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domingo, 4 de abril de 2010

A um amigo poeta


Às vezes me pergunto se o poeta está predestinado à solidão. Ele não tem norte, direção... Caminha sem bússola por entre matas fechadas. Vive afogado em seus mares de temores, segredos e amores. O "silêncio" das palavras é a sua arma mais poderosa. Ele faz da escrita a válvula de escape do seu desespero. Utiliza o lirismo como alimento necessário e indispensável à sua subsistência. É extremamente exigente e meticuloso em seus trabalhos. Irrita-se e alegra-se com facilidade. Chora e sorri na mesma intensidade. Ama a seriedade e o escracho. Prefere os labirintos às linhas retas. É quase sempre criticado e incompreendido. Aprisiona-se em seu próprio sonho de liberdade. Eleva-se espiritualmente mas se rende aos vícios terrenos. Aprecia as adegas e as tabacarias. Algumas vezes, ele é humilde; outras, narcisista. Não perdoa os próprios erros. Odeia a incoerência e permanece nela.

O poeta expressa seus sentimentos de uma forma tão ímpar que as emoções se sobrepõem aos seus desatinos. Tentar classificá-lo e entendê-lo é como reduzir-lhe o coração e o pensamento à mediocridade. Poetas não vieram ao mundo para serem compreendidos, mas para deixarem seu legado aos demais.

domingo, 8 de março de 2009

Mulheres...

O Café Cultural relembra a passagem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, data que marca a contínua luta das mulheres - que atualmente somam mais da metade da população mundial - pelo reconhecimento de seus direitos em todos os âmbitos: familiar, institucional, político, cultural e econômico.

Brooke Shields

*Tu és mulher
Tu és um ser
Que pode ser mais do que é
Um passarinho, fruta qualquer
Pode ser doce
O fel até

Pode não ser como quiser
Mas serás a guerra e a paz
Serás o bem e não será demais
O mal me quer
Ser se quiseres




Pois as mulheres são tão iguais
À natureza e aos rapazes
Que tudo fazem ou nada fazem
Senão viver como capazes
De fazer, de acontecer
De adormecer quando chover
Ou de morrer de um amor comum
Que qualquer um pode querer





Lúcia Veríssimo



Camila Pitanga


Pode levar na bandeja/A cabeça de um cristão/ Pode servir ou vir a ser/ O seu próprio sim ou não.



*Os versos supracitados são da canção Mulher, de Raimundo Fagner e Capinam. Essa música foi incluida num magistral disco de Fagner, intitulado "Beleza", de 1979.

sábado, 21 de junho de 2008

O que é blasfêmia?

É a difamação, por meio da fala ou da escrita, de um ou mais deuses ou figuras sagradas de determinada religião. Algumas vezes, o termo, derivado do grego blasphemein - de blaptein, prejudicar, e pheme, reputação -, também é empregado como significado para insulto. O Levítico, terceiro livro do Velho Testamento, defende que "quem blasfemar o nome do Senhor está morto". No Evangelho de Lucas, é dito que blasfemar contra o Espírito Santo é imperdoável. O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, não é menos rígido: afirma que Alá perdoa todos os pecados, exceto descrer em Deus, ou seja, a blasfêmia. Para os seguidores do islã, falar mal de Maomé e de qualquer outro profeta citado no Corão ou na Bíblia também é considerado uma blasfêmia. O curioso é que, mesmo em tempos de secularismo e separação entre Igreja e Estado, vários países ainda adotam leis de blasfêmia. É o caso da Inglaterra, da Finlândia e da Alemanha, entre outras nações européias. No mundo muçulmano, a pena para os blasfemos é dura no Paquistão, variando da prisão perpétua à pena de morte. E não podemos esquecer do Irã, que, em 1989, condenou à morte o escritor britânico Salman Rushdie, autor de Os Versos Satânicos, por supostas blasfêmias contra o islã. A condenação foi revogada em 1998, depois de tratativas entre Irã e Inglaterra.

Fonte: Revista Vida Simples, n° 66 (Maio/2008) - Editora Abril.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Sangue, mistério e arte.

A seguir, duas histórias escabrosas de crimes. A primeira é fictícia e a segunda é real. Ambas guardam bastante similaridade entre si:

Sweeney Tood - O barbeiro demoníaco da Rua Fleet

Histórias fantásticas com temática sombria sempre foram o forte do diretor de cinema, Tim Burton, que lançou recentemente o musical "Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da Rua Fleet", estrelado por Johnny Depp, ator quase onipresente nos filmes do diretor, e Helena Bohan-Carter, talentosa atriz, esposa de Burton.

A trama de Sweeney Todd - que muitos dizem ser verdadeira - originou-se do romance "The string of pearls" e conta a saga de Benjamin Barker,
nascido e crescido na Londres do século XVIII, empestada por doenças, poluição, pobreza e corrupção. Foi aprendiz de barbeiro, teve noções de anatomia e de como assaltar com mão leve os bolsos dos clientes. Após sair da cadeia, abriu uma loja na Rua Fleet e se casou com uma linda jovem, que atraiu a cobiça do juiz da cidade (vivido no filme por Alan Rickman). O casal cai numa cilada da Justiça e é separado. Benjamin Barker (Johnny Depp) fica numa prisão na Austrália durante 15 anos. A esposa dele morre envenenada, dizem, e sua filha passa a ser criada e protegida pelo juiz, que a mantém em cárcere privado. Após cumprir pena, o barbeiro volta à Europa, com o nome de Sweeney Todd, em busca de vingança. Nasce, dessa forma, a lenda.

