domingo, 21 de outubro de 2007

Bordoada na indústria e a nova relação de consumo da música


http://www.inrainbows.com/ - esse é o mais novo endereço para trilhar o caminho da felicidade, pelo menos para os fãs da boa música, ou do rock. Trata-se do site oficial do Radiohead, umas das maiores bandas surgidas dos anos 90 para cá, que acaba de promover um estardalhaço na indústria da música. Desde 10 de outubro, a banda disponibilizou seu mais novo álbum "Inrainbows" para download ao preço que o consumidor quiser (que pode ser nada inclusive).A partir daí, a banda define um caminho que nos tempos de Internet já vem sendo trilhado, embora muitas vezes pela pirataria.


Baixar música de graça na rede não é novidade, e vez por outra, artistas disponibilizam singles gratuitamente e as gravadoras também já contabilizam as vendas a partir de número de downloads vendidos. A novidade é que dessa vez "Inrainbows" não ‘vazou’, nem há ninguém consumindo a obra de forma irregular. Preenchendo o cadastro no site, o internauta escolhe quanto pagar pelo disco. Isso acontece depois que a banda cumpriu seu contrato com a gravadora Capitol após o lançamento de "Hail to the thief", em 2003. O Radiohead está livre para vender seu novo álbum como bem entender.


Lobão, em 1999, também disse não às gravadoras e colocou “A Vida é Doce” à venda em bancas de revista. O cantor Prince, que já se arrisca em incursões digitais há algum tempo, encartou seu último álbum, "Planet Earth", na edição dominical do jornal "Daily Mail" em julho passado e vendeu 2,8 milhões de cópias distribuídas em um dia.


Percebendo que não poderá mais ficar em casa ouvindo o tilintar das moedas pingarem em sua conta com a venda de discos, a cantora Madonna assinou na terça-feira passada (16) um contrato com a Live Nation, empresa que organiza shows e turnês, para o gerenciamento total de sua carreira musical. Pelo acordo, especulado em 120 milhões de dólares, a rainha do pop deixou a Warner depois de 25 anos de contrato. Em comunicado oficial, ela diz "O paradigma nos negócios da música mudou, preciso acompanhar essa mudança. Pela primeira vez em minha carreira, a maneira como minha música pode chegar aos meus fãs está ilimitada. Quem sabe como meus álbuns serão distribuídos no futuro?". O Radiohead sabe.


O contrato inclui todas as canções e produtos musicais lançados por Madonna, de 49 anos, no futuro, incluindo a exploração comercial da marca da cantora, seus novos discos, suas turnês, merchandising, fã-clubes, websites, DVDs, programas de TV, filmes e projetos patrocinados. Isso não deixa de ser um sinal de que a proposta do Radiohead vem para fazer as gravadoras repensarem a maneira de explorar os artistas e os consumidores, além de humanizar o showbusiness: shows serão mais lucrativos do que a venda dos discos.


Há pouco mais de 25 anos, a Philips (em parceria com a Sony) lançava no mercado o compact disc digital áudio, invenção tecnológica que viria a revolucionar de forma definitiva a produção e a distribuição de música. O primeiro CD lançado foi o célebre "The Visitors", do Abba, famoso por ser também o último da bem-sucedida carreira do grupo sueco. Finalmente, oito anos depois de a música sair do disco para ganhar o espaço dos tocadores de MP3, algo começa a acontecer na relação entre ouvintes e artistas. Quem sabe aqui a pirataria visitará o limbo e os artistas independentes terão mais espaço para trabalhar. Previsões ainda são arriscadas porque a indústria não apresentou suas armas e ainda é cedo para saber se o consumidor aprenderá a respeitar o direito autoral, embora tenha a partir de "Inrainbows" a opção de até não pagar pela obra. Fato é que para registro, e como no caso de "Inrainbows" a oferta é em Euro, paguei nada pelo álbum que não tem preço.


A SAGA DA MELANCOLIA

Scratch na abertura, rock sincopadíssimo, pancada e melodia casadas com pirações eletrônicas... bem-vindos à primeira música "15 Step" que dá o tom do vigor do rock que a banda resgata. "One by one, come to us all", um por um, venham todos a nós, diz Thom Yorke na faixa arrebatadora que introduz o álbum "Inrainbows", o sétimo da carreira do Radiohead, banda famosa por hits como "Creep", "Paranoid android" e "Karma police", disponível apenas para download em www.inrainbows.com. É dos melhores, aliás. O estado etéreo do tempo que o Radiohead já havia provocado em "Idioteque" e, em certa medida, em "Everything in Its Right Place" (ambas de "Kid A") está de volta, porém mais rock 'n'roll do que nunca. Portanto, vá até eles.



Não se engane com a preferência pela melancolia de Tom York, o vocalista. Não se trata de um álbum de baladas. É rock revestido de Trip Hop até o fim, fruto de uma mente genial que não cansa de aguçar nosso espírito para despertá-lo da banalidade da dor. O Radiohead resolveu não apenas dar um tapa na indústria, mas nos ouvidos de quem há tempos não se lembrava o que era rock. "Bodysnatchers" tem guitarras que lembram o U2. Mais distorções e sonoridade suspensa em "Nude", bela melodia que transforma a melancolia em estado de prazer é a síntese do espírito da banda. Aqui você inflamará toda dor, ou toda dor-de-cotovelo que houver.


Batidas quebradas para triturar um coração adormecido em “Weird Fishes/Arpeggi”. A doçura segue com "All I Need" (que diz "você é tudo o que preciso") que desemboca nas cordas infinitas de "Faust Arp". A banda volta a atacar em "Reckoner", uma balada também arranjada com maneirismos vocais e sonoros que muito lembram o U2 novamente, até retornar a assombrar as almas com a sonoridade de "House of cards". Quando você pensar que está perto do fim, a linha de baixo de "Jigsaw falling into place" promoverá o recomeço de um novo orgasmo. Descanse com “Videotape”, a última, e começe tudo de novo.



Por isso e por mais, "Inrainbows" é a maneira mais eficaz de celebrar os dez anos do estupefaciente disco "OK Computer" e de pensarmos se ainda é apropriado chamar os álbuns de discos. Pelo menos por enquanto sim. Fãs também podem encomendar caixas contendo o novo álbum em CD e vinil, um segundo CD com faixas extras, artes e fotos, encarte com letras, além de um download (o pacote sairá antes de 3 de dezembro). A caixa custará 40 libras (aproximadamente R$ 160,00).



