de assumir um sentimento. Tenho amigos homossexuais que realmente já tinham feito a associação, mas a letra não foi com essa intenção”, explicava Vercilo. “Mas nesse mesmo disco tem Avesso, que realmente fala do amor gay, em homenagem a um produtor meu, Ricardo Camilo, que já faleceu. “Por acaso, Avesso fez sucesso no Nordeste antes de Final feliz, e alguns amigos pensaram até que fosse uma continuação”, continua.

Avesso começava na velha cena de bar gay, presente em várias outras músicas do gênero: “Num insuspeitável bar, pra decência não nos ver/ Perigoso é me amar, doloroso querer/ Somos homens pra saber o que é melhor pra nós/ O desejo a nos punir só porque somos iguais”. Em seguida, vinha o panfleto no melhor estilo “Anos 70”: “A Idade Média é aqui/ Mesmo que me arranquem o sexo, minha honra, meu prazer/ Te amar eu ousaria/ E você, o que fará se esse orgulho nos perder?”. Era a hora do desabafo: “O que eu sinto, meu Deus, é tão forte!/ Até pode matar/ O teu pai já me jurou de morte por eu te desviar/ Se os boatos criarem raízes, ousarias me olhar, ousarias me ver?/ Dois meninos num vagão e o mistério do prazer/ Perigoso é te amar, obscuro querer/ Somos grandes pra entender, mas pequenos pra opinar/ Se eles vão nos receber, é mais fácil condenar ou noivados pra fingir?”. Que forte, Jorge!

Após atender os pedidos, Jorge cantou “Encontro das águas” e depois “Fênix”, número que se repete desde a turnê “Elo”, de 2002. Foi a hora de “Camafeu guerreiro”, com direito a roda de capoeira, encenação e tudo mais. Seguiram outros hits radiofônicos, como “Monalisa” e “Que nem maré”. No bis do show, veio a surpresa, quando Jorge voltou e, ao violão, entoou “Himalaia”, de seu ótimo, mas quase esquecido disco “Em tudo que é belo”(1996). O cantor terminou a longa e esfuziante apresentação com “Líder dos Templários” e “Vela de acender, vela de navegar”.

Após o show, já quase às três da manhã e Jorge era só simpatia no camarim. Eu disse a ele:

- Rapaz, você estava incansável hoje! Duas horas e vinte de show! Que maravilha!
- Pois é, Freddy, as pessoas não queriam me deixar ir embora hoje! (Risos). Muitos pedidos! Pediram “Himalaia” no final. É cansativo, porém gratificante. Mas não é sempre que eu agüento esse tempo todo.
- Muito bom você ter inserido “Cartilha” pela primeira vez aqui em Recife, e fazê-la com banda, arranjo completo etc.
- É, as pessoas me cobram muito as músicas que ficaram de fora do DVD. “Luar de sol”, por exemplo, é uma delas.

Depois de um abraço no ídolo, despeço-me satisfeito e no estado de graça que só quem tem a música como alimento da alma é capaz de sentir e compreender.

Vida longa e muito sucesso ao nosso Jorge Vercillo!!

Fontes pesquisadas:
Livro:
- FAOUR, Rodrigo. História Sexual da MPB: a evolução do amor e do sexo na canção brasileira. Rio de Janeiro. Record, 2006.
Internet:
Jorge Vercillo - Site oficial:
Blog "Ele une todas as coisas" - Bia Sampaio
Créditos das fotos do show: Wanessa Rafaela (Recife-PE).