Johnny Depp e Helena Bohan Carter no filme
Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da Rua Fleet


De volta à barbearia na Rua Fleet, Todd encontra a proprietária do imóvel, Srta. Lovett (Helena Bohan-Carter), que guardou todas as suas navalhas e um amor indelével e incondicional por ele. Os dois se unem em uma trama de vingança e decidem também reerguer a falida loja de tortas de Lovett. As vítimas da cadeira do barbeiro tinham as gargantas cortadas e seus corpos jogados no moedor que ficava no porão, para depois virarem recheio das tortinhas. No total, foram mais de 160 mortes. A história de Todd virou inspiração para vários espetáculos teatrais, filmes e televisão. Em 1973, um dramaturgo britânico apresentou a trama de vingança de Todd e do juiz de Londres no palco. É esta versão que inspirou o aclamado compositor Stephen Sondheim a montar o espetáculo definitivo, cujas canções encantaram Tim Burton.

Os crimes da Rua do Arvoredo

No Brasil também houve um caso escabroso e real que guarda algumas semelhanças com a história de Sweeney Todd: em 18 de abril de 1864, a polícia de Porto Alegre deparou-se com uma cena de crime horripilante: no porão da casa de José Ramos e Catharina Palse, na Rua dos Arvoredos, estavam enterrados os pedaços de um corpo humano, já em avançado estado de decomposição. O cadáver havia sido retalhado, com a cabeça e membros do tronco, e este, por sua vez, repartido em vários pedaços. A vítima havia sido identificada: era o alemão Carlos Claussner, dono de um açougue na Rua da Ponte. Ao examinar um poço desativado na casa, a polícia encontrou vários outros corpos esquartejados. A motivação dos crimes era evidente : Ramos e Palse mataram para se apossar dos bens de suas vítimas. Os crimes causaram repugnância, especialmente depois que uma série de boatos davam conta de que o casal assassino fazia lingüiça com a carne das vítimas e vendia o produto num movimentado açougue de Porto Alegre. Detalhe: as lingüiças tinham boa aceitação entre os consumidores. A polêmica sobre a veracidade da lingüiça de carne humana até hoje divide os gaúchos, embora esse fato jamais tenha sido mencionado nos autos dos processos existentes. A difusão da lenda justifica-se na assertiva de que a cidade de Porto Alegre era uma verdadeira Babel de imigrantes de diferentes nacionalidades e culturas, ou seja, um ambiente propício à criação de lendas e histórias fantásticas.

Rua do Arvoredo na época dos crimes

A Rede Globo exibiu em 27 de abril de 2006 o programa Linha Direta Justiça, contando a história desse que se tornou o caso policial mais famoso do Rio Grande Sul, e que ficou conhecido como Os Crimes da Rua do Arvoredo. O episódio televisivo foi estrelado por Carmo Dalla Vecchia, na pele do assassino José Ramos, e Natália Laje, como sua mulher Catharina, cúmplice nos crimes.

Perfil dos assassinos:

José Ramos (autor dos crimes)

Ramos era ex-soldado da Polícia, gostava de música, freqüentava o recém-inaugurado Theatro São Pedro e andava bem vestido. Enfim, era, como se dizia na época, um boa-vida. Aproximava-se de suas vítimas com desfaçatez. Apresentava-se como amigo e sempre oferecia alguma vantagem, para atrair a vítima à morte.

Depois de matá-la, apropriava-se de seus bens. Era extremamente cruel, pois matava as vítimas com golpes de machado na cabeça, as degolava e esquartejava, antes de sepultar seus corpos. Era mistura de serial killer, cínico, descarado e mentiroso.

Carmo Dalla Vecchia
interpretando o assassino José Ramos



Catharina Palse (cúmplice)

A húngara amásia e cúmplice de José Ramos era uma mulher de grande beleza. Atraía as vítimas para a tal casa-açougue, para que fossem mortas por José Ramos, esquartejadas e, com a carne, eram fabricadas as lingüiças, que eram vendidas no comércio da cidade (nota-se aí a semelhança dos assassinos José Ramos e Catharina com os respectivos personagens de Johhny Depp e Helena Bohan Carter no filme Sweeney Todd).

Natália Laje no papel de Catharina Palse,
cúmplice de José Ramos nos crimes


Arquivo nacional

O processo dos crimes da Rua do Arvoredo encontra-se hoje guardado no Arquivo Nacional (RJ), apesar da crença generalizada no sumiço dos papéis. Segundo o historiador Décio Freitas, autor do livro O maior crime da Terra (Editora Sulina, 1998), o processos estão incompletos, são todos manuscritos e de difícil compreensão, o que torna a investigação do texto uma tarefa árdua. Portanto, jamais se saberá se a história é completamente verdadeira, pois somente as folhas faltantes nos autos é que poderiam dar algum indício sobre a veracidade das tais lingüiças ou não.


Fontes pesquisadas:

Livros:

- COIMBRA, David. Canibais, paixão e morte na Rua do Arvoredo. C.L&PM Pocket, 2005;

- FREITAS, Décio. O maior crime da Terra - O açougue humano da Rua do Arvoredo (1863-1864). Editora Sulina, RS, 1996.

Internet:

- Site da Rede Globo/Linha Direta:

http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-226046,00.html (acessado pela última vez em 15/04/2008).

- Wikipédia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Crimes_da_Rua_do_Arvoredo (acessado pela última vez em 15/04/2008).

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Outro mundo

A profissão de jornalista nos dá a grata oportunidade de ouvir histórias interessantes - nem todas felizes, mas sempre interessantes e, sobretudo, surpreendentes! Muitas vezes, acreditamos que os melhores relatos nos virão de grandes intelectuais, mas acabamos admirados com os relatos de pessoas simples.