O QUE OS ARTISTAS PENSAM DO DISCO QUE NÃO TEM PREÇO

"Inicialmente imagino que eles estão fazendo uma provocação à subjetividade humana. Acredito que uma determinação dessa natureza no mundo eminentemente capitalista com certeza surpreenderá a uma indústria cultural que visa só e somente ao lucro, deixando a consciência planetária perplexa e, sobretudo, deixando a indústria sem o preparo necessário para ingressar no universo de solidariedade aos que constroem a arte com talento e muita dificuldade", Genildo Costa, cantor mossoroense.


"O que diabo é Radiohead? É banda de rock internacional? Ainda estou ouvindo os Beatles e no rock nacional Raul, Mutantes e Rita Lee. Sobre a questão da venda, de longe vou observar o mercado para depois avaliar. A princípio é estranho. Dizem que em alguns países avançados, bota-se gasolina sem o frentista e a turma não dá calote. No Brasil, quebraria os donos de postos. Acho que se praticássemos um preço justo no disco, em torno de R$ 20,00, evitariamos a pirataria", Zé Dias, produtor cultural.


"Este negócio de Internet está deixando doido a questão dos direitos autorais. Baixar música e não pagar por ela é estranho. Baixar e deixar por conta do consumidor o direito de estipular o valor, a princípio é democrático demais para uma sociedade consumista e de poucos valores éticos. É no mínimo estranho e vou pagar para ver", Khrystal, cantora.


“Não acho que é a morte do CD, assim como o livro que ainda não acabou. É o futuro mesmo. Sou desconhecida, mas estou vendo uma forma de me inserir nisso. Em muitas circustâncias não vale a pena disponibilizar tudo, mas para uma banda como eles é fantástico. O caminho para acabar com a pirataria é esse. O que as pessoas vão piratear se tem como baixar? Esse negócio de pagar o que você quiser vai levar as pessoa a ter consciência”, Simona Talma, cantora.

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Para votar na enquete "O Radiohead assassinou o CD?", acesse:


Louco por você...

Nos últimos dias, tem sido difícil carregar o peso de tanta aflição em meu peito... Tamanho tormento precisa acabar, e já! Gastei toda minha retórica em profusões de metáforas e diversas outras construções eruditas do vernáculo, mas agora quero simplificar com veemência as coisas: sou louco por você!

Pronto, está dito! Simples como fogo! E não pense que eu perdi o tino por causa de tal atitude libertária! Saiba: não é nada fácil confessar-se dessa forma, mas há situações-limite em que não dá mais para ficar afogado num mar de angústias e temores, preocupando-se exacerbadamente com a possível reação negativa de outrem.

A sua aparição em minha vida me fez adentrar o meu "eu" desconhecido e colocou em xeque muitos de meus valores e princípios até então estabelecidos como via de regra, e que vieram a se tornar totalmente obsoletos com o tempo! Gosto de você mesmo, e não me importa o que pense ou fale!

Sem mais delongas, é melhor que fique tudo às claras mesmo! Assim eu me sinto mais verdadeiro, mais leve! Afinal de contas, apaixonar-se não é crime!

"Toda razão perde o seu fim se um coração for o juiz". (Djavan)

Obs.: queridos leitores, o nome do blog ainda é "Café Cultural", e não "Café Confessional", cabe ressaltar!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Nobody lives without a love!

I'd like to dedicate these words to my sweet love:
Now I'm here... by myself... I'm waiting for you but I know that you won't come back to me at this moment. Please my love, tell me what must I do without seeing you! Since you went away, nothing else matters to me. I can't forget you. Everybody says that a great love only may be forgotten when a new love appears. I can not forget you because my heart says to me that I'll not love anybody as I loved you.

However I know (maybe) one day you'll come back to me because another love like mine you'll never find around the world. Nobody lives without falling in love. Nobody lives without a love!

Inspired on a Brazilian song named "Ninguém vive sem amor", composed by Almir Bezerra and performed by The Fevers.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Até a vitória, sempre!

CHE: ícone que virou souvenir na mão do capitalismo

Ernesto Guevara de La Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, na Argentina, onde, aos dois anos de idade, teve sua primeira crise de asma, doença que o acompanhou pelo resto da vida. De família de classe média, Che, como ficou conhecido, pretendia estudar engenharia, mas aconselhado pela avó, partiu para a medicina. Em 1952, resolveu fazer uma viagem de motocicleta pela América Latina com o amigo Alberto Gramado (história retratada em filme de Walter Salles “Diários de Motocicleta”) e quando viu a pobreza pelo continente, decidiu que terminaria os estudos e assumiria sua alma política com o sonho de fazer justiça e acabar com as desigualdades sociais.
O primeiro casamento de Che foi com a peruana Hilda Gadea, com quem teve uma filha, Hildita. Em 1955, após viajar para a Bolívia e para Guatemala (a dependência que a América Latina tinha com relação aos Estados Unidos foi o motivo do fim de seu primeiro projeto político na Guatemala, quando a Casa Branca apoiou a derrocada do presidente Jacobo Arbenz), foi ao México onde conheceu Fidel Castro e se uniu a ele - primeiro como médico e mais tarde como comandante - em sua expedição armada para expulsar do poder o presidente cubano Fulgencio Batista (apoiado pelo Estados Unidos), em uma coluna guerrilheira que, a partir do leste da ilha, tomou Santa Clara (centro) e em 1º de janeiro de 1959 promoveu o triunfo da revolução. Depois do feito, Che adotou a nacionalidade cubana. Na ilha, conheceu Aleida March de la Torre, com quem teve Aleidita, Celia, Camilo e Ernesto.
De guerrilheiro para membro de governo houve poucos atritos com sua ideologia - próxima ao marxismo-leninismo radical, mas heterodoxa que seria chamada de "guevarismo" -, e, após desempenhar cargos como o de presidente do Banco de Cuba e o de ministro da Indústria, deixou a ilha em 1965. Na viagens que realizou, Che esteve no Brasil em abril de 1961, quando foi recebido e condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul pelo então presidente Jânio Quadros.
Che deixou o governo para sair novamente pelo mundo propagando seus ideais de revolução, até que em 8 de outubro de 1967 foi capturado e executado no dia seguinte por soldados bolivianos na aldeia de La Higuera, aos 39 anos. O corpo só foi encontrado em 1997 e hoje está enterrado num mausoléu, na cidade de Santa Clara, em Cuba. Curiosamente, o homem que estava por trás do fuzil que matou o guerrilheiro, Mario Terán, recuperou a visão graças a cirurgiões cubanos, após uma operação de catarata. Nos 40 anos da morte de Che, a sua cidade natal - a argentina Rosário - prepara um calendário para comemorar, em 2008, os 80 anos do nascimento do guerrilheiro, ocorrido em 14 de junho. Já os exilados do regime castrista criticam uma figura que defendeu a extinção do imperialismo e a conseqüente recuperação dos países subdesenvolvidos.