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Rede Globo causa grande mal-estar ao cortar exibição de cantoras no especial em homenagem a Roberto Carlos

O especial Elas cantam Roberto Carlos, exibido pela Rede Globo no último domingo, 31/05, das 23h05 às 00h25, foi extremanente indelicado ao cortar 6 das 20 cantoras que se apresentaram no Theatro Municipal de São Paulo. Ficaram de fora Adriana Calcanhotto, Marina Lima, Paula Toller, Celine Imbert, Rosemary e Mart'nália. Essas apenas apareceram na música final, quando todas as cantoras dividiram a mesma música com Roberto. E o fato de a emissora ter exibido 2 números musicais de Ivete Sangalo só aumentou o mal-estar, pois reforçou a falta de respeito com as outras que tiveram suas performances cortadas. Não se sabe qual foi o critério utilizado pela emissora para tamanha falta de respeito às artistas. Outro ponto a ser questionar é o porquê de exibir os especiais musicais quase de madrugada. Em 2008, a série de programas Som Brasil ia ao ar quase a 1 da manhã. Ibope? Será que um especial em homenagem ao cantor mais popular do Brasil não daria uma boa audiência, exibido na íntegra e num horário mais acessível a todos, principalmente aos que tem o compromisso de acordar cedo para trabalhar no dia seguinte? Ao horário nobre é reservada toda a programação de gosto duvidoso, mas o que realmente interessa aos telespectadores que primam pela qualidade está reservado praticamente à madrugada: os especiais musicais, o Programa do Jô, o Altas Horas, de Serginho Groisman etc.

O fato é que a guerra das emissoras pela audiência nos últimos anos tem tornado a programação da TV aberta cada vez mais inculta e desprovida de refinamento. Se o que interessa hoje em dia é apenas Ibope, é melhor abolir de vez os especiais e deixar o Faustão o dia inteiro ou botar mais novelas além das cinco que já são exibidas diariamente. A impressão que se tem é que a Globo destina apenas as sobras de horário aos especiais musicais. Se música na TV aberta não alavanca mais a audiência, é melhor que fique reservada aos DVDs. O que não se pode permitir sem questionar é esse tipo de indelicadeza que a Globo cometeu com as cantoras ao cortá-las do especial.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Nostalgia: a música de Isolda e Milton Carlos

Milton Carlos
A década de 70 foi uma época bastante inspirada da música popular brasileira. Nesse período, surgiram vários importantes compositores e intérpretes que formaram parcerias célebres, como Isolda e Milton Carlos. Os dois irmãos adentraram o mundo da músican ainda na adolescência, fazendo backing vocals. Em 1970, Milton Carlos teve a oportunidade de gravar seu primeiro LP e, a partir daí, outros cantores, impressionados com a verve criativa dos jovens compositores, passaram a solicitar várias músicas à dupla.

Cabe ressaltar que a voz de Milton Carlos era bastante peculiar porque continha, além da beleza esfuziante, uma evidente androginia. Em 1973, Isolda e Milton ganharam projeção nacional depois que Roberto Carlos gravou uma canção deles, intitulada Amigos, amigos. Daí em diante, os dois caíram nas graças do Rei, que passou a gravar com frequencia as composições da genial dupla. Seguiram-se Jogo de damas (1974), Elas por elas (1975), Um jeito estúpido de te amar e Pelo avesso (ambas de 1976). Abaixo, alguns dos versos de Isolda e Milton Carlos que ficaram na boca do povo pela voz de Roberto Carlos:

Isolda
Pelo avesso
"E você reservada, tão quieta, não fala
mas sabe me endeusar
no exato momento da nossa agonia
pra se completar
com seus beijos ardentes, tão doces, tão quentes
vem me embriagar
no entanto, sentida, no instante da briga
chega a delirar

Entre bocas nervosas, com risos, com prosas
vamos nos pertencer
E rasgando essa vida da forma precisa
de amar e de se ter...

Eu quero seu amor a qualquer preço
Quero que você me tenha até pelo avesso
Pra me sentir envolvido em seus cabelos
Faça de mim o que quiser
Eu sou seu homem, minha mulher"


Roberto Carlos - LP de 1976

Um jeito estúpido de te amar

"(...) Palavras são palavras
e a gente nem percebe
o que disse sem querer
e o que deixou pra depois

Mas o importante é perceber
que a nossa vida em comum
depende só e unicamente de nós dois.
Eu tento achar um jeito de explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito
meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar"




Em 1977, um trágico acidente de carro na via Anhanguera, em São Paulo, pôs fim à vida de Milton Carlos, com apenas 22 anos de idade. Isolda, mesmo profundamente abalada com a morte prematura do irmão, companheiro e parceiro musical, compôs sozinha a sua mais importante e bela canção, Outra vez, que foi gravada no mesmo ano por Roberto Carlos e acabou se tornando um dos maiores sucessos do cantor. A letra sugere o fim de um romance, mas na verdade é uma homenagem de Isolda a seu irmão, e trata de um amor fraterno que se mantém vivo através das lembranças.
Roberto Carlos - 1977


Outra vez

"Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha vontade sem nada perder
Ah... você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez."