Semana passada, fiz algumas entrevistas para uma pauta (assunto de uma reportagem) sobre pichações. Dentre todas, uma em especial chamou a minha atenção. O entrevistado: um franzino adolescente, pichador. Simpático e disposto a revelar tudo sobre o assunto, relatava com entusiasmo os feitos dele.

Contou-me que começou a pichar por influência dos amigos e que parou de estudar na 5ª série. “Pichar é um vício”, afirmou. Disse percorrer vários bairros em busca de um alvo a ser pichado. Feito ele, outros jovens buscam de fama e emoção. Sentem-se heróis. Eu estava diante de uma realidade completamente diferente da minha. Aquele garoto parecia viver em outro mundo, ou sou eu que vivo?

As “tags” (nome dado às assinaturas deles), em geral, são acompanhadas de uma sigla, que se refere ao bairro ou ao grupo dos pichadores. Quando um deles picha em outro bairro, gera um descontentamento no grupo deste bairro. “É uma ofensa. Então vamos pichar no deles também.”

O menino disse ficar frustrado quando faz uma “tag” pequena. “Gosto de detonas grandes.” Sempre me surpreendia com uma palavra do vocabulário dele. “Detona é o mesmo que piche”, explicou-me. Só um alvo escapa: as igrejas.

Espantava-me sua tamanha destreza e aptidão para pichar nos lugares mais altos e inusitados. Então, perguntei-lhe como ele e seus colegas conseguiam pichar viadutos. “Ah, isso é muito fácil. A gente se pendura com uma mão e picha com a outra.” E o fazem sem a menor proteção. Para pichar prédios, algumas vezes, contam com a ajuda de funcionários ou “molham as mãos deles”. São alpinistas urbanos.

O rapaz contou-me, com orgulho, que é um dos mais importantes do grupo dele. Sua família sabe? Perguntei-lhe. Disse que não. “Uma vez a minha mãe desconfiou, mas inventei uma história. Não quero dar esse desgosto a ela.” Tão jovem e já perdeu muitos amigos. Em tão tenra idade e já deu de cara com a morte. Afirmou ser consciente do crime que pratica. Entretanto, garantiu que não teme a polícia. “Tenho medo mesmo é dos encapuzados (integrantes de grupo de extermínio)”. Ele não sai para pichar sem pedir a proteção divina. “Temos até uma oração. A oração do pichador”, revelou.


“Ser pichador dá prazer, mas você pode pegar o bonde para o inferno ou para o céu mais rápido. Quero sair dessa vida, não quero morrer.” Contudo, quando o problema está relacionado ao vício, não é fácil resolvê-lo. O garoto disse que no dia da entrevista faria a última pichação. Ninguém acreditou, e eu nem sei se acredito. No entanto, torço para que tenha sido verdade. Vi nos olhos dele uma vontade enorme de viver, de escrever uma outra página na sua história. Ele precisava de ajuda. Porém, eu me sentia com as mãos atadas. O que eu poderia fazer? Aconselhá-lo? Aconselhei. E rezar por ele é tudo o que posso fazer. Talvez nunca mais o veja, e essa incerteza me angustia. Quero saber como ele está, e se acaso conseguiu livrar-se do vício (se é que esse comportamento pode ser classificado como tal). Já tive, inclusive, a fachada da minha casa pichada, e confesso ter sentido raiva dos que fizeram isso, mas não consigo mais condená-los, pois, talvez - da mesma forma que aquele menino - eles também não tenham uma família estruturada. E falta de estrutura não quer dizer falta de dinheiro, e sim falta de amor, de atenção, de educação e de carinho.


Crime: pichar é considerado crime ambiental previsto na lei n° 9.605/65, com penas de multa e detenção que variam de três meses a um ano. Se o prédio for tombado, a punição mínima aumenta para seis meses. Mas, no geral, a penalidade fica só na prestação de serviços comunitários.

sábado, 8 de setembro de 2007

Película: o espírito aventureiro de Fernanda Gurgel e o cinema potiguar na Ilha de Fidel Castro