Somente a luta armada e a revolução podem melhorar a vida dos pobres: são necessários "lares" de guerrilha para conduzir a um levante geral; o Terceiro Mundo é explorado por dois blocos: capitalista e comunista; a salvação é uma revolução que alia guerrilha, camponeses e reforma agrária; a revolução, assim como o advento de um "homem novo", procura recompensas morais e não materiais; a América Latina é uma só civilização, mestiça, com fronteiras artificiais, que têm que ser derrubadas; a revolução e a luta total contra o imperialismo devem ser mundiais.
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CONTRAPONTOS
Os historiadores e demais estudiosos se dividem quanto a representação de Che para a sociedade hodierna. Para o historiador e presidente do PC do B de Mossoró, Antônio Capistrano, Guevara "é o maior ícone revolucionário da América Latina e um dos maiores do mundo. A maior contribuição que ele deixou foi dedicar a sua vida a uma causa, um internacionalista. Um homem cuja pátria era o universo. Ele era argentino, mas não deixa de ser um herói do mundo. Ele era também um homem de idéias, deixou um legado cultural muito grande. Pensou uma sociedade justa, onde todo mundo teria direito", diz, rebatendo as críticas de veículos como a revista Veja, que publicou esta semana uma ode de desprezo ao guevarismo.
Capistrano diz: "Quem é exilado já está dizendo, fugiu. Nem Jesus é unanimidade. Cuba também tem seus opositores. O que a Veja fez, vem fazendo com os ícones do comunismo de todo mundo. O que é financiado pelas organizações norte-americanas não é de interesse que essas personalidades sejam bem-vistas", completa. Capistrano acredita ainda que o exemplo de Che inspire as ideologias políticas de hoje. "Acho que o exemplo dele de abnegação particular para interesse coletivo vale como exemplo. O cara que deixa de ser ministro e se mete na África, Ásia, nas selvas para fazer guerrilha, isso mostra exatamente a força da idéia e o caráter humanitário da figura de Che. Esse exemplo que faz com que os partidos comunistas, marxistas, sigam seu caminho. A luta armada tem sentido em momentos - o contexto é que determina isso. Mesmo existindo o predomínio do capital, da grande mídia, acho que hoje há o caminho para o diálogo", finaliza.
Por outro lado, o historiador Tomislav Femenick não poupa críticas ao universo guevarista. "Ele era um sonhador e como sonhador acabou se transformando num aventureiro a ponto de perder a ternura. Ele era tão aventureiro que incomodou o governo cubano. Ele foi um desastre dentro do governo cubano. No Brasil, de certo modo, Che contribuiu para a renúncia de Jânio Quadros quando foi condecorado. Existe muito mito em torno dele. Ele não tinha compromisso com a realidade, só com o sonho". Femenick não percebe influências das idéias de Che para a política local: "Não há influência na política local hoje. Ninguém pensa como Guevara, nem o toma como modelo. Ele foi aventureiro e não um pensador", mas pondera ao admitir que "não resta dúvida que ele contribuiu para humanizar o capitalismo, mas foi uma contribuição involuntária para quebrar a visão americana de que somos o quintal deles".

SOUVENIR

Che Guevara se tornou símbolo de rebelião e revolução. Seu status de ícone popular continua difundido pelo mundo, misturando política e arte. Na política, na América Latina vários políticos citam a luta de Che. Na Nicarágua, os sandinistas guevaristas foram reeleitos em 2006, após serem afastados do poder por 16 anos. O presidente boliviano, Evo Morales, sempre faz homenagens a Che. Na Venezuela, Chavez é conhecido por fazer discursos usando camisas com foto de Guevara. Che inspira ainda as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército Zapatista da Libertação Nacional, no México. Em Cuba, o regime de Fidel une o sistema soviético ao culto à personalidade de Che. Nas artes, em outras palavras entenda-se no showbusiness/entretenimento, o capitalismo abusa do poder de subversão de valores para maquiá-lo de liberdade juvenil e promovê-lo como produto de consumo de massa. A indústria sabe manipular a imagem de Che para vendê-la como suvenir da moda e da música, por exemplo.
De qualquer modo, alienado ou não, o ideal de igualdade está solto na sociedade, embora embalado. De um lado a luta armada, a barbárie (de que lado venha) não é remédio para sanar os problemas; de outro, como se fazer notar pelo poder repressor do passado se não pela guerrilha? O produto Che - longe dos confrontos físicos, da luta armada - age sorrateiramente e sem mortes. Se a dialética do capitalismo se confirmar, o sistema estará lucrando hoje, mas criando e propagando as armas de sua própria destruição para amanhã.
"Sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer um em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário", escreveu em seus últimos anos aos quatro filhos de seu segundo casamento.

MATERIALISMO HISTÓRICO

O presidente boliviano, Evo Morales, presta homenagem a Che Guevara e lança selo comemorativo aos 40 anos da morte do ex-líder, em Vallegrande, na Bolívia (Foto: Aizar)


A modelo Gisele Bündchen desfila de biquíni com a imagem de Che Guevara (Foto: AFP)

Em 2003, um dos maiores ícones do consumo capitalista, a cantora americana Madonna, apropriou-se da imagem de Che para lançar "American Life" e protestar contra o governo Bush. Não deu certo. Vendeu pouco, o disco é chato, mas valeu pela "briga" com os americanos.



O ex-jogador de futebol argentino Maradona mostra sua tatuagem de Che guevara (Foto: AFP)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aniversário de Jorge Vercilo!