Sobre a morte do irmão e a música Outra vez, Isolda relata em seu blog:

“Acho que minha vida se divide em antes e depois desse dia. Pensei em voltar a estudar, em tomar outro rumo, mas no meio dessa tempestade encontrei vários amigos que me abrigaram, emocionalmente e, mesmo sem perceber, continuei fazendo sozinha o que sempre fiz desde menina: brincar de fazer músicas. Desse momento em diante, sem mais o meu amigo para brincar comigo. Foi assim que fiz, numa madrugada, uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: ‘Outra vez’. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos”.

Isolda continuou compondo para vários artistas. Roberto gravara, ainda, Tente esquecer (1978), Como é possível (1982) e outras nas décadas de 80 e 90.

Milton Carlos, apesar da curta carreira, também deixou grandes registros na sua própria voz, dentre eles: Samba quadrado (canção que teve bastante êxisto na época e até hoje é lembrada por grupos de samba/choro); Uma valsa, por favor; Vexame; Desta vez te perdi; Eu juro que te morreria minha; Memórias do Café Nice ("ai que saudade me dá... do bate-papo, do disse-me-disse lá do Café Nice/ ai, que saudade me dá"); e a belíssima Você precisa saber das coisas.


Fontes pesquisadas:

- Blog "Engenho e Arte":
http://www.paulobap.blogspot.com/ (acessado pela última vez em 29/05/2009);

- Isolda (Site oficial):
http://www.isolda.mus.br/ (acessado pela última vez em 27/05/2009);

- Site "Paixão e Romance"
www.paixaoeromance.com/70decada/outra_vez/houtra_vez.htm (acessado pela última vez em 29/05/2009).

terça-feira, 31 de março de 2009

A poesia lúbrica de Bruna Lombardi.

"Quero dormir com você ou pelo menos te dar um beijo na boca. O meu amor não tem pudor, nem acanhamento. Não tem paciência, não aguenta mais a urgência do desejo..."
(Bruna Lombardi)

Certo dia, estava eu na Internet, navegando sem leme, ao léu dos ventos e das correntes de minha solidão infinda, em busca de uma palavra poética que desse alento ao meu coração. Tamanha a minha surpresa, deparo-me com a mais pura poesia lúbrica advinda da bela atriz, modelo e escritora BRUNA LOMBARDI. Demasiadamente embevecido com a intensa carga de loucura, desejo, despudor, chama e paixão contida em seus versos, fico incrédulo ao imaginar como é possível essa mulher linda, talentosa e de incrível sensibilidade ser mais reconhecida e lembrada pelas novelas em que atuou do que pelo seu legado poético.
Bruna lançou 03 livros de poesia, entre 1976 e 1984. São eles: No ritmo desta festa, Gaia e O perigo do dragão, respectivamente. Desses, infelizmente, apenas o último encontra-se em catálogo.
Eis uma mostra de sua obra poética:

A viagem da paixão

Tenho os caprichos inerentes à natureza da mulher
abro a caixa de pandora que eu quiser
e lanço mão de todo mal e todo bem
avanço a passos largos
alcanço o ponto extremo e vou além
onde se estende a palpitação das células
e se prolongam feixes de neurônios
onde se nasce, morre e se enlouquece
intima de deuses e demônios.
Onde habitam as feras, os espítiros das florestas
onde se determina a primavera
e se marcam as nossas testas.
Onde se aprende a sabedoria do fogo
e todas as forças de atração
e se descobre o ponto que orienta
esse mapa de navegação.
Estrela solitária, asteróide desgarrado
luz que aponta o caminho
da viagem da paixão.