Semelhança com o comunismo não será coincidência ao se falar em Fernanda Gurgel. Pelo menos não em espírito. Aventureira por natureza, esta garota de semblante tímido esconde um coração desbravado. Mochila nas costas e lá vai ela explorando a Mata Atlântica de João Pessoa a Natal a pé. O próximo destino será a cidade de Santo Antonio de Los Ban’os, a 35km de Havana, capital de Cuba, onde vai cursar cinema.
Em Cuba, Fernanda vai fazer o curso regular de três anos da EICTV – Escuela Internacional de Cine y Televisión. O curso é pago (12.000 Euros pelos três anos), e a escola garante hospedagem, alimentação, atendimento médico e transporte para Havana nos fins de semana. As aulas começam dia 10 de Setembro, mas todos os brasileiros vão chegar depois, dia 13, data que conseguiram as passagens através do Ministério da Cultura. O curso termina em 30 de julho de 2010.
Seria uma história simples se fossem necessários apenas os euros para estar lá, mas o roteiro vai além do vil metal. Os testes foram realizados nos dias 13 e 14 de abril, em Belo Horizonte e em Recife. “As provas foram cansativas, cada um tinha 15 questões discursivas. Isso foi no dia 13, no dia 14 fizeram entrevistas. Fora isso a gente tinha que entregar currículo e portifólio. Depois dessa etapa, ficamos aguardando o resultado da banca. Só os selecionados pela banca brasileira teriam seu material enviado a Cuba para a seleção final”, conta Fernanda.
Participaram da seleção 133 candidatos dos quatro cantos do país. Apenas 15 foram selecionados pelas bancas brasileiras, em BH e Recife. Na seleção final feita em Cuba, passaram sete candidatos do Brasil, três do nordeste. Fernanda Gurgel á única potiguar aprovada. Porém, a maratona intelectual ainda não é clímax desse roteiro. Em abril deste ano, Fernanda e mais seis amigos fizeram uma viagem estilo mochilão pela América do Sul, cujo principal objetivo era chegar a Machu Picchu, no Peru. O primeiro país por onde passaram foi a Bolívia e de lá mesmo Fernanda retornou ao Brasil. “Passei mal, a princípio com dor de cabeça, enjôo e falta de ar. Depois comecei a sentir dormência no braço e na perna esquerda e a vista bastante escurecida. Percebendo que não ia conseguir continuar (pois a viagem ficaria cada vez mais puxada, incluindo uma trilha de quatro dias para chegar a Machu Picchu) voltei ao Brasil, e em São Paulo fiz exames que detectaram um AVC por dissecção de carótida. Essa dissecção foi uma lesão na artéria do pescoço que provocou a formação de um coágulo que se alojou do lado direito do cérebro. Esse tipo de AVC é muito raro e no meu caso a dissecção foi considerada espontânea, pois não sofri nenhum trauma no pescoço que pudesse ter sido a causa. A altitude em La Paz, a alta de pressão e o stress podem ter sido fatores que contribuíram, mas não foram considerados causas diretas”, relata.
Já em Natal, a recuperação incluiu remédios anticoagulantes e exames de sangue periódicos, sessões de fisioterapia, natação e muito descanso. Em junho a EICTV divulgou o resultado da seleção 2007 e Fernanda, apesar do tratamento, em momento algum cogitou desistir da viagem. “A partir daí comecei a me preparar para a viagem, ainda sem saber se seria liberada pelos médicos e logicamente, sem deixar as atividades de recuperação do AVC. Fiz alguns exames que determinaram que a artéria carótida já se recuperou e está com fluxo sangüíneo normal. Segundo a avaliação do hematologista, o coágulo também já se dissolveu. Diante disso os médicos me liberaram para viajar” diz.
Hoje, ela se movimenta normalmente (antes mal conseguia mandar um e-mail) e o formigamento diminuiu quase 100%. A visão está melhor e Fernanda agora leva uma vida normal, inclusive realizando alguns trabalhos.“Sempre gostei da área do audiovisual e desde a faculdade comecei a desenvolver trabalhos em vídeo, dos quais destaco o Making of "Fabião das Queimadas – o poeta da Liberdade", registro dos bastidores do primeiro documentário realizado no RN pela série DOC TV do Ministério da Cultura, em 2004. De lá para cá tentei melhorar meus conhecimentos através de um curso de edição em São Paulo, trabalhando em produtoras de Natal e realizando alguns trabalhos independentes. Em 2007 eu pretendia voltar a estudar e fui informada pela amiga Rosália Figueiredo, roteirista da TVU, que haveria a seleção para a Escola de cinema de Cuba. Como eu ainda me enquadrava no primeiro critério de seleção (ter de 22 a 28 anos) resolvi tentar.”Planos para capturar o Rio Grande do Norte em imagens Fernanda não faz. “Ainda não tenho planos para quando voltar. Estou tendo que resolver tantas coisas agora que ainda não consegui pensar no futuro. E geralmente as coisas vão acontecendo comigo sem eu planejar muito. Se eu conseguir desenvolver boas idéias em cinema ou TV no RN será ótimo.”
Para Fernanda, o cinema no Estado está engrenando. Ela destaca a ABD & C/RN, o Cineclube e a Ong Zoon como responsáveis por essa efervescência. Entre os produtores, a Caminhos Comunicação & Cultura, Buca Dantas, Carlos Tourinho, Marina Cruz e o Projeto Vernáculo. “É só ficar de olho nos festivais, mostras ou até na programação de alguns canais locais para vermos trabalhos destes autores citados e comprovar sua importância”, avisa.
Fernanda Pires Gurgel nasceu em 1982, no Rio de Janeiro, mas foi criada em Natal, onde concluiu jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2004. A inclinação para a arte está no sangue. Fernanda é filha do mossoroense Tarcísio Gurgel, jornalista, professor de literatura potiguar na UFRN e roteirista de espetáculos como o “Chuva de Balas” e “Auto do Natal”, e da pautense Ione Pires Gurgel dos Santos, além de sobrinha do folclorista Deífilo Gurgel.
A EICTV – A Escuela Internacional de Cine y Televisión é o projeto acadêmico mais importante da Fundação do Novo cinema Latinoamericano (FNCL). A Fundação, com sede em Cuba, foi criada no mês de dezembro de 1985 sob auspício do Comitê de Cineastas da América Latina e é presidida, desde seu início, pelo escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, decidindo na primeira reunião de seu conselho reitor a criação da EICTV.
Graças ao apoio entusiasta do governo cubano, a Escola foi inaugurada um ano depois, em 15 de dezembro de 1986. Seu primeiro diretor foi Fernando Birri, realizador argentino de grande prestígio, precursor do movimento do Novo Cinema Latinoamericano e de alguma maneira profeta do projeto. Concebida como uma escola de formação artística, a EICTV pôs em prática uma filosofia particular: a de ensinar não através de mestres profissionais, mas sim de cineastas atuantes, capazes de transmitir conhecimentos adquiridos pela prática, em constante atualização. Seu atual diretor geral é o realizador cubano Julio Garcia Espinosa.
A EICTV é uma central de energia criativa para a produção audiovisual com processos docentes e de aprendizagem atípicos e um espaço comum de convivência entre professores, estudantes e trabalhadores. A EICTV tem como objetivo primordial desenvolver o talento criador e defender o direito de dispor da própria imagem tanto como o direito de ver cinema de todas as partes a fim de contribuir com a liberdade do espectador, que é inseparável da liberdade do criador.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Considerações acerca do ódio.