O mais querido cantor e compositor da nova música popular brasileira chega nesta data aos 39 anos de idade em plena atividade: inspiradíssimo, agenda cheia, prêmios acumulados, aclamação popular, prestígio entre os grandes nomes da MPB e dois lançamentos praticamente simultâneos - o DVD "Coisa de Jorge" (em parceria com Jorge Mautner, Aragão e Benjor) e um CD de inéditas previsto para novembro, intitulado "Todos nós somos um", que já possui, inclusive, uma música de trabalho chamada "Ela une todas as coisas", que já é parte da novela Duas Caras, da Globo. O primeiro é resultado de um show realizado para milhares de pessoas na Praia de Copacabana no dia 23 de abril deste ano, em homenagem a São Jorge, santo guerreiro. A música de trabalho, o ijexá "Líder dos Templários" está na boca das pessoas, em todas as rádios do Brasil. Quanto ao novo CD de inéditas, trata-se - nas palavras do próprio cantor - de seu CD mais brasileiro, com produção de Paulo Calasans e participações de músicos do quilate de Guinga, Marcos Valle, o percussionista Marçal, o baixista Arthur Maia, e arranjos de cordas de Gilson Peranzetta, Eduardo Souto Neto e Jota Moraes. O álbum trará ritmos distintos como samba, xote, bossa-nova e algumas incursões no rock e no jazz. Agora só resta aguardar!

O aniversário é de Jorge Vercilo, mas quem ganha é seu público, contemplado assim com tantos e bons lançamentos! E o nosso Café Cultural não poderia deixar de homenagear esse cara tão amado no cenário musical brasileiro!
Parabéns, Jorge!

domingo, 7 de outubro de 2007

Santiago Nazarian, a sensação da Bienal do Livro!

Na última sexta feira (05/10), saí correndo desesperadamente do trabalho pra ver se chegava a tempo de assistir à palestra do jovem escritor paulista Santiago Nazarian (um dos meus favoritos dessa novíssima geração) na VI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, realizada no Centro de Convenções.

Santiago é talvez a figura mais pop da escalação da Bienal deste ano e, por essa razão, o auditório Clarice Lispector estava lotado para assistir à sua bem-humorada palestra com o tema Literatura e Underground. O escritor de 30 anos foi entrevistado pelo poeta Delmo Montenegro, respondeu perguntas da platéia e falou sobre seus 04 romances publicados: Olívio (2003), A Morte sem Nome (2004), Feriado de Mim Mesmo (2005) e o mais genial deles, Mastigando Humanos (2006). Com seu sarcasmo habitual, ele divertiu a platéia e causou frisson ao brincar com a mítica sexual que existe em torno de sua persona pública: "depois da palestra, eu 'atenderei' ao público no box 1 do banheiro masculino. Vou deixar a porta entreaberta". Dentre as surpresas, Nazarian nos adiantou um capítulo inteiro de seu livro inédito (ainda sem título) que tem previsão de lançamento para meados do próximo ano. O romance litorâneo (a história se passa numa praia pouco freqüentada) conta a história de um grupo de rapazes física e psicologicamente atípicos que vêem suas vidas transformadas pela chegada de um professora. Enfim, nas palavras do próprio autor, é uma coisa meio "Branca de Neve e os Sete Anões". Durante o debate, falou-se bastante sobre Mastigando Humanos, seu último livro lançado. A história consiste num romance com toques juvenis, cujo protagonista é um jacaré que vive nos esgotos de São Paulo e é apaixonado por um "sedutor" tonel de óleo. O réptil é amigo de um sapo fumante e de um travesti vendedor de yakissoba, que alimenta o crocodilo quando joga os restos de comida no bueiro. Recheado de personagens esdrúxulos e referências impensáveis, o texto bem-humorado e fascinante contém ideais filosóficos, contestação adolescente, humor, carga dramática, lirismo pop e sutis toques góticos. Na verdade, o personagem central - o jacaré que quer comer gente - pode ser personificado na figura de um jovem adolescente, virgem, existencialista, que ainda não encontrou seu rumo e está em busca de descobertas de si mesmo e do mundo.


Ao findar a palestra, Santiago Nazarian autografou livros e tirou fotos com os fãs, e eu fui um deles!
(Detalhe: ele não é tão alto assim! Estava em cima de um degrau)

Santiago Nazarian é (depois do"fenômeno" Bruna Surfistinha) o escritor entre os 20 e 30 anos que mais vende livros do Brasil. Cabe uma ressalva: ao contrário da famigerada "Surfistinha", ele é bastante talentoso, escreve muito bem e sabe compor personagens como há muito não se via na Literatura Brasileira. Tornou-se nacionalmente conhecido a partir do lançamento do livro Feriado de mim mesmo. Nesta época, concedeu, inclusive, entrevista no Programa do Jô Soares. Enquanto alguns classificam sua obra simplesmente como adolescente, outros o vêem como a mais grata surpresa da literatura brasileira dos últimos anos. O fato é que seu estilo fascinante, dotado de uma roupagem pop, contém o ímpeto advindo da jovialidade e versatilidade de quem já passou por várias profissões atípicas: ele já foi barman de pub punk em Londres, compositor de jingles, professor de inglês, redator de histórias de disque-sexo e de horóscopo. Além disso - visto que no Brasil não dá pra viver somente se literatura - ele faz legendas de filmes e traduz livros para o Português, como é o caso das obras Maldito Coração, de J.T.Leroy, e Fan-Tan, de Marlon Brando.

A VI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco segue até o domingo (14/10) no Centro de Convenções (Olinda-PE).

Obs.: querida Claúdia Campelo, eu devo essa matéria a você que me avisou da referida palestra. Amiga, tenha meus sinceros agradecimentos!

sábado, 6 de outubro de 2007

Pirataria na Internet e morte do CD.