Jardim das delícias
Procuro em mim um homem sem moral
que me deixe arisca e me deite de costas
mandando coisas.
O oculto da paixão tem mais sabor que
pitanga roubada
e minha alma dissoluta, dissimulada
mistura ao vinho uma idéia de me jogar
em lençóis de linho
ou no mar.

Ah, eu queria saber de cor o nome das estrelas
todas as constelações e tudo
que de mistério carrega o ser humano
a face das pessoas, a inconfessável
a dimensão da atmosfera e o ponto exato
onde tudo se desintegra
Quero conhecer o sentido da vida
a essência do voo e a geografia.
Cio

Quero dormir com você ou pelo menos
te dar um beijo na boca
o meu amor não tem pudor, nem acanhamento
não tem paciência, não aguenta mais
a urgência do desejo
e eu te olho, te olho, te olho
como se dissesse.

Penso, ele há de perceber, me encosto um pouco
espero um gesto, um sinal, uma atitude
que eu possa interpretar como resposta
uma indicação
mas você é um homem sério e continua
se escondendo atrás dessas teorias
e nem te brilha no olho uma faísca de tentação.
ai, que aflição
pensar no que eu faria
se pudesse

desejo que não acontece
fica parado no peito
ai, vira obsessão.


Baixo ventre

eu não aguentava mais de amor por você
tava ardendo de vontade de você
você há de me querer
há de tentar, se atrever
mesmo se for um delito, se for errado
maldito, amaldiçoado
mesmo que o céu nos castigue
com um eterno eclipse
e venha o caos, satã, o fim de tudo
e a gente seja culpado
porque não soube resistir à tentação
eu não quero me livrar desse pecado
e me salvo através dessa paixão.


Alta tensão

eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.



Sinistro
Inclua no seu amor um pouco de desespero
derrame seu potencial de drama nos tapetes
ponha sal nas frutas ácidas
tente um pouco de champagne no sapato
esparrame de preguiça pelos linhos
no espalhafatoso desleixo dos lençóis
use olhos cristalizados, cintilantes
com faíscas no meio das plumagens
aprenda a cantar e a cabriolar um pouco
a dança elástica de uma enguia
se esfregue nas nervuras, descubra trunfos
muito escorregadia
Saiba o zodíaco chinês e as manchas do demônio
conhecedora de alquimias
deguste seus horrores em rituais estranhos
Seja uma ameaça
Dê telefonemas interurbanos em meio à noite
a Angkor, Himalaia, Terra do Fogo
Estilhace as regras desse jogo
que um pouco de maldade é necessária
Libidinosa sempre entre parênteses
esguiche todo esse seu som de dentro
ensopada de paixão e de água fria
leviana até a última mordida
Esquiva como uma taturana
penetrando no gargalo da garrafa
estenda suas estrias até o limite da suspeita
pois não há nada como um crime atrás do outro.

Jorge Vercillo lança "Trem da minha vida"

O cantor Jorge Vercillo acaba de lançar seu mais novo trabalho, o DVD Trem da minha vida, registro de show gravado nos dias 31 de outubro e 01 de novembro de 2008 no Canecão. O repertório é pautado, em sua maior parte, pelas canções do último disco, "Todos nós somos um", além de alguns sucessos de carreira e a faixa-título, inédita, um reggae composto por Vercillo em homenagem à mãe dele. As canções antigas apresentam uma nova roupagem, com destaque para Signo de ar, permeada de belos arranjos que propiciam um delicioso clima lounge (palavra inglesa que significa lugar de descanso, leveza). Homem-Aranha foi totalmente reformulada e recebeu elementos jazzísticos. A onipresente Monalisa tornou-se uma salsa. Final feliz ganhou uma levada mais soul. O tão batido hit radiofônico Que nem maré mostra-se de fato dispensável no novo trabalho, e poderia ter sido substituído por alguma de tantas boas músicas que Vercillo possui. Um dos pontos altos do DVD é o momento em que Jorge canta a pungente Devaneio, com introdução de Tenderly (Walter L. Gross/Jack Lawrence), um dos mais lindos e regravados standards da história da música popular. Vercillo já tem uma certa familiariadade com os standards de jazz: ele gravou em 1995, especialmente para a trilha da novela Cara e Coroa, o clássico Secret Love (Sammy Fain/Paul F. Webster), que virou Um segredo e um amor, em versão feita por Dudu Falcão).