"Esse meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra".

(Marjori Stock)


Na definição dos dicionários mais comuns, ódio é o rancor profundo que se sente por alguém ou algo, assim como o desejo de evitar, limitar, destruir o seu objetivo; aversão intensa motivada por raiva ou injúria sofrida; ojeriza; repugnância. O ódio, de acordo com a definição do judaísmo, não passa de um grande mal-entendido, igualado a coisas que não é, e sendo classificado como um dos males mais tenebrosos, quando, na verdade, não passa de uma emoção humana, tal qual o amor.

Classificar o ódio como mau sentimento é, no mínimo, contraditório: não se pode odiar, por exemplo, os bandidos que arrastaram até a morte o garotinho por várias ruas do Rio? Não se pode odiar o racismo, o preconceito, a barbárie? Não se pode odiar o ódio? Há ódio bom e ódio ruim? A questão é demasiadamente complexa!

Na arte, o ódio é representado de várias maneiras. Eis alguns exemplos:

- Pintura

“O ódio”, do pintor espanhol José Luis Fuentetaja, 1971.

- Teatro

Uma das mais famosas peças de teatro que retratam o ódio se chama “Medéia” (431 a.C.), do dramaturgo Eurípedes, que deu (mais do que nenhum outro) novos elementos à tragédia grega. A peça apresenta o perfil psicológico de uma mulher carregada de amor e ódio a um só tempo; estrangeira perseguida e esposa repudiada; tomada de uma fúria terrível, mata os filhos que teve com o marido para se vingar dele e se automortificar. Consiste numa das mais importantes personagens femininas da dramaturgia mundial. A seguir, excertos de Medéia:

“(...) Vim pedir ódio. Vim pedir a coragem da vingança. Vingança é o único alento do oprimido, sua única esperança! (...) Gosto de sangue na minha boca. O homem pai dos meus filhos, que ajudei com a minha juventude, vai se casar com outra. Ele viajou seis meses, voltou, não deu sinal, foi na boca anônima que eu ouvi que ele ia se casar – pelo meu homem confiei nesta vida tão sobressaltada e agora eis-me abandonada, com dois filhos, sem dinheiro, sem parente para me receber e chorar minha raiva mais do que eu. (...) Eu já estou morta. Mas a morte só não basta. Eu quero o vento da desgraça”. (Med.,p.135)

- Literatura

Sobre o ódio, o escritor Ferreira Gullar fez um poema em julho de 2003, especialmente para a Exposição de Arte: “Israel e Palestina – Dois Estados para Dois Povos”. Veja trecho:

(...)
O mais baixo dos sentimentos humanos é o ódio
Não cria nada.
Não traz felicidade, mas desgraça.

Matar o irmão do outro
Não faz reviver o teu irmão

Apenas gera mais ódio e fúria
E mais luto em tua própria casa.

A inteligência existe para tornar o homem melhor
Para fazê-lo compreensivo e cordato
Para que se entenda com os outros homens.

Com a inteligência distinguimos o justo do injusto
A inteligência nos ensina
Que todos os homens têm direito a seu chão,
À sua pátria
E à liberdade de governar a sua vida

Nenhuma força é capaz de apagar a injustiça
E domar o injustiçado
O caminho da paz é o entendimento
Jamais a imposição e o terror.

Quem de fato desejaria um futuro de desgraças e morticínio?
Só a besta-fera.

O homem sonha com um futuro de paz e felicidade
Que não nasce da violência
Mas do diálogo.

Todos os que se odeiam e se matam
Alegam razões para isto.
E ninguém os convencerá do contrário.
Só chegarão a um acordo
Quando se sentarem à mesa e disserem:

“Esqueçamos as ofensas passadas”.


- A poetisa portuguesa Florbela Espanca, apesar de sua vida repleta de decepções e dissabores, preferiu a resignação ao ódio:

Ódio por ele? Não... Se o amei tanto
Se tanto bem lhe quis no meu passado
Se o encontrei depois de ter sonhado
Se à vida assim roubei todo o encanto

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo d’outra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... Não vale à pena...


- Música

Na música brasileira, são inúmeros os exemplos. Dentre os campeões de compositores que exprimem ódio em suas canções, figuram Renato Russo, Cazuza e Ângela Rô Rô.

- Renato Russo declarava ódio aos seus desafetos, às injustiças sociais e à estupidez humana. Era um ódio ressentido, muitas vezes motivado por um coração partido e desesperançado em relação ao futuro de si mesmo e do mundo. Veja trechos de algumas letras:

(...)
Veja bem quem sou
Com teu amor eu quero que sintas dor
Eu quero ver-te em sangue e ser o teu credor
Veja bem quem sou

Trouxe flores mortas pra ti
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir.

(A tempestade)


(...) Sai de mim
Que eu não quero mais saber de você
Esse ‘eu te quero’ já não me convence mais
E agora já nem me incomoda

Sai de mim
Não gosto de ser rejeitado
E agora não tem volta

Eu pego o bonde andando
Você pegou o bonde errado
Sua curiosidade é má
E a ignorância é vizinha da maldade
E só porque eu tenho, não pense que é de mim
Que você vai ter e conseguir o que não tem
Só estou aberto a quem sempre foi do bem
E agora estou fechado pra você.

(Do espírito)

(...) Volta pro esgoto, baby!
Vê se alguém te quer.
O que ficou é esse modelito
Da estação passada

Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato
Teus truques banais
Você acabou ficando pra trás.