Pirataria na rede

Nos últimos anos, a tecnologia da informação tem afetado drasticamente a maneira de se vender música. A facilidade com que a Internet permite a troca de arquivos digitais entre seus usuários elevou a pirataria a níveis estratosféricos. Em poucos minutos, é possível baixar o CD ou DVD do artista preferido, sem ter que desembolsar um centavo sequer! No Orkut - o mais famoso site de relacionamento do mundo - há inúmeras comunidades com esse fim, tais como "Trocando MP3" (com mais de 30.000 usuários) ou "Discografias"(que possui inacreditáveis 430.000 membros). Nelas, os usuários podem fazer pedidos de músicas raras ou lançamentos de seus artistas favoritos e, em poucos dias, são prontamente atendidos: recebem os devidos links dos sites para baixarem as canções solicitadas. Esses sites funcionam como uma espécie de HD virtual compartilhado, onde os internautas podem fazer upload e download de arquivos diversos, livremente. Tais comunidades consistem num verdadeiro sonho para os colecionadores de música digital. E não há como banir esse tipo de comportamento na Internet, até porque (pelo menos no Brasil) não existe uma legislação completa e eficaz para coibir os abusos da pirataria na rede. No entanto, alguns países já são mais severos no tocante a essa questão: no início do ano, em Montauban (França), uma vovó de 66 anos foi multada em quase 500 euros por danos e prejuízos porque baixou mais de três mil músicas na Internet.
Surge então o seguinte questionamento: é certo que um erro não se justifica com outro, mas até que ponto é tão grave baixar músicas pela Internet num país como o Brasil, no qual a política econômica é totalmente desvirtuada e os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) encontram-se na mais pura sarjeta ética e moral? A pirataria é apenas mais um sintoma do sistema econômico mal administrado de um país em que até imunidade parlamentar é sinônimo de passagem livre para roubalheira descarada! Pirataria é roubo, sim! Ela prejudica um sem-número de artistas e desemprega outros milhares envolvidos no processo de criação, produção, distribuição e venda dos produtos. Porém, é bastante incoerente que se pratiquem os preços exorbitantes dos artigos originais: alguns lançamentos em CD e DVD chegam a custar, respectivamente, absurdos 10% e 15% do salário mínimo atual, em média. A carga tributária altíssima sobre os produtos não pode nem deve ser utilizada como única justificativa para os valores abusivos!
Nessa nova conjuntura, a fim de manter a sobrevivência no mercado, os artistas e gravadoras têm começado a repensar a forma de comercialização de seus produtos, pois a tendência é de sumir o produto físico e permanecer o intangível. Alguns artistas já inovaram a sua sistemática de venda. O exemplo mais recente é o do Radiohead, uma das mais influentes bandas de rock do mundo, que disponibilizará, a partir do dia 10 de outubro, o seu novo álbum "In Rainbows" no formato mp3 em seu site (http://www.radiohead.com/). O mais curioso é que o preço ficará a cargo do fã, que pode escolher não pagar, se preferir. Especialistas dizem que o grupo pode vir a ganhar com essa escolha, pois já possui uma sólida base de mercado.

No Brasil, já existem sites de comercialização de música digital, como o UOL Megastore e o i-música, que oferecem ao usuário a opção de baixar, por exemplo, as músicas de trabalho de um álbum lançamento ao preço de R$ 1,80 cada faixa, em média. Dessa forma, o consumidor que não se interessa em comprar o disco inteiro adquire sua música favorita e ainda valoriza e prestigia o artista. O grupo de forró universitário Falamansa, por exemplo, já disponibilizou em mp3 (ao preço de R$ 1,69 cada download) as músicas de trabalho de seu mais novo álbum, Segue a vida, cuja versão em CD ainda está sem data prevista. As três faixas disponibilizadas - Segue a vida, Miou e Amor amor - são recordistas de downloads no site da Deckdisc, gravadora da banda. Experiências como essa comprovam que é possível ao artista divulgar o seu trabalho musical sem necessariamente ter que lançar um CD. Além disso, o novo formato pode incentivar mais ainda a criatividade dos compositores na disputa de mercado, pois evita que o consumidor tenha que levar um CD inteiro somente por causa de uma única boa faixa. Com isso, espera-se uma maior qualidade das canções lançadas, no intuito de atrair os consumidores, que só irão comprar as faixas que realmente lhes interessem!

Breve histórico do CD:

Há pouco mais de 25 anos, a Philips (em parceria com a Sony) lançava no mercado o compact disc digital audio, invenção tecnológica que viria a revolucionar de forma definitiva a produção e a distribuição de música. A leitura das músicas sem o contato físico proporcionava a incrível qualidade e total pureza do som. No entanto, os equipamentos para reprodução dos disquinhos eram caríssimos - os primeiros CD players lançados chegavam a custar certa de 2 mil dólares (o equivalente, hoje, a cerca de R$ 4,15 mil). Acreditava-se que os aficcionados de música clássica teriam mais dinheiro para adquirir CDs do que os consumidores de cultura pop.

O primeiro CD lançado foi o célebre "The Visitors", do Abba, famoso por ser também o último da bem-sucedida carreira do grupo sueco. Os dois casais que formavam o quarteto estavam se separando, e a crise podia ser constatada nas letras das músicas. Entretanto, o formato só veio ter um maior alcance popular com o título "Brothers in arms", da banda Dire Straits, em 1985. Era a primeira vez que um CD vendia mais de um milhão de unidades. Somente em 1988 é que as vendas de CDs superaram as de LPs. Em 1992, o álbum "Erotica", de Madonna, foi o primeiro CD a imitar entre as músicas o som do chiado do vinil, e no encarte havia uma observação explicando que "todas as imperfeições eram propositais". No Brasil, os primeiros discos digitais chegaram em 1985, mas só tiveram seu boom no início dos anos 90, e a fabricação dos antigos LPs só encerrou no Brasil em 1996.

O consumidor e sua relação com os CDs:

Eu, Freddy Simões, sempre fui um exímio colecionador de CDs. Lembro-me de que o meu primeiro CD comprado foi uma coletânea de Lulu Santos chamada Acervo. Era um disco que eu ouvia constantemente. Continha canções como Tudo bem, A cura e Condição . Entretanto, lembro-me de que num aniversário meu, em 1995, meu pai me deu R$ 60,00 e eu, muito feliz da vida, torrei o dinheiro todo numa loja de CDs - adquiri os fantásticos álbuns V (cinco), da Legião Urbana; Sobre todas as coisas, do Cidade Negra e um CD cuja banda eu nem conhecia, mas comprei por causa da capa diferente, esverdeada, que mostrava uma figura esdrúxula, assustadora e com um sorriso irreverente - o álbum era Calango, do Skank, que fez enorme sucesso com os hits Jackie Tequila, Esmola, O beijo e a reza e Pacato cidadão. Foi o disco que deu amplitude e popularidade à banda mineira. Eu também adorava uma coletânea de Djavan, chamada Pétala, que ganhei de presente de minha irmã, Linda Simões. Hoje possuo as discografias de Roberto Carlos, Djavan, Jorge Vercilo, Maria Rita, Marisa Monte, Legião Urbana, Beatles, Caetano Veloso, Fagner, Ivete Sangalo, Michael Jackson, e mais uma infinidade de cantores e bandas de inúmeros estilos, de A a Z.


