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segunda-feira, 20 de julho de 2009

20 anos sem Lauro Corona

Há exatos 20 anos morria, no auge da carreira, o ator Lauro Corona, um dos mais queridos e populares artistas da televisão brasileira da década de 80. Corona tornou-se conhecido nacionalmente a partir de 1978, devido a sua atuação ao lado de Glória Pires na novela Dancin' Days, de Gilberto Braga, exibida pela Rede Globo. Fugindo dos padrões dos galãs da época, Laurinho não era másculo nem sólido - ele era frágil e tinha pouco mais de 1,60m de altura. No entanto, sobravam-lhe talento e carisma. Dono de olhos azuis, sorriso perfeito e aparência de bonzinho, Lauro dominou os folhetins televisivos, emocionando o Brasil inteiro com personagens que marcaram época, como Rafael, de Corpo a Corpo (1984), e Adriano de Montserrat, de Direito de amar (1987).


Corona também se destacou nas novelas Marina (1980), Baila comigo (1981), Elas por elas (1982), Louco amor (1983) e Vereda tropical (1984). No cinema, atuou ao lado de Cazuza e Débora Bloch em Bete Balanço (1984). Seu último trabalho na TV foi na novela Vida Nova, em 1988, no papel de Manuel Victor, um imigrante português que namorava uma judia brasileira, interpretada por Deborah Evelyn. No início de 1989, Lauro pediu afastamento da novela, da qual ele era protagonista, alegando uma estafa. Retorna dois meses depois, muitos quilos mais magro e uma notável calvície - o que aumentou os boatos de que estaria com AIDS. Corona negava veementemente a doença. Novamente ele abandonou as gravações e a novela teve que ser encurtada. Seu personagem teve um final apressado, com uma viagem para Israel. Sua última cena na novela mostrava um carro partindo numa noite chuvosa, ao som de um poema de Fernando Pessoa, declamado em off pelo próprio ator.

Em seguida, o ator mudou-se para a casa dos pais e se manteve isolado. Lauro não comentava com os amigos sobre a doença e nem aceitava sua condição - tratava os sintomas das doenças oportunistas com homeopatia. Seu estado de saúde se agravou e depois de uma internação de nove dias, morre em 20 de julho de 1989, com apenas 32 anos de idade.

Lauro Corona é parte importante da história da televisão brasileira. Contou até o fim com o companheirismo de sua melhor amiga e irmã em arte, Glória Pires. Seus personagens inesquecíveis ainda residem na memória de muitos brasileiros que vivenciaram os anos 80. E ele poderia ser bem mais lembrado, caso a Rede Globo não insistisse tanto em reprisar folhetins com um passado tão recente e desse lugar aos clássicos, até para que as novas gerações pudessem ter uma ideia da magia e fascínio que as novelas provocavam em outras épocas, até mais que hoje.
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Eis alguns links de vídeos que relembram a carreira do ator:
Lauro Corona e Glória Pires atuam na novela Dancin' Days e cantam João e Maria no Fantástico
Despedida de Lauro Corona na novela Vida Nova (1989)

Cena da novela Direito de Amar (1987) – Adriano resiste às investidas da perversa Paula

http://www.youtube.com/watch?v=o2yGycKpPcE


Cena de Corpo a Corpo (1984) - Bia (Malu Mader) ganha concurso e Rafael (Lauro Corona) fica aborrecido

Cena da novela Elas por Elas (1983) - Aracy Balabanian, Tássia Camargo, Lauro Corona e Mário Lago

http://www.youtube.com/watch?v=07bbLUa0Jfg


Cena da novela Baila comigo (1981) - Lauro Corona e Tony Ramos

Fontes pesquisadas:
- Wikipedia:
- Blog do Aguinaldo Silva
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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Nostalgia: a música de Isolda e Milton Carlos

Milton Carlos
A década de 70 foi uma época bastante inspirada da música popular brasileira. Nesse período, surgiram vários importantes compositores e intérpretes que formaram parcerias célebres, como Isolda e Milton Carlos. Os dois irmãos adentraram o mundo da músican ainda na adolescência, fazendo backing vocals. Em 1970, Milton Carlos teve a oportunidade de gravar seu primeiro LP e, a partir daí, outros cantores, impressionados com a verve criativa dos jovens compositores, passaram a solicitar várias músicas à dupla.

Cabe ressaltar que a voz de Milton Carlos era bastante peculiar porque continha, além da beleza esfuziante, uma evidente androginia. Em 1973, Isolda e Milton ganharam projeção nacional depois que Roberto Carlos gravou uma canção deles, intitulada Amigos, amigos. Daí em diante, os dois caíram nas graças do Rei, que passou a gravar com frequencia as composições da genial dupla. Seguiram-se Jogo de damas (1974), Elas por elas (1975), Um jeito estúpido de te amar e Pelo avesso (ambas de 1976). Abaixo, alguns dos versos de Isolda e Milton Carlos que ficaram na boca do povo pela voz de Roberto Carlos:

Isolda
Pelo avesso
"E você reservada, tão quieta, não fala
mas sabe me endeusar
no exato momento da nossa agonia
pra se completar
com seus beijos ardentes, tão doces, tão quentes
vem me embriagar
no entanto, sentida, no instante da briga
chega a delirar

Entre bocas nervosas, com risos, com prosas
vamos nos pertencer
E rasgando essa vida da forma precisa
de amar e de se ter...