O DVD contou com participações especiais de Serginho Moah, vocalista do grupo Papas da Língua, na canção São Jorges (parceria de Vercillo com Jorge Aragão, pinçada do repertório do projeto Coisa de Jorge); Jota Maranhão no samba Filosofia de amor (Jota é antigo parceiro musical de Jorge e co-autor da primeira canção de sucesso do cantor, Encontro das águas, originalmente lançada em 1993, mas que também reaparece no novo DVD, com um ótimo solo do contrabaixista André Neiva); por fim, a melhor das participações, Dudu Falcão, autor de melodias marcantes com letras densas, que faz um número de voz e violão com Jorge Vercillo entoando Coisas que eu sei, que foi sucesso na voz da cantora Dani Carlos. O pernambucano Dudu é parceiro de Jorge em outras composições, tais como Melhor lugar e Deve ser, também presentes no DVD.

As belas canções Voo cego e Ela une todas as coisas, ambas do último disco, constituem também extraordinários momentos do show. Outro grande destaque é Toda espera, que originalmente estava fora do script e acabou voltando com força total no DVD. Na ocasião, o bis do show, Vercillo surpreendeu-se com os pedidos incessantes do público, que cantava em coro essa música. Dessa forma, o cantor resolveu atender os clamores dos fãs e a dita canção acabou se tornando um dos carros-chefes do novo trabalho. Tudo isso é mostrado nos extras do DVD, que ainda exibe cenas de Vercillo no sossego do lar, relembrando antigos sucessos ao violão, em companhia de seus dois filhos e da esposa.

domingo, 8 de março de 2009

Mulheres...

O Café Cultural relembra a passagem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, data que marca a contínua luta das mulheres - que atualmente somam mais da metade da população mundial - pelo reconhecimento de seus direitos em todos os âmbitos: familiar, institucional, político, cultural e econômico.

Brooke Shields

*Tu és mulher
Tu és um ser
Que pode ser mais do que é
Um passarinho, fruta qualquer
Pode ser doce
O fel até

Pode não ser como quiser
Mas serás a guerra e a paz
Serás o bem e não será demais
O mal me quer
Ser se quiseres




Pois as mulheres são tão iguais
À natureza e aos rapazes
Que tudo fazem ou nada fazem
Senão viver como capazes
De fazer, de acontecer
De adormecer quando chover
Ou de morrer de um amor comum
Que qualquer um pode querer





Lúcia Veríssimo



Camila Pitanga


Pode levar na bandeja/A cabeça de um cristão/ Pode servir ou vir a ser/ O seu próprio sim ou não.



*Os versos supracitados são da canção Mulher, de Raimundo Fagner e Capinam. Essa música foi incluida num magistral disco de Fagner, intitulado "Beleza", de 1979.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Mensagem aos leitores.

Prezados leitores,

Mais uma vez as atividades rotineiras têm-me deixado desprovido de tempo para atualizar frequentemente o Café Cultural - fato que me entristece, pois sempre tive a exacerbada preocupação em apresentar textos novos, interessantes, atrativos e que atendam devidamente o padrão de qualidade ao qual estamos acostumados desde a criação do blog, há quase dois anos. Dessa forma, prefiro os longos hiatos entre uma postagem e outra à inserção não criteriosa de textos que possam fugir do nosso nível de exigência e desvelo.

Tenho atravessado uma fase bastante conturbada em vários âmbitos da minha vida, mas posso assegurar a vocês que as adversidades têm-me causado um certo embaraço, mas ainda não conseguiram arruinar minha inspiração para escrever. Acredito que o tempo se encarrega de colocar cada coisa em seu devido lugar, e que toda nuvem negra é passageira. Meu desencorajamento de hoje pode ser convertido em força e atividade intensa amanhã.