(As flores do mal)


(...) Eu sou, eu sou
A pátria que lhe esqueceu
O carrasco que lhe torturou
O general que lhe arrancou os olhos
O sangue inocente de todos os desaparecidos
O choque elétrico e os gritos:
- Parem, por favor! Isso dói.


Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda.
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém...

(La Maison Dieu)


Tudo o que você faz
Um dia volta pra você
Se você fizer um mal
Um mal mais tarde
Você vai ter que viver

Não me entregue o seu ódio
Sua crise existencial
Preliminares não me atingem
O que interessa é o final
E não me venha com problemas
Sinta sozinho o seu mal

Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo, não
Melhor do que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração

Os aborígenes na Austrália
Com um boomerang vão caçar
O boomerang vai e volta
E só fica quando consegue acertar
E eu sou como um boomerang
Quando eu acerto é pra matar
(...)
Como um boomerang tudo vai voltar
E a ferida que você me fez
É você que vai sangrar.
Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo, não
Melhor do que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração...

(Boomerang blues)

- Cazuza também fazia uso da acidez das palavras e da ironia para expressar seu ódio aos fracos, medíocres, hipócritas e caretas:

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal-plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não tem

Pra quem vê a luz
E não ilumina suas mini-certezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia.
Pra quem não sabe amar
Fica esperando alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só pras pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar os blues
Com um pastor e um bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade...
(Blues da piedade)


- Angela Rô Rô, famosa por seus blues e jazz de emoções confusas, bem como por seu temperamento bombástico, foi manchete, no início dos anos 80, em vários jornais que noticiaram sua agressão à cantora e então namorada Zizi Possi. O notável rancor profundo à ex-amante é destilado nas suas letras confessionais. Nota-se no conteúdo o uso de mecanismos de defesa no intuito de proteger seu Ego da dor e "ficar por cima" na situação:


Tola foi você ao me abandonar
Desprezando tanto amor que eu tinha a dar
Agora, veja bem, o mal é vai e vem
É só esperar...

(Tola foi você)

Quisera eu ser traída pelo corpo
Um pecado quase morto
Do que ser traída assim
Covardemente, pela mente sedutora
Pois do crime foste autora
E a lei caiu em mim

Não acredite que você lucre com isso
Pois promoção eu faço também dar sumiço
E eu nem preciso rogar praga de madrinha
Pra saber que brevemente estarás mal e sozinha

Sua cabeça sempre foi fraca e abusada
E não estava preparada pro amor que eu dediquei
Não me arrependo, vou jogar bola pra frente
Pois atrás sempre vem gente
E com amor nunca brinquei.
(Fraca e abusada)


Enfim, desde que mundo é mundo, o ódio permeia os corações com a mesma facilidade que seu antagônico, o amor. Ódio e amor assemelham-se justamente por serem emoções extremas, às quais o ser humano é tão vulnerável. E não há razão que justifique a existência de um ou outro: eles simplesmente existem, às vezes adormecidos, prestes a despertar ao toque mais sutil. Embora haja discordância de opiniões, é possível que ódio e amor caminhem juntos, simultaneamente, pois a mente humana é repleta de idiossincrasias, o que contraria a crença de que “quem carrega amor no coração não pode sentir ódio”, até porque quase sempre o ódio não é gratuito, e sim derivado de um amor não correspondido ou decepção sofrida.


“O ódio, que julgas ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente”. (Chico Xavier)


domingo, 26 de agosto de 2007

Considerações acerca do amor.

Amor: palavra tão simples, sentimento tão complexo. Pessoas insistem em distorcer o sentido de tal vocábulo, banalizando seu uso e associando-o a sensações menores, como a paixão. O verdadeiro amor só foi feito para nos trazer paz, alegria e toda uma gama de coisas positivas. E mais: ele só existe se houver reciprocidade. O amor maior não é carnal, mas altruísta. Independe de tempo, espaço e condição. Amor puro nos dá segurança e estabilidade. Já a paixão é responsável por uma série de doenças emocionais.

É bom ficar apaixonado: desejar, ter e dar prazer! Porém, tais sensações desaparecem na mesma velocidade com que surgem. No final, o saldo é a solidão, a qual nos torna vulneráveis a inúmeros vícios e exageros de toda espécie.

O amor nos esclarece. A paixão nos cega. Amor cura. Paixão fere... O amor é um "abrir-mão" de muitos princípios, tabus, caprichos e vaidades; por isso, é um sentimento tão difícil de ser cultivado, pois ainda somos egoístas e possessivos. Queremos prender, mas deveríamos libertar! Quando estamos apaixonados, costumamos creditar nossa razão de viver à existência da "pessoa amada" e desconhecemos que a felicidade deve partir de nós mesmos.

Amor é nobre, grandioso e se manifesta de várias formas: numa palavra amiga, num ato de caridade para com o próximo, num beijo sincero, na indulgência, no respeito, no cuidado consigo próprio e com os que nos rodeiam, na espiritualidade, na canção, nos momentos de silêncio etc.

Por outro lado, as paixões, por serem pequenas e mesquinhas, são fáceis de se reconhecer, pois todas têm, basicamente, as mesmas características: ciúme, dependência, orgulho exacerbado e posse.

Sabemos amar?

domingo, 5 de agosto de 2007

Uma rica mistura

A minha mãe costuma contar que por pouco eu não nasci no Rio Grande do Norte (nada contra), é um lugar lindo, mas, graças ao bom Deus, sou pernambucana. Filha desta terra multicultural e multirracial. Sou filha desta rica mistura.