Eu quero seu amor a qualquer preço
Quero que você me tenha até pelo avesso
Pra me sentir envolvido em seus cabelos
Faça de mim o que quiser
Eu sou seu homem, minha mulher"


Roberto Carlos - LP de 1976

Um jeito estúpido de te amar

"(...) Palavras são palavras
e a gente nem percebe
o que disse sem querer
e o que deixou pra depois

Mas o importante é perceber
que a nossa vida em comum
depende só e unicamente de nós dois.
Eu tento achar um jeito de explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito
meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar"




Em 1977, um trágico acidente de carro na via Anhanguera, em São Paulo, pôs fim à vida de Milton Carlos, com apenas 22 anos de idade. Isolda, mesmo profundamente abalada com a morte prematura do irmão, companheiro e parceiro musical, compôs sozinha a sua mais importante e bela canção, Outra vez, que foi gravada no mesmo ano por Roberto Carlos e acabou se tornando um dos maiores sucessos do cantor. A letra sugere o fim de um romance, mas na verdade é uma homenagem de Isolda a seu irmão, e trata de um amor fraterno que se mantém vivo através das lembranças.
Roberto Carlos - 1977


Outra vez

"Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha vontade sem nada perder
Ah... você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez."


Sobre a morte do irmão e a música Outra vez, Isolda relata em seu blog:

“Acho que minha vida se divide em antes e depois desse dia. Pensei em voltar a estudar, em tomar outro rumo, mas no meio dessa tempestade encontrei vários amigos que me abrigaram, emocionalmente e, mesmo sem perceber, continuei fazendo sozinha o que sempre fiz desde menina: brincar de fazer músicas. Desse momento em diante, sem mais o meu amigo para brincar comigo. Foi assim que fiz, numa madrugada, uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: ‘Outra vez’. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos”.

Isolda continuou compondo para vários artistas. Roberto gravara, ainda, Tente esquecer (1978), Como é possível (1982) e outras nas décadas de 80 e 90.

Milton Carlos, apesar da curta carreira, também deixou grandes registros na sua própria voz, dentre eles: Samba quadrado (canção que teve bastante êxisto na época e até hoje é lembrada por grupos de samba/choro); Uma valsa, por favor; Vexame; Desta vez te perdi; Eu juro que te morreria minha; Memórias do Café Nice ("ai que saudade me dá... do bate-papo, do disse-me-disse lá do Café Nice/ ai, que saudade me dá"); e a belíssima Você precisa saber das coisas.


Fontes pesquisadas:

- Blog "Engenho e Arte":
http://www.paulobap.blogspot.com/ (acessado pela última vez em 29/05/2009);

- Isolda (Site oficial):
http://www.isolda.mus.br/ (acessado pela última vez em 27/05/2009);

- Site "Paixão e Romance"
www.paixaoeromance.com/70decada/outra_vez/houtra_vez.htm (acessado pela última vez em 29/05/2009).

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Raimundo Fagner e o disco mais problemático da MPB.

Manera, Fagner, manera!

O cantor cearense Raimundo Fagner Cândido Lopes despontou na cena musical brasileira no início dos anos 70, devido em grande parte à regravação de Mucuripe (Fagner/Belchior) por Elis Regina, que acabou estourando nas rádios do país. Em 1973, Fagner gravou pela Philips o seu primeiro LP, Manera Fru Fru Manera, que corre o risco de entrar para o livro dos recordes como o mais problemático da história da música popular brasileira. O fantástico álbum contou com participações de Nara Leão, Bruce Henry e o percussionista Naná Vasconcelos (que se tornara, tempos depois, mundialmente respeitado). Faixas como "Último Pau-de-Arara", "Pé de Sonhos", "Como se fosse", "Penas do Tiê", "Nasci para chorar" (pinçada do repertório de Roberto Carlos) e "Mucuripe" chamaram a atenção da crítica de todo o país.



No entanto, o disco foi puxado pela canção "Canteiros" (poema de Cecília Meirelles musicado por Fagner), que se tornou um mega-sucesso, campeão de execuções nas rádios de todo o Brasil. Deu-se início, poucos tempo depois, à série de problemas que o disco viria a causar. As três filhas de Cecília Meirelles entraram com uma queixa-crime contra a Philips e contra o compositor por ter modificado e usado no seu disco um dos poemas da poetisa, sem ter colocado o nome dela nos créditos. O disco foi retirado de circulação e, posteriormente, relançado com a faixa "Cavalo-ferro" no lugar de "Canteiros". A partir daí, o LP original com a canção "Canteiros" tornou-se cult, passando a ser - juntamente com "Louco por você", o primeiro e renegado disco de Roberto Carlos - o artigo mais procurado dos sebos existentes nas grandes cidades, e vendido por altas somas.