Preparei, com muito afinco, novas postagens que serão publicadas em breve, tão logo eu as revise. Meu propósito é que vocês retomem o prazer de visitar este espaço criado para a profusão de ideias, sugestões e comentários acerca de temas ligados a arte e sentimento.

Boa leitura!

Freddy Simões
Editor-chefe do blog

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A felicidade reside na ignorância.

Eu, solitário e desesperançado, confesso já estar ficando um tanto cansado de exercer diariamente a tolerância e a candura com os que me cercam. As pessoas esperam de mim muito mais do que eu talvez possa oferecer a elas. Preciso ter um sorriso sempre plantado no rosto, serenidade na voz e eterna disposição para ouvir, entender, esperar, doar a mim mesmo e fazer concessões o tempo inteiro, despretensiosamente. Pergunto: quem se importa com o que sinto e sou? Quem estende uma mão amiga em meus momentos de fraqueza e angústia? A verdade é que cada um só quer olhar para si, pois enxergar um palmo à frente do nariz significa ter a árdua tarefa de compreender com mais profundidade o ser humano, com todas as suas complexidades e mazelas emocionais. E quem enxerga o mundo sem viseiras livra-se simultaneamente das amarras da mediocridade, e sofre mais por saber que a realidade é muito mais cruel e mesquinha do que se imaginava outrora. Decerto, a felicidade reside na ignorância!

Os últimos dias têm sido para mim uma verdadeira prova de fogo, pois vejo minha liberdade cerceada em todos os aspectos, e preciso lutar o tempo inteiro para tentar quebrar todas essas correntes presas a mim. Numa dessas tentativas, resolvi dar vazão a uma paixão arrebatadora, e corajosamente me dispus a admitir para mim mesmo que eu queria engrenar um relacionamento sério e duradouro, pautado em razão e sentimento de amor. Como um bicho acuado e medroso permuta suas angústias em pura valentia, algumas pessoas fazem exatamente o contrário: transformam seus receios em ações de covardia e desdém. E foi isso que aconteceu com a contraparte, ao ceder à vil chantagem emocional de uma 'persona non grata' que, motivada por ressentimentos, só quis me destituir de crédito, em vias de injúria e maldade, causando sofrimento psico-emocional em minha humilde pessoa.

Meu defeito mais humano é amar em demasia, mas não posso ser diferente. Sou um anjo carnal, e não cabe a mim a tristeza ou a vergonha. A minha razão agora passa a prevalecer sobre minha emoção, e renuncio a mais um amor, na certeza de que ofereci o melhor de mim. Em meio a tanto descaso e desamparo, meu bom humor ainda me faz vislumbrar beijos e baladas, bossas e sambas numa partitura contínua de esperança!

Os amores passam, mas as canções ficam! E o carnaval tá chegando... Viva o mês de fevereiro! Viva a música! Viva Vercillo! Viva a gente!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Descaso

Domingo, noite
Céu, estrelas
Limbo, leito
Paixão nova
Cores belas
Longe-perto
Açoite, peito
aberto em chaga, dor...
Sangue jorra
Frio arde
Luz se apaga
- Que demora!
Não me mate, amor...
Vazio, já vou tarde
O descaso não tem hora
Tanta espera me cansou!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Novo CD solo de Marcelo Camelo nas lojas em setembro!

O primeiro disco solo do ex-hermano, totalmente autoral, intitulado "Sou", chegará às lojas no próximo dia 08/09. Gravado desde novembro de 2007 pelo selo independente Zé Pereira, o CD já teve a faixa Doce solidão disponibilizada para download no MySpace do artista em março de 2008. A partir desta sexta-feira, 29/08, serão disponibilizadas dez das quatorze faixas do álbum para download gratuito no portal Sonora, do Terra. A turnê nacional de lançamento do disco inicia-se em Recife-PE, no festival Coquetel Molotov, no dia 19 de setembro, e segue pelas principais capitais até o fim do ano.