Pernambuco reúne de forma harmônica uma infinidade de culturas, raças, credos e ritmos. Além de uma exuberante beleza natural, composta de um vasto litoral e um rico interior. A alegre miscelânea de estilos e ritmos é marca registrada desse Estado. Ritmos como o frevo, maracatu, caboclinho, ciranda, xote, xaxado, coco, baião e manguebeat são frutos da união entre o moderno e o tradicional. Criados a partir da genialidade de mestres como o rei do baião Luiz Gonzaga e o mangueboy Chico Science.

Pernambuco foi palco de memoráveis batalhas. O seu solo foi regado pelo sangue de bravos guerreiros e berço de grandes intelectuais. Aqui, há uma das maiores concentrações de fazedores de arte do país. Com seus entalhes de madeira, cerâmica, tapeçaria, bonecos de barro e pinturas, artesãos traduzem de diversas formas a vida do nosso povo, sofrido, porém marcado pela coragem, alegria e hospitalidade. É possível perceber no rosto de cada pernambucano a multiplicidade de raças. Vê-se neles (em nós) o negro, o índio e o branco mesclados de forma singular.

A natureza foi, realmente, generosa com esse Estado. Uniu o litoral, formado por praias de areia branca, piscinas naturais e águas mornas, ao interior, caracterizado pelo clima quente e, às vezes, úmido e frio das cidades serranas. O pernambucano convive com os encantos do litoral e o aconchego do interior.

Não posso esquecer de falar da bandeira de Pernambuco, que é a mais bela dos Estados tupiniquins. Carregada de significados, é exibida com orgulho pelos seus filhos e pelos visitantes que, à primeira vista, apaixonam-se. Não é difícil amar Pernambuco - difícil mesmo é viver longe daqui... Longe dessa região mágica que abriga homogêneos contrastes; cantada, pintada, declamada, talhada e esculpida pelas mãos de anônimos e fabulosos artistas inspirados na exuberante beleza da “terra dos altos coqueiros”.

Um texto é pouco para descrever esse pedacinho do Brasil que o desbravador espanhol Vicente Pinzón escolheu para atracar. Foi aqui que surgiu o Brasil. Foi neste solo, ricamente adubado pela criatividade, que nasceram: Gilberto Freyre, Capiba, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Nabuco, Alceu Valença, Nelson Rodrigues, Juninho Pernambucano, Geninha da Rosa Borges, José Wilker, Lula Cardoso Ayres, Manuel Bandeira, Ascêncio Ferreira, Frei Caneca, Mestre Vitalino, Lia de Itamaracá, Josué de Castro, Arlete Sales, Antônio Nóbrega, Cícero Dias, Carlos Pena Filho, Mestre Salustiano, Lampião, Patrícia Franca, Padre João Ribeiro, Brennand, Lenine, José Ermírio de Morais, Aguinaldo Silva, Rivaldo, Paulo Freire, Dominguinhos, General Abreu e Lima, Luiz Gonzaga, Barbosa Lima Sobrinho, Nando Cordel, Marco Nanini, Bezerra da Silva, Virgínia Cavendish, Geraldo Azevedo, Henrique Dias, Chico Science, J. Michilles, Padre Roma, Naná Vasconcelos. Só para citar alguns. Há tantos outros que ainda estão para nascer. Há tantos que ainda hão de brilhar...

Para entender todo o encantamento que Pernambuco causa nos filhos e nos visitantes, só vindo até aqui e conhecendo os mínimos e fascinantes detalhes dessa terra única, sedutora, apaixonante... imortal, imortal, imortal.


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Asas cortadas

Gostaria de fazer uma abordagem muito pessoal sobre a bela canção ASAS CORTADAS, a qual considero a mais interessante do CD “Livre” do Jorge Vercilo, lançado em 2003. A letra fala (nas entrelinhas) de um homem que, quando criança, queria “ganhar o céu, o infinito”, tal qual um pássaro sem medo de voar. Porém, ao crescer, ele percebe que não pode voar tão alto quanto desejara, pois o mundo – em sua vil e insistente ignorância – cortou-lhe as asas, cobrindo-o de limitações. “Eu, pássaro perdido, que ‘avoou’ sem medo quando era menino / Sério, eu chego a me lembrar e logo chega o mundo pra intimidar/ Eles gritam e conseguem me assustar (...)”. Agora, quando ousa alçar vôo, vê-se acuado pelas grades (violência moral) da sociedade e, assustado, fica com medo de cair, pois está há muito tempo convivendo com o ócio que lhe foi imposto. Ele está ocioso em relação às coisas as quais um dia sonhara fazer. O mundo tenta cingir-lhe a vida, impelindo-o à mediocridade. “ (...)Vez em quando bate um vento por aqui/ Abro as minhas asas pra tentar subir/ Mas com tanto tempo preso a essas grades, me esqueci/ E agora tenho medo de cair (...)”.


Nos versos, “Tiê, venha das alturas me salvar (...) sua liberdade me libertará”, Vercilo faz uma inteligente referência ao tiê-sangue, pássaro raro, de cor vermelha, cauda preta e uma mancha branca no bico. É encontrado próximo a capoeiras, restingas e beiras de mata do litoral brasileiro, da Paraíba a Santa Catarina. Uma peculiaridade impressionante desse pássaro o torna especial, distinto das demais espécies: sua beleza é impossível de ser apreciada em cativeiro, visto que, quando preso, ele perde a cor, assumindo um aspecto completamente pálido, alaranjado, desbotado. A beleza do tiê está na proporção de sua liberdade, ou seja, quanto mais LIVRE, mais bonito. Por isso, o tiê é tão amado e tem a sua lindeza citada, cantada, retratada e apreciada pelos poetas e artistas em geral. Não raro os compositores utilizam-se da figura de um pássaro como metáfora para expressar a liberdade (ou a falta dela). Veja o exemplo de Renato Russo, que em sua “Clarice”, nos diz: “(...) eu sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperam que eu cante como antes (...) Mas um dia eu consigo resistir e vou voar pelo caminho mais bonito”.


Nós, seres humanos, somos muito parecidos com o tiê-sangue: carecemos de liberdade para sermos pessoas felizes, realizadas. Precisamos voar bem alto em nossos sonhos, a fim de obtermos a contínua esperança de uma vida melhor, longe de dissabores, vícios, prisões ou de qualquer coisa que subtraia nossa dignidade e nosso amor próprio. Sem isso, nossa vida será desbotada e nosso riso será pálido, triste.


Confesso ter tido a sensação de estar voando ao ouvir ASAS CORTADAS pela primeira vez... No término da música, o Jorge cantando “um dia eu vou voar/ eu já vivi no ar/ vem me ver voar”, a marcação da bateria, a progressão dos acordes... O máximo! Sinto-me gratificado por conseguir reter da musicalidade do Jorge Vercilo esses elementos interessantes que somam coisas boas em minha vida!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

JORGE VERCILO - Parte II (fotos do show) - 12/06/2007.

Salve Jorge! Salve simpatia!

"A paixão veio assim, afluente sem fim, rio que não deságua/ Aprendi com a dor, nada mais é o amor que o encontro das águas."

"Todos os seres em harmonia, tudo transborda alegria/ Hoje é dia de festa/ Dentro do palácio encantado/ Um príncipe escamado vai se coroar/ Eu sou do mar, eu sou do mar..."


Set acústico - momento de introspecção com Raios da Manhã e As árvores.


Eu e Jorge Vercilo no Restaurante Camarote em Boa Viagem, após o show.


Momento de descontração (da esquerda para a direita: eu, Paula, Márcia, Jorge Vercilo e Andresa).



Nos bastidores do show de Jorge, conhecemos o super carismático Yegor Gomes, vocalista da banda Capim Cubano, que está fazendo o maior sucesso!



Linda Simões, Yegor Gomes e Angelita Simões esbanjando alegria!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Freddy Simões - Show no SESC Sto Amaro - 24/05/2007

Início do show, com a música "Compasso".

Momento de introspecção.

Participação da querida Mayra Clara.


Robson Soares arrasando no contrabaixo, num improviso da música "O leãozinho".


Paulo Simões ao violão.


Momento de mais descontração.


Público animado ao som de "Final feliz", no bis do show.

Nikima Sales arrasando no pandeiro, no samba "Numa Esquina de Hanói", de Djavan.

Participação especialíssima do músico Maurício Cézar ao piano, na canção "Só nos resta viver".




Paulo Simões ao violão em "É d'Oxum".


Momento mais solto, descontraído do show.


Momento das canções de amor e das poesias.


Paulo Simões ao violão.


Gostaria de agradecer a todos que estiveram presentes à minha estréia. Vocês foram imprescindíveis para elevar o meu estado de espírito e me deixar solto e à vontade para realizar o show com dignidade e profissionalismo! A reação do público foi imediata e bastante positiva, e isso me serve de incentivo para continuar enveredando pelos caminhos da música. Espero sempre oferecer o melhor de mim, a fim de que eu consiga emocioná-los com minha música e arte.
Os meus mais sinceros agradecimentos aos músicos, que tornaram possível a realização do projeto, e que abrilhantaram a apresentação com tamanho talento. Por fim, sou grato a todas as pessoas que contribuíram, de forma direta ou indireta, para a concretização deste sonho!
Um grande abraço a todos!

domingo, 29 de abril de 2007

"AH! O AMOR, ENQUANTO PUDERES, NÃO TE PERCAS DE MIM".

Tenho feito jus às palavras da querida Angela Rô Rô, em seu compasso mais civilizado e controlado:

"Estou deixando o ar me respirar/ Bebendo água pra lubrificar/ Mirando a mente em algo producente/ Meu alvo é a paz."


Os versos supracitados sugerem uma maneira zen de administrar o caos e buscar um ponto de equilíbrio! A vida não tá mole, não! Só me resta lubrificar as cordas vocais e cantar para alegrar a alma, espantar mazelas emocionais, zombar dos obstáculos, ousar e, talvez, perturbar os sentidos do público!


Hoje, particularmente, tive um momento radiante de emoção durante o ensaio para o meu show, ao ver a transformação que meus virtuosos músicos fizeram numa canção antiga do Roberto Carlos, chamada "Preciso lhe encontrar" (de 1970), composição de Demetrius. Senti arrepios ao cantá-la, por causa da carga dramática contida na harmonia e na letra:


"Quando olho em minha volta/ Onde quer que esteja eu sinto a solidão/ Vivo nesse desespero/ E você não vem por que razão/ Minha vida está perdida/ Já nem sei pra onde eu devo caminhar/ E o meu tempo, eu sei, é pouco/ É preciso, amor, lhe encontrar, lhe encontrar (...)/ Pra dizer que eu fui um tolo, pra dizer que só você é o meu amor/ Pra dizer que o meu caminho/ Tem que ser aonde você for/ Só agora eu entendo que não posso nunca, nunca lhe deixar/ Cada instante eu vou morrendo/ É preciso amor lhe encontrar, lhe encontrar(...) ".


O que eu acho mais lindo na letra é a simplicidade dos versos, que fazem uso da licença poética para deixar de lado as regras gramaticais de regência e colocação pronominal, as quais soam totalmente desnecessárias quando se quer falar de amor de uma forma mais descomplicada e apaixonada.


"Ah, o amor, enquanto puderes, não te percas de mim."