O mesmo incidente viria a se repetir anos mais tarde, em 1978, com o disco "Eu canto", que continha o estrondoso sucesso "Revelação". No referido álbum, Fagner havia musicado "Motivo", outro poema de Cecília Meirelles, e novamente não tinha dado os créditos à autora. Após nova batalha na justiça, o disco de 78, no auge das vendas, também foi retirado de circulação e prensado novamente sem a faixa "Motivo" - e, no lugar dela, incluiu-se "Quem me levará sou eu", música de Dominguinhos e Manduka, com a qual Fagner havia ganhado há pouco um festival de música. O título daquele disco também teve que ser modificado, pois "Eu canto" era justamente o início do primeiro verso do poema de Cecília Meirelles, não tinha sentido manter o referido título sem a música presente no álbum . A nova prensagem saiu com o título "Quem viver chorará", nome de uma das faixas. Sobre essas brigas na justiça, Fagner afirmou em entrevista à Revista Ele Ela de janeiro de 1981 o seguinte: "Maria Matilde (uma das filhas da poetisa) queria que eu pagasse uma nota por coisa que acredito um absurdo. (...) No fundo, estou divulgando a obra de Cecília Meirelles. Meu trabalho e de meus parceiros não estão aquém do trabalho de Cecília, com todo respeito. A obra de Cecília está bem situada no meu trabalho. Mas Maria Matilde está abusando com seus sentimentos recalcados (...). Legalmente, ela não tinha muito a receber: uma nota tão pequena que nem recupera o tempo que perdeu e o ódio que destilou. Este incidente, de certa forma, cortou também minha espontaneidade de trabalhar com os versos de Cecília Meirelles, pois tinha mais três músicas para gravar, mas perdi o gosto. Maria Matilde ganharia mais se deixasse eu cantar essas músicas".


Somente em 2000 (exatos 27 anos após o lançamento de "Canteiros") é que Fagner - após acordo com os familiares da poetisa - pôde regravar a canção num CD duplo ao vivo de releituras de sucessos. No entanto, a versão original contida no LP "Manera Fru Fru Manera" jamais foi liberada para relançamento, e o CD remasterizado permanece com a faixa "Cavalo Ferro" no lugar de "Canteiros". O mesmo aconteceu com os discos "Orós" (1977) e "Eu canto" (1978), que foram relançados recentemente sem as faixas "Epigrama nº 9" e "Motivo", respectivamente, devido à não-liberação por parte da família Meirelles.

Em 1999, um novo imbróglio se criou em torno de "Penas do Tiê", uma das canções mais conhecidas de Fagner, também incluída no disco "Manera Fru Fru Manera". Fagner alegou, quando do lançamento do disco, em 1973, que "Penas do Tiê" era uma adaptação sua do folclore, de uma canção recolhida do domínio público, mas na verdade ela nada mais é do que uma regravação de "Você", uma composição de Hekel Tavares (1886-1969) e Nair Mesquita, editada em 1928 e dedicada à cantora lírica Gabriella Besansoni Lage. O "deslize" de Fagner, a princípio apontado pelo jornalista Tárik de Souza, do jornal do Brasil, demorou três décadas para ser descoberto, e só o foi porque, no final dos anos 90, Alberto Hekel Tavares (filho do compositor Hekel Tavares) ouviu uma gravação da Orquestra Pró-Música do Rio de Janeiro, tendo como solista a cantora Ithamara Koorax, e pôde comparar com as gravações anteriores de Fagner. "É inacreditável, tratava-se da mesma canção", diz Alberto Hekel. Segundo ele, Fagner mudou apenas duas palavras. Desde sua gravação inicial, em 1973, "Penas do Tiê" (originalmente cantada por Fagner em duo com Nara Leão) teve diversas regravações: Joanna a gravou no CD Vidamor, pela BMG; a Philips a relançou duas vezes; e Nana Caymmi a canta em dueto com o próprio Fagner no CD "Amigos e Canções", também da BMG. Os filhos de Hekel Tavares, compositor da música, entraram com uma ação na justiça exigindo indenização por danos materiais e morais, devido à usurpação da obra de seu pai. O caso encerrou no final de 2006, quando Fagner foi condenado ao pagamento de direitos autorais referentes à musica "Penas do Tiê", além de determinar a inclusão de erratas nas obras não distribuídas e a divulgação da autoria da música debatida. Mas o pedido de indenização por danos morais foi julgado improcedente. Recentemente, uma coletânea intitulada "A arte de Fagner", lançada pela gravadora Universal (antiga Philips) trouxe a gravação original de "Penas do Tiê" já com o título de "Você", e creditada aos verdadeiros autores.