Toda inovação tecnológica (se for para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas) é bastante louvável. A criação de players de Mp3 é fantástica, implica em comodidade, praticidade, conforto e ecomomia para os consumidores de música, mas não traz o contato táctil com o produto - nada substitui o prazer de comprar aquele álbum desejado, com uma capa que faz história, encarte com letras e informações complementares. O disco cria um vínculo mais forte e verdadeiro entre o consumidor e seu artista predileto. Eis alguns relatos de alguns consumidores e sua relação com o CD:

"O meu primeiro CD player me foi dado de presente de aniversário, em 1992, pelo meu ex-marido. Sempre fui uma pessoa bastante musical, e fiquei fascinada com a qualidade de som ouvida naqueles disquinhos reluzentes. Eu adorava o novo formato! Lembro-me de que, dentre os primeiros CDs que adquiri, figuravam Coisa de Acender, de Djavan, e o delicioso disco da Banda Beijo que possuía uma bandeira ilustrando a capa e tinha o cantor Netinho como líder", afirma a administradora Dagmar Simões. A secretária Cátia Veloso relata seu primeiro contato com o CD: "Eu já tinha constatado a ótima qualidade do som, pois cheguei a ouvir alguns CDs em casas de amigos. Fiquei encantada, mas não tinha dinheiro para comprar o aparelho, porque o preço ainda era muito alto. O ano era 1994. No entanto, eu resolvi me antecipar e comprei, mesmo sem ter onde reproduzir, dois CDs maravilhosos que eu queria muito: The Stonewall Celebration Concert, de Renato Russo, meu ídolo na época, e Valsa Brasileira, de Zizi Possi, minha cantora favorita. Após a compra, eu os guardei com muito carinho em minha estante, e isso me serviu de incentivo para que eu adquiririsse um CD player o mais rápido possível". Já a arquiteta Pricylla Girão afirma: "Nunca fui uma assídua compradora de CDs, mas me recordo de que o primeiro título que comprei foi uma coletânea da banda Simply Red, a qual eu não me cansava de ouvir. Fiquei muito feliz com aquisição e tenho ótimas recordações dessa época". Danilo Gouveia, estudante, 25 anos, lembra-se de que seu primeiro CD adquirido foi Cor de Rosa e Carvão, de Marisa Monte: "Eu considero até hoje esse álbum como o trabalho mais bonito da cantora. Fiquei vidrado na voz suave dela cantando aqueles sambas, bossas e baladas pop. E o encarte ainda vinha com músicas cifradas! Foi um verdadeiro tesouro musical. Até hoje esse CD me causa emoções e arrepios".

O CD, como produto de mercado, está em processo de morte lenta e, em poucos anos, deve ceder o lugar a outros tipos de mídia, como o DVD áudio, que possui uma incrível qualidade e permite ouvir o som com maior riqueza de detalhes não percebidos no CD. No Brasil, ainda existem pouquíssimos títulos no formato DVD áudio, como a edição remasterizada do célebre álbum "Elis e Tom", de 1975, cujas minúcias da gravação original agora podem ser ouvidas com total clareza e perfeição. Entretanto, como produto de capricho e reverência, o CD ainda perdurará por muitos anos, pois amor de fã é incondicional e eterno, e os consumidores conservarão os discos de seus artistas favoritos, até porque - mesmo que o aparelho tocador de CD deixe de ser fabricado - o formato ainda poderá ser reproduzido nos DVD players.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Voltei a escrever!

Prezados leitores, após um mês de ócio criativo, é com grande satisfação que lhes comunico da minha disposição a escrever novamente no nosso Café Cultural! Apesar de eu não ser libriano, tenho muita afinidade com os ventos de outubro, os quais sempre me trouxeram bastante inspiração (não me perguntem por que razão!). Às vezes, quando se está com a cabeça cheia de problemas, é complicado obter entusiasmo para iluminar a mente. No entanto, eu já estava com saudades deste espaço onde a liberdade de expressão e a profusão de idéias devem persistir como o principal propósito. Portanto, de agora em diante, não se surpreendam ao se depararem com textos mais espontâneos, despidos daquela carga intensa de formalidade, mas, obviamente, dotados da qualidade esperada e fiéis às regras do vernáculo.

Gostaria de prestar um agradecimento especial aos queridos Williams e Renata, meus colaboradores, por manterem o blog sempre atualizado com seus excelentes textos! Aliás, a verve criativa de Williams está em alta: o rapaz foi recordista de comentários no blog por dois meses consecutivos - em agosto, pelo texto sobre Tieta do Agreste e, em setembro, pelas considerações acerca da cantora Roberta Sá! Parabéns!

Saibam que farei - junto com meus colaboradores - o impossível para transformar este blog numa verdadeira revista eletrônica, com postagens cada vez mais atrativas e interessantes pra vocês!

Um sincero abraço!

Freddy Simões

sábado, 22 de setembro de 2007

Propaganda é apenas a alma do negócio

Para os estrangeiros que visitam o país de Mossoró, levem só as pedras preciosas na bagagem
Até bem pouco tempo Mossoró se candidatou a capital da cultura e perdeu para Olinda. Justo. Amigos de outras terras, de Estados vizinhos, não perdem a oportunidade de me dizer que gostariam de conhecer a cena cultural de Mossoró porque dela ouvem falar muito bem. E eu respondo: que cena?

Há espetáculos graciosos, há de se registrar, porém anuários que não matam a sede de beber dos benefícios de uma cena constante. Os teatros, por exemplo, quem freqüenta? Poucos entendidos da importância do movimento e os familiares e amigos dos artistas que se apresentam. Casa cheia? Só se um Global ou uma Heloísa Helena estiver sobre o proscênio.

Quarta-feira, 19 de setembro, retomada do projeto Canto Potiguar. Depois de divulgação maciça nos jornais, rádios e TVs da cidade pouco mais de 50 pessoas comparecem ao Teatro Lauro Monte Filho e sentam em cadeiras manchadas (de cocô de morcego?) para ver Valéria Oliveira apresentar seu mais novo trabalho "Leve só as pedras".

Parabéns a Genildo Costa, idealizador do projeto, pela persistência e pelo belo evento. Mas por que numa cidade de mais de 200 mil habitantes tão pouca gente se dispõe a apreciar a variedade da arte potiguar? Hábito, predomínio do forró que ecoa das duas capitais que nos cerca, ou será por que a cidade não oferece transporte público para que se chegue até os teatros e demais eventos? Que venham mais guerreiros do bom gosto como Genildo nesses tempos.

Leve só as pedras preciosas para polir o ouvido
Gravado no final de 2006 e lançado mês passado, "Leve só as pedras", produzido por Kazuo Yoshida e Valéria Oliveira, é o primeiro álbum autoral da carreira da cantora. Patrocinado pela Cosern e Lei Câmara Cascudo, o disco traz 14 faixas que passeiam pelo universo dos encontros e desencontros do amor, tema recorrente nas canções.
Embora estreante no registro de canções próprias, Valéria revela uma maturidade de quem sabe colocar a voz no lugar certo. E mais, ela sabe escolher os parceiros certos. Com apoio dos amigos do projeto Retrovisor, Valéria emociona ao entoar letras e melodias de Simona Talma, Ângela Castro, Khrystal, Romildo Soares, Lula Queiroga, Caetano Veloso e Lenine.

Destaque para o espírito engenhoso e surreal de Luiz Gadelha em letras, arranjos e efeitos, além das fotos e da proposta do primoroso encarte, que só podiam ser devaneios dele e que Valéria tão bem soube aproveitar.
Acompanhada dos mestres Ricardo Baia (guitarra) e Paulo de Oliveira (baixo), Valéria propõe, no show e no disco, riscos de psicodelia em arranjos nervosos de uma guitarra contida que abre o CD sob a áurea do rock e passeia pelos augúrios do samba ao longo da obra. É fim de semana, amanhã é segunda-feira e "tudo volta ao (a)normal".

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Outro mundo

A profissão de jornalista nos dá a grata oportunidade de ouvir histórias interessantes - nem todas felizes, mas sempre interessantes e, sobretudo, surpreendentes! Muitas vezes, acreditamos que os melhores relatos nos virão de grandes intelectuais, mas acabamos admirados com os relatos de pessoas simples.

Semana passada, fiz algumas entrevistas para uma pauta (assunto de uma reportagem) sobre pichações. Dentre todas, uma em especial chamou a minha atenção. O entrevistado: um franzino adolescente, pichador. Simpático e disposto a revelar tudo sobre o assunto, relatava com entusiasmo os feitos dele.

Contou-me que começou a pichar por influência dos amigos e que parou de estudar na 5ª série. “Pichar é um vício”, afirmou. Disse percorrer vários bairros em busca de um alvo a ser pichado. Feito ele, outros jovens buscam de fama e emoção. Sentem-se heróis. Eu estava diante de uma realidade completamente diferente da minha. Aquele garoto parecia viver em outro mundo, ou sou eu que vivo?

As “tags” (nome dado às assinaturas deles), em geral, são acompanhadas de uma sigla, que se refere ao bairro ou ao grupo dos pichadores. Quando um deles picha em outro bairro, gera um descontentamento no grupo deste bairro. “É uma ofensa. Então vamos pichar no deles também.”

O menino disse ficar frustrado quando faz uma “tag” pequena. “Gosto de detonas grandes.” Sempre me surpreendia com uma palavra do vocabulário dele. “Detona é o mesmo que piche”, explicou-me. Só um alvo escapa: as igrejas.

Espantava-me sua tamanha destreza e aptidão para pichar nos lugares mais altos e inusitados. Então, perguntei-lhe como ele e seus colegas conseguiam pichar viadutos. “Ah, isso é muito fácil. A gente se pendura com uma mão e picha com a outra.” E o fazem sem a menor proteção. Para pichar prédios, algumas vezes, contam com a ajuda de funcionários ou “molham as mãos deles”. São alpinistas urbanos.

O rapaz contou-me, com orgulho, que é um dos mais importantes do grupo dele. Sua família sabe? Perguntei-lhe. Disse que não. “Uma vez a minha mãe desconfiou, mas inventei uma história. Não quero dar esse desgosto a ela.” Tão jovem e já perdeu muitos amigos. Em tão tenra idade e já deu de cara com a morte. Afirmou ser consciente do crime que pratica. Entretanto, garantiu que não teme a polícia. “Tenho medo mesmo é dos encapuzados (integrantes de grupo de extermínio)”. Ele não sai para pichar sem pedir a proteção divina. “Temos até uma oração. A oração do pichador”, revelou.


“Ser pichador dá prazer, mas você pode pegar o bonde para o inferno ou para o céu mais rápido. Quero sair dessa vida, não quero morrer.” Contudo, quando o problema está relacionado ao vício, não é fácil resolvê-lo. O garoto disse que no dia da entrevista faria a última pichação. Ninguém acreditou, e eu nem sei se acredito. No entanto, torço para que tenha sido verdade. Vi nos olhos dele uma vontade enorme de viver, de escrever uma outra página na sua história. Ele precisava de ajuda. Porém, eu me sentia com as mãos atadas. O que eu poderia fazer? Aconselhá-lo? Aconselhei. E rezar por ele é tudo o que posso fazer. Talvez nunca mais o veja, e essa incerteza me angustia. Quero saber como ele está, e se acaso conseguiu livrar-se do vício (se é que esse comportamento pode ser classificado como tal). Já tive, inclusive, a fachada da minha casa pichada, e confesso ter sentido raiva dos que fizeram isso, mas não consigo mais condená-los, pois, talvez - da mesma forma que aquele menino - eles também não tenham uma família estruturada. E falta de estrutura não quer dizer falta de dinheiro, e sim falta de amor, de atenção, de educação e de carinho.


Crime: pichar é considerado crime ambiental previsto na lei n° 9.605/65, com penas de multa e detenção que variam de três meses a um ano. Se o prédio for tombado, a punição mínima aumenta para seis meses. Mas, no geral, a penalidade fica só na prestação de serviços comunitários.

sábado, 15 de setembro de 2007

Dia de celebrar a resistência na ponta dos pés

"Frevo":desenho do poeta Manuel Bandeira


Frevo: a história dos pobres excluídos pelo domínio da burguesia que pouca gente ouviu falar

Basta escutar a cadência para sacolejar o corpo, ainda que em mente. E só conhece a verdadeira força do frevo quem já subiu e desceu as ladeiras de Olinda, em Pernambuco. Terra onde não se precisa de um trio elétrico e um abadá e Ivete, Daniela ou Cláudia Leite para fazer a festa. É preciso resistência apenas. Aliás, a alma do frevo, desde o início, está ligada à palavra resistência e à essência da liberdade, da expressão artística e social das camadas pobres que não podiam pagar para participar da festa da burguesia recifense do final do século XIX.
A antropóloga Rita de Cássia Barbosa de Araújo, da Fundação Joaquim Nabuco, explica que em meados do século XIX as ruas do Recife começaram a ser calçadas, saneadas e iluminadas, o que despertou a cobiça da classe dominante que queria ocupar o espaço público para torná-lo privado de suas manifestações religiosas, cívicas, políticas e, claro, para o carnaval.
As elites urbanas também desejavam substituir o Entrudo, festa de origem portuguesa considerada por elas grosseira e violenta. O carnaval deveria se tornar algo para pessoas letradas, ricas e os pobres que acompanhassem de longe a festa de máscaras finas e que não se aproximassem sob pena de ser banidos pela polícia.
A verdade é que o carnaval dos rejeitados pela burguesia nunca deixou de existir. Até que na década de 1880, os excluídos, que eram a maioria, levaram às ruas os clubes pedestres em cortejo com estandartes e os foliões formando um cordão, ao contrário dos clubes de alegoria da elite que desfilava em cima dos carros.
Desta união da classe pobre do Recife para fazer sua própria festa de carnaval nasce o frevo. Fruto da resistência à hipocrisia e dominação burguesas e da evolução dos dobrados de inspiração militar, de polcas, maxixes, quadrilhas e modinhas: o frevo "freve" nas ruas da capital pernambucana com as bandinhas de metal e os capoeiristas que imprimiram os passos repetidos em todo Nordeste até hoje.
14 de setembro é o dia do frevo, mas O Jornal Pequeno de Recife foi o primeiro a estimular a festa popular e a registrar o ritmo. Em 9 de fevereiro de 1907, um Sábado de Zé Pereira, o jornal batiza o frevo que se formava sob o calor da resistência dos pobres aos devaneios dos ricos décadas antes.
Graças que os trabalhadores e negros ex-escravos do Recife da época eram proibidos de se misturarem a festa da burguesia, copiada dos moldes de Viena e Paris, porque assim nasceu este ritmo marcante e o carnaval mais democrático que existe no planeta.









domingo, 9 de setembro de 2007

Gonzaguinha imortalizado em DVD.

Gonzaga Jr. (1945-1991), um dos maiores expoentes da MPB, acaba de ser colocado postumamente na era do DVD. Compositor genial, de uma sensibilidade incrível, Gonzaguinha participou do célebre programa Ensaio (da TV Cultura) em 1990, pouco antes de sair precocemente de cena, vítima de um acidente automobilístico. O programa teve as imagens e o áudio totalmente restaurados e o DVD chega às lojas ainda neste mês. O projeto é resultado de uma parceria entre a gravadora carioca Performance Music e a emissora paulista.

O espectador poderá assistir a grandes clássicos do autor, que fizeram história na nossa música, tais como Sangrando; Comportamento geral; O que é, o que é; Diga lá, coração; Grito de alerta; Explode coração; Espere por mim, morena; Começaria tudo outra vez; Ponto de interrogação; Com a perna no mundo; e Lindo lago do amor. Além disso, Gonzaguinha canta vários sucessos de seu pai, o Rei do Baião, dentre os quais Respeita Januário, A vida do viajante, Baião e Qui nem jiló. O programa intercala números musicais e entrevista. Consiste num registro indispensável aos admiradores da boa música brasileira!

sábado, 8 de setembro de 2007

Atmosfera: o tilintar cristalino da caixinha de música de Roberta Sá

Sob o pedicelo do samba, a cantora potiguar emoldura a Música Popular Brasileira com personalidade

Ao contrário da conterrânea e pernóstica Marina Elali, Roberta Sá não emplacou hits nas novelas da Globo, nem precisou de programas dominicais para se fazer notada. A voz cristalina e correta e o talento para compor atraem os holofotes mesmo que ela não queira.
Quando se fala em MPB potiguar não se pode delir também o registro de outras representantes legítimas da terra como Valéria Oliveira, Khrystal, Simona Talma, Luciane Antunes, etc. Adverte-se: comparações entre Marina e Roberta, pelo menos musicalmente e em especial sob o crivo dos fãs, não serão justas. Porém, cabe a referência porque na vida de ambas há coincidências – são potiguares, foram abençoadas com voz bela e se tornaram conhecidas no país na mesma época, depois de participarem do Fama da TV Globo.
As semelhanças, no entanto, páram por aí e sem desmerecer a indefinida e indefinível musa-pop-teen-diva Marina que se deslumbrou com a possibilidade da fama e se perdeu na falta de unidade, atirando para todos os lados com um disco que só agrada quem não percebe a diferença entre rock e ópera. Despojada Roberta Sá, por outro lado, sugou do programa as lições e os contatos.
Fato é que Roberta vem ao caso pela impressionante história que escreve na Música Popular Brasileira. Ela sofre de uma maturidade precoce chamada “Braseiro”, lançado em 2004, e “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”, de agosto de 2007. Discos que a puseram no topo da lista de “boa nova” da MPB da crítica nacional.
Roberta Sá bebe (nos dois álbuns) na fonte do samba, tanto no caule musical quanto no berço boêmio carioca do ritmo, e quem se embriaga somos nós. Enquanto a quase sempre sublime Marisa Monte resgata a história e rabisca traços de modernidade em seu “Universo Ao Meu Redor”, