sexta-feira, 29 de maio de 2009

Nostalgia: a música de Isolda e Milton Carlos

Milton Carlos
A década de 70 foi uma época bastante inspirada da música popular brasileira. Nesse período, surgiram vários importantes compositores e intérpretes que formaram parcerias célebres, como Isolda e Milton Carlos. Os dois irmãos adentraram o mundo da músican ainda na adolescência, fazendo backing vocals. Em 1970, Milton Carlos teve a oportunidade de gravar seu primeiro LP e, a partir daí, outros cantores, impressionados com a verve criativa dos jovens compositores, passaram a solicitar várias músicas à dupla.

Cabe ressaltar que a voz de Milton Carlos era bastante peculiar porque continha, além da beleza esfuziante, uma evidente androginia. Em 1973, Isolda e Milton ganharam projeção nacional depois que Roberto Carlos gravou uma canção deles, intitulada Amigos, amigos. Daí em diante, os dois caíram nas graças do Rei, que passou a gravar com frequencia as composições da genial dupla. Seguiram-se Jogo de damas (1974), Elas por elas (1975), Um jeito estúpido de te amar e Pelo avesso (ambas de 1976). Abaixo, alguns dos versos de Isolda e Milton Carlos que ficaram na boca do povo pela voz de Roberto Carlos:

Isolda
Pelo avesso
"E você reservada, tão quieta, não fala
mas sabe me endeusar
no exato momento da nossa agonia
pra se completar
com seus beijos ardentes, tão doces, tão quentes
vem me embriagar
no entanto, sentida, no instante da briga
chega a delirar

Entre bocas nervosas, com risos, com prosas
vamos nos pertencer
E rasgando essa vida da forma precisa
de amar e de se ter...

Eu quero seu amor a qualquer preço
Quero que você me tenha até pelo avesso
Pra me sentir envolvido em seus cabelos
Faça de mim o que quiser
Eu sou seu homem, minha mulher"


Roberto Carlos - LP de 1976

Um jeito estúpido de te amar

"(...) Palavras são palavras
e a gente nem percebe
o que disse sem querer
e o que deixou pra depois

Mas o importante é perceber
que a nossa vida em comum
depende só e unicamente de nós dois.
Eu tento achar um jeito de explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito
meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar"




Em 1977, um trágico acidente de carro na via Anhanguera, em São Paulo, pôs fim à vida de Milton Carlos, com apenas 22 anos de idade. Isolda, mesmo profundamente abalada com a morte prematura do irmão, companheiro e parceiro musical, compôs sozinha a sua mais importante e bela canção, Outra vez, que foi gravada no mesmo ano por Roberto Carlos e acabou se tornando um dos maiores sucessos do cantor. A letra sugere o fim de um romance, mas na verdade é uma homenagem de Isolda a seu irmão, e trata de um amor fraterno que se mantém vivo através das lembranças.
Roberto Carlos - 1977


Outra vez

"Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha vontade sem nada perder
Ah... você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez."


Sobre a morte do irmão e a música Outra vez, Isolda relata em seu blog:

“Acho que minha vida se divide em antes e depois desse dia. Pensei em voltar a estudar, em tomar outro rumo, mas no meio dessa tempestade encontrei vários amigos que me abrigaram, emocionalmente e, mesmo sem perceber, continuei fazendo sozinha o que sempre fiz desde menina: brincar de fazer músicas. Desse momento em diante, sem mais o meu amigo para brincar comigo. Foi assim que fiz, numa madrugada, uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: ‘Outra vez’. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos”.

Isolda continuou compondo para vários artistas. Roberto gravara, ainda, Tente esquecer (1978), Como é possível (1982) e outras nas décadas de 80 e 90.

Milton Carlos, apesar da curta carreira, também deixou grandes registros na sua própria voz, dentre eles: Samba quadrado (canção que teve bastante êxisto na época e até hoje é lembrada por grupos de samba/choro); Uma valsa, por favor; Vexame; Desta vez te perdi; Eu juro que te morreria minha; Memórias do Café Nice ("ai que saudade me dá... do bate-papo, do disse-me-disse lá do Café Nice/ ai, que saudade me dá"); e a belíssima Você precisa saber das coisas.


Fontes pesquisadas:

- Blog "Engenho e Arte":
http://www.paulobap.blogspot.com/ (acessado pela última vez em 29/05/2009);

- Isolda (Site oficial):
http://www.isolda.mus.br/ (acessado pela última vez em 27/05/2009);

- Site "Paixão e Romance"
www.paixaoeromance.com/70decada/outra_vez/houtra_vez.htm (acessado pela última vez em 29/05/2009).