Sobre o disco "Manera Fru Fru Manera", afirma-se, ainda, que Fagner pegou de Belchior a letra de "Mucuripe" e ignorou que ela já estava musicada, fazendo uma nova. Contudo, apesar de todas as confusões já causadas, "Manera Fru Fru Manera" permanece em catálogo, por causa de seu incomensurável valor criativo e histórico, o que o coloca na lista dos melhores discos já lançados na música popular brasileira.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Até a vitória, sempre!

CHE: ícone que virou souvenir na mão do capitalismo

Ernesto Guevara de La Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, na Argentina, onde, aos dois anos de idade, teve sua primeira crise de asma, doença que o acompanhou pelo resto da vida. De família de classe média, Che, como ficou conhecido, pretendia estudar engenharia, mas aconselhado pela avó, partiu para a medicina. Em 1952, resolveu fazer uma viagem de motocicleta pela América Latina com o amigo Alberto Gramado (história retratada em filme de Walter Salles “Diários de Motocicleta”) e quando viu a pobreza pelo continente, decidiu que terminaria os estudos e assumiria sua alma política com o sonho de fazer justiça e acabar com as desigualdades sociais.
O primeiro casamento de Che foi com a peruana Hilda Gadea, com quem teve uma filha, Hildita. Em 1955, após viajar para a Bolívia e para Guatemala (a dependência que a América Latina tinha com relação aos Estados Unidos foi o motivo do fim de seu primeiro projeto político na Guatemala, quando a Casa Branca apoiou a derrocada do presidente Jacobo Arbenz), foi ao México onde conheceu Fidel Castro e se uniu a ele - primeiro como médico e mais tarde como comandante - em sua expedição armada para expulsar do poder o presidente cubano Fulgencio Batista (apoiado pelo Estados Unidos), em uma coluna guerrilheira que, a partir do leste da ilha, tomou Santa Clara (centro) e em 1º de janeiro de 1959 promoveu o triunfo da revolução. Depois do feito, Che adotou a nacionalidade cubana. Na ilha, conheceu Aleida March de la Torre, com quem teve Aleidita, Celia, Camilo e Ernesto.
De guerrilheiro para membro de governo houve poucos atritos com sua ideologia - próxima ao marxismo-leninismo radical, mas heterodoxa que seria chamada de "guevarismo" -, e, após desempenhar cargos como o de presidente do Banco de Cuba e o de ministro da Indústria, deixou a ilha em 1965. Na viagens que realizou, Che esteve no Brasil em abril de 1961, quando foi recebido e condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul pelo então presidente Jânio Quadros.
Che deixou o governo para sair novamente pelo mundo propagando seus ideais de revolução, até que em 8 de outubro de 1967 foi capturado e executado no dia seguinte por soldados bolivianos na aldeia de La Higuera, aos 39 anos. O corpo só foi encontrado em 1997 e hoje está enterrado num mausoléu, na cidade de Santa Clara, em Cuba. Curiosamente, o homem que estava por trás do fuzil que matou o guerrilheiro, Mario Terán, recuperou a visão graças a cirurgiões cubanos, após uma operação de catarata. Nos 40 anos da morte de Che, a sua cidade natal - a argentina Rosário - prepara um calendário para comemorar, em 2008, os 80 anos do nascimento do guerrilheiro, ocorrido em 14 de junho. Já os exilados do regime castrista criticam uma figura que defendeu a extinção do imperialismo e a conseqüente recuperação dos países subdesenvolvidos.

Somente a luta armada e a revolução podem melhorar a vida dos pobres: são necessários "lares" de guerrilha para conduzir a um levante geral; o Terceiro Mundo é explorado por dois blocos: capitalista e comunista; a salvação é uma revolução que alia guerrilha, camponeses e reforma agrária; a revolução, assim como o advento de um "homem novo", procura recompensas morais e não materiais; a América Latina é uma só civilização, mestiça, com fronteiras artificiais, que têm que ser derrubadas; a revolução e a luta total contra o imperialismo devem ser mundiais.
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CONTRAPONTOS
Os historiadores e demais estudiosos se dividem quanto a representação de Che para a sociedade hodierna. Para o historiador e presidente do PC do B de Mossoró, Antônio Capistrano, Guevara "é o maior ícone revolucionário da América Latina e um dos maiores do mundo. A maior contribuição que ele deixou foi dedicar a sua vida a uma causa, um internacionalista. Um homem cuja pátria era o universo. Ele era argentino, mas não deixa de ser um herói do mundo. Ele era também um homem de idéias, deixou um legado cultural muito grande. Pensou uma sociedade justa, onde todo mundo teria direito", diz, rebatendo as críticas de veículos como a revista Veja, que publicou esta semana uma ode de desprezo ao guevarismo.
Capistrano diz: "Quem é exilado já está dizendo, fugiu. Nem Jesus é unanimidade. Cuba também tem seus opositores. O que a Veja fez, vem fazendo com os ícones do comunismo de todo mundo. O que é financiado pelas organizações norte-americanas não é de interesse que essas personalidades sejam bem-vistas", completa. Capistrano acredita ainda que o exemplo de Che inspire as ideologias políticas de hoje. "Acho que o exemplo dele de abnegação particular para interesse coletivo vale como exemplo. O cara que deixa de ser ministro e se mete na África, Ásia, nas selvas para fazer guerrilha, isso mostra exatamente a força da idéia e o caráter humanitário da figura de Che. Esse exemplo que faz com que os partidos comunistas, marxistas, sigam seu caminho. A luta armada tem sentido em momentos - o contexto é que determina isso. Mesmo existindo o predomínio do capital, da grande mídia, acho que hoje há o caminho para o diálogo", finaliza.
Por outro lado, o historiador Tomislav Femenick não poupa críticas ao universo guevarista. "Ele era um sonhador e como sonhador acabou se transformando num aventureiro a ponto de perder a ternura. Ele era tão aventureiro que incomodou o governo cubano. Ele foi um desastre dentro do governo cubano. No Brasil, de certo modo, Che contribuiu para a renúncia de Jânio Quadros quando foi condecorado. Existe muito mito em torno dele. Ele não tinha compromisso com a realidade, só com o sonho". Femenick não percebe influências das idéias de Che para a política local: "Não há influência na política local hoje. Ninguém pensa como Guevara, nem o toma como modelo. Ele foi aventureiro e não um pensador", mas pondera ao admitir que "não resta dúvida que ele contribuiu para humanizar o capitalismo, mas foi uma contribuição involuntária para quebrar a visão americana de que somos o quintal deles".

SOUVENIR

Che Guevara se tornou símbolo de rebelião e revolução. Seu status de ícone popular continua difundido pelo mundo, misturando política e arte. Na política, na América Latina vários políticos citam a luta de Che. Na Nicarágua, os sandinistas guevaristas foram reeleitos em 2006, após serem afastados do poder por 16 anos. O presidente boliviano, Evo Morales, sempre faz homenagens a Che. Na Venezuela, Chavez é conhecido por fazer discursos usando camisas com foto de Guevara. Che inspira ainda as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército Zapatista da Libertação Nacional, no México. Em Cuba, o regime de Fidel une o sistema soviético ao culto à personalidade de Che. Nas artes, em outras palavras entenda-se no showbusiness/entretenimento, o capitalismo abusa do poder de subversão de valores para maquiá-lo de liberdade juvenil e promovê-lo como produto de consumo de massa. A indústria sabe manipular a imagem de Che para vendê-la como suvenir da moda e da música, por exemplo.
De qualquer modo, alienado ou não, o ideal de igualdade está solto na sociedade, embora embalado. De um lado a luta armada, a barbárie (de que lado venha) não é remédio para sanar os problemas; de outro, como se fazer notar pelo poder repressor do passado se não pela guerrilha? O produto Che - longe dos confrontos físicos, da luta armada - age sorrateiramente e sem mortes. Se a dialética do capitalismo se confirmar, o sistema estará lucrando hoje, mas criando e propagando as armas de sua própria destruição para amanhã.
"Sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer um em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário", escreveu em seus últimos anos aos quatro filhos de seu segundo casamento.

MATERIALISMO HISTÓRICO

O presidente boliviano, Evo Morales, presta homenagem a Che Guevara e lança selo comemorativo aos 40 anos da morte do ex-líder, em Vallegrande, na Bolívia (Foto: Aizar)


A modelo Gisele Bündchen desfila de biquíni com a imagem de Che Guevara (Foto: AFP)

Em 2003, um dos maiores ícones do consumo capitalista, a cantora americana Madonna, apropriou-se da imagem de Che para lançar "American Life" e protestar contra o governo Bush. Não deu certo. Vendeu pouco, o disco é chato, mas valeu pela "briga" com os americanos.



O ex-jogador de futebol argentino Maradona mostra sua tatuagem de Che guevara (Foto: AFP)

domingo, 9 de setembro de 2007

Gonzaguinha imortalizado em DVD.

Gonzaga Jr. (1945-1991), um dos maiores expoentes da MPB, acaba de ser colocado postumamente na era do DVD. Compositor genial, de uma sensibilidade incrível, Gonzaguinha participou do célebre programa Ensaio (da TV Cultura) em 1990, pouco antes de sair precocemente de cena, vítima de um acidente automobilístico. O programa teve as imagens e o áudio totalmente restaurados e o DVD chega às lojas ainda neste mês. O projeto é resultado de uma parceria entre a gravadora carioca Performance Music e a emissora paulista.

O espectador poderá assistir a grandes clássicos do autor, que fizeram história na nossa música, tais como Sangrando; Comportamento geral; O que é, o que é; Diga lá, coração; Grito de alerta; Explode coração; Espere por mim, morena; Começaria tudo outra vez; Ponto de interrogação; Com a perna no mundo; e Lindo lago do amor. Além disso, Gonzaguinha canta vários sucessos de seu pai, o Rei do Baião, dentre os quais Respeita Januário, A vida do viajante, Baião e Qui nem jiló. O programa intercala números musicais e entrevista. Consiste num registro indispensável aos admiradores da boa música brasileira!

domingo, 26 de agosto de 2007

Nostalgia: Cássia Eller.


No dia 29 de dezembro de 2001, a música brasileira perdeu sua criança maravilhosa, Cássia Eller, a mais importante cantora do universo pop/rock nacional dos anos 90. A personalidade forte e marcante era sua principal característica, a qual se refletia nas suas interpretações sempre excepcionais. Algo de mágico e contagiante me ligava à cantora. Não conseguia desviar a atenção dela quando das suas aparições na TV. Eu a amava demais! Cássia era extremamente telentosa, sensível e, além disso, muito verdadeira. O contraste acidez/doçura a tornava única. Falava o que pensava e cantava o que queria. Seu repertório variava de Jimi Hendrix a Arrigo Barnabé. Num mesmo show, era possível ouvir "Na cadência do samba", de Ataulfo Alves, e "Smells like teen spirit", do Nirvana. A cantora era completamente apaixonada por Cazuza, Beatles e Renato Russo. Sua estréia em disco se deu no início dos anos 90. O carro-chefe do álbum foi o belíssimo crossover Legião Urbana/Beatles ("Por enquanto/I've got a feeling"), em versão definitiva e imortalizada.


Cássia tinha uma característica rara nos dias de hoje: fazer com que as canções interpretadas parecessem suas. É impossível dissociar a imagem de Cássia da canção "Malandragem" (Cazuza/ Frejat), inicialmente feita para Angela Rô Rô, mas recusada pela mesma. Cássia conseguiu transformar as composições de Nando Reis em verdadeiras maravilhas (ouça "O segundo sol", "Relicário" e "Luz dos olhos").

O dueto com o mestre Djavan na canção "Milagreiro" é de provocar arrepios, de tão belo. Cássia é e será sempre inesquecível. Sua passagem meteórica pelo planeta foi um lindo presente para nós, amantes da boa música!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

18 anos sem o Rei do Baião.

“Sempre achei Luiz Gonzaga a maravilha máxima. Cantando e contando a verdade nordestina, Gonzaga nos mostra, com um lirismo incomum, as dores e a sensibilidade de um povo extraordinário”. (Nara Leão)


No dia 02 de agosto de 1989, falecia aquele que se tornara expressão maior da cultura nordestina de todos os tempos: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Nascido em 13 de dezembro de 1912, esse pernambucano de Exu estabeleceu definitivamente sua carreira como músico na década de 40. Tornou-se nacionalmente reconhecido a partir do lançamento, em 1947, da canção Asa Branca, parceria sua com Humberto Teixeira, e que se tornou mundialmente conhecida, quase chegando a ganhar uma regravação dos Beatles.

Luiz Gonzaga é uma figura ímpar no cenário musical brasileiro. Sua música é simples, mas de um lirismo profundo e um incomensurável alcance popular! Deixou um legado artístico-cultural que ficará resguardado para sempre na memória do povo brasileiro. O velho “Lua” era um músico extremamente inventivo – foi responsável pela introduçãoo e consolidação do gênero a que se chamou Baião. Sobre Luiz e seu legado, eis algumas palavras do ministro da cultura, Gilberto Gil:

“Dentre aqueles gêneros diretamente criados a partir da matriz folclórica, está o baião e toda a sua família. E da família do Baião, Luiz Gonzaga foi o pai. Seu nome se inscreve na galeria dos grandes inventores da música popular brasileira, como aquele que, graças a uma imaginativa e inteligente utilização de células rítmicas extraídas do pipocar dos fogos, de moléculas melódicas tiradas da cantoria lúdica ou religiosa do povo caatingueiro e, sobretudo, da alquímica associação com o talento poético e musical de alguns nativos nordestinos emigrantes como ele, veio a inventar um gênero musical. Eu, como discípulo e devoto apaixonado do grande mestre do Araripe, associo-me às eternas homenagens que a História continuada prestará ao nosso Rei do Baião”.

(Extraído do Livro “Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”, de Dominique Dreyfus).


Luiz, junto com inúmeros parceiros, numa infinidade de canções, passeou por vários estilos adjacentes ao baião, dentre eles o xote, a marchinha junina e o forró. A versatilidade do cantor pode ser percebida em músicas como Noites brasileiras (xote), Olha pro céu (marcha), Numa sala de reboco (xote) e ABC do Sertão (baião).

Além de compositor, o Rei do Baião tinha uma bela e grandiosa voz – por essa razão, ele era um grande intérprete de suas próprias canções e também dava a sua cara a composições de outros autores, fazendo-as parecer que fossem suas. Dentre canções de outros autores que ficaram eternizadas na voz do Rei, destacam-se: Boiadeiro e Cigarro de Paia, ambas de Klécius Caldas/A.Cavalcante; Súplica Cearense (Gordurinha/ Nelinho); Óia eu aqui de novo (Antonio Barros Silva); A feira de Caruaru (Onildo Almeida); Hora do adeus (Luiz Queroga/ Onildo Almeida); e a toada A triste partida (Patativa do Assaré).

Mas foi com os parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas que Luiz Gonzaga compôs seus mais importantes sucessos. Com o primeiro, ele fez músicas como Baião, Respeita Januário, Légua tirana e Qui nem jiló. Com o segundo, compôs O xote das meninas, Riacho do Navio, Vem morena, Vozes da seca, A volta da Asa Branca, Cintura fina, Forro de Mané Vito, Sabiá, A dança da moda, dentre outras.

Luiz Gonzaga soube, como ninguém, retratar com propriedade a cultura, os hábitos e as mazelas de seu povo:

Quando eu vim do Sertão, seu moço, do meu Bodocó
A maleta era um saco e o cadeado era um nó
Só trazia coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei...

(Trechos de Pau-de-Arara, parceria de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes).


Em seu cancioneiro, há inúmeras músicas que primam pelo humor, como é o caso de Capim novo (Luiz Gonzaga/ José Clementino):

Nem ovo de codorna,
Catuaba ou tiborna
Não tem jeito não
Não tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não, não, não
Esse negócio de dizer que
Droga nova
Muita gente diz que aprova
Mas a prática desmentiu
O doutor disse
Que o problema é psicológico
Não é nada fisiológico
Ele até me garantiu
Não se iluda amigo véio
Vai nessa não
Essa tal de droga nova
Nunca passa de ilusão
Certo mesmo é
Um ditado do povo:
- Pra cavalo véio
O remédio é capim novo.

Em muitas canções, o mestre expressa romantismo de uma forma simples, singela e única:

Juazeiro, Juazeiro
Me arresponda por favor
Juazeiro, velho amigo
Onde anda o meu amor
Ai, Juazeiro
Ela nunca mais voltou
Diz, Juazeiro
Onde anda o meu amor

Juazeiro, não te alembras
Quando o nosso amor nasceu
Toda tarde à tua sombra
Conversava ela e eu
Ai, Juazeiro
Como dói a minha dor
Diz, Juazeiro
Onde anda o meu amor

Juazeiro, seja franco
Ela tem um novo amor
Se não tem, por que tu choras
Solidário à minha dor
Ai, Juazeiro
Não me deixa assim roer
Ai, Juazeiro
Tô cansado de sofrer...

(Excertos de Juazeiro, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

Vai cartinha fechada
Não deixa ninguém te abrir
Aquela casa caiada
Onde mora a letra i
Existe uma cacimba
Do rio que o verão secou
Meus óio chorou tanta mágoa
Que hoje sem água
Me responde a dor
Ai, diz que o amor
Fumega no meu coração
Tal qual fogueira
Das noites de São João
Que eu sofro por viver sem ela
Tando longe dela
Só sei reclamar
Eu vivo como um passarinho
Que longe do ninho
Só pensa em voltar.

(A letra i, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. O “i” a que a música faz referência é de Iolanda, pessoa por quem Zé Dantas se apaixonou e para quem fez a letra, a qual foi musicada por Luiz Gonzaga).

Em sua vasta discografia, o velho Lua não se esquece de exprimir sua religiosidade:

Quando batem as seis horas
De joelhos sobre o chão
O sertanejo reza
A sua oração

“Ave Maria, mãe de Deus, Jesus
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz”

Nessa hora bendita e santa
Viemos suplicar à Virgem Imaculada
Os enfermos vir curar

“Ave Maria, mãe de Deus, Jesus
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz.”

(Ave Maria Sertaneja)

Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer minha oração
Vou pedir à padroeira
Numa prece verdadeira
Que proteja o meu baião

Penha, Penha
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, Venha
Trazer paz para o meu lar

Nossa Senhora da Penha
Minha voz talvez não tenha
O poder de te exaltar
Mas dê bênção, padroeira
Pra essa gente brasileira
Que quer paz pra trabalhar.


(Baião da Penha, de Guio de Moraes e David Nasser).

Na qualidade de intérprete, Luiz estava sempre atento às novidades que apareciam no cenário musical. Em 1971, gravou um LP intitulado “A música jovem de Luiz Gonzaga”, constituído de canções do pessoal da bossa e do tropicalismo, que estava em evidência. O LP continha as músicas Procissão (Gilberto Gil); Fica mal com Deus (Vandré); No dia que eu vim me embora (Caetano Veloso/ Gilberto Gil); Cirandeiro (Edu Lobo/ Capinan); Caminho de Pedra (Vinícius de Moraes), dentre outras.

Luiz Gonzaga realizou, ao longo de sua carreira, duetos com os mais diversos artistas, dentre eles, Elba Ramalho (Sanfoninha choradeira) e Gal Costa (Forró nº 01). Também gravou dois discos com Fagner, em 1984 e 1988, ambos um enorme sucesso de vendas. Cabe ressaltar suas parcerias com seu filho Gonzaguinha, como Pense n'eu e A vida do viajante, dois grandes sucessos da carreira de ambos.

O Rei do Baião manteve-se na ativa, compondo, lançando disco e fazendo show até o fim, mesmo acometido do câncer, somado à osteoporose que o debilitava fisicamente. O último disco lançado, "Vou te matar de cheiro", trazia a faixa-título (parceria de Luiz Gonzaga e João Silva) e Xote ecológico (Aguinaldo Batista/Luiz Gonzaga) como músicas de trabalho, as quais fizeram enorme sucesso, elevando as vendas do disco, também motivadas pela comoção em torno da enfermidade do rei do baião. Seu último show foi realizado em Recife-PE, no Teatro Guararapes, no dia 06 de junho de 1989. Debilitado, em cadeira de rodas, o velho Lua entrou vestido a caráter, com gibão e chapéu de couro. Apresentava perda de memória e já não se lembrava direito até mesmo de Asa Branca, seu maior sucesso. Mesmo assim, exprimia preocupação em falar, expressar sua gratidão ao povo que sempre o acolheu com bastante carinho. “Ninguém vai acabar com o forró. Não vai, porque essa é a música do povo”. Falou dos músicos que o acompanhavam, como Dominguinhos e Pinto do Acordeon. Caiu em prantos quando falou de Exu, sua terra natal. Em 21 de junho do mesmo mês, foi internado no Hospital Santa Joana, onde viria a permanecer por 42 dias na UTI. Nos momentos de dor atroz, para apaziguar a dor, Luiz trocava os gemidos por prolongados aboios que ressoavam em alto e bom som pelos corredores. Logo em seguida, desculpava-se humildemente com os outros doentes que se encontravam na UTI: - Não me levem a mal. Sinto muitas dores e gosto de aboiar quando deveria gemer.

Luiz Gonzaga encerrou sua passagem na Terra às 5h15 do dia 02 de agosto de 1989, aos 76 anos de vida, deixando um patrimônio artístico de incalculável valor que ficará eternizado na memória de sua imensa legião de admiradores, de geração a geração.


domingo, 13 de maio de 2007

"A ESCRAVIDÃO PERMANECERÁ POR MUITO TEMPO COMO A CARACTERÍSTICA NACIONAL DO BRASIL".

Neste domingo, lembramos a assinatura da Lei Áurea (de 13 de maio de 1888), a qual punha fim ao regime escravista (expressão maior da ignorância da sociedade brasileira), que perdurou por aproximadamente três séculos.

A Abolição da Escravatura "desacatou" os fazendeiros, que exigiram indenizações pela perda de seus "bens". Como não conseguiram, voltaram-se contra o Império e aderiram aos movimentos republicanos. O fim da escravidão, contudo, não melhorou a condição social e econômica do negro, o qual, à época, sem formação alguma, não conseguiu sua cidadania e ascensão social.

Hoje, passados 119 anos, as coisas já mudaram consideravelmente, mas os negros ainda sofrem preconceitos de toda espécie. Os efeitos da discriminação racial podem ser vistos, por exemplo, no mercado de trabalho, onde o negro ainda encontra - apesar de capacitado - dificuldades de arranjar emprego e de obter salários justos (geralmente, estes são inferiores aos dos brancos). As cotas de vagas para negros nas universidades são outro exemplo de política discriminatória, em que ocorre uma inclusão social às avessas: colocam-se os estudantes de "pele escura" na graduação através de critérios que fogem à capacitação para tal, justamente porque não foi dada a essa massa a chance de adquirir e burilar o aprendizado desde a base do ensino. Esses estudantes negros que adentraram a faculdade através de cotas, sofrem, em sua maioria, certamente, dificuldades de acompanhamento do ensino, se comparados aos seus colegas que tiveram bases educacionais bem estruturadas. Isso pode ser mais um pressuposto para a discriminação.

Há um texto de Joaquim Nabuco que retrata com bastante propriedade essa questão da realidade do negro no Brasil:

"A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte".

quarta-feira, 18 de abril de 2007

NAIR BELLO, MARAVILHOSA!

Ontem (17/04/07), o Brasil perdeu sua grande dama do humor. Nair Bello Souza Francisco faleceu aos 75 anos de idade, deixando o país mais sem graça do que já está, como bem afirmou o humorista Chico Anysio. A atriz teve uma carreira de bastante sucesso na TV, fazendo o público brasileiro dar boas risadas com seus inesquecíveis personagens de humor. Quem não se lembra de Dona Gema (novela "Perigosas Peruas", 1992), Dona Cininha ("A viagem", 1994), Carlotinha ("Torre de Babel", 1998) e Dona Pierina ("Uga, Uga", 2000)? Recentemente, ela animava nossas noites de sábado com a hilária Santinha, no humorístico Zorra Total, na Globo.

Nair Bello, muito obrigado por ser tão maravilhosa! Os anjos devem estar em festa com a sua chegada aos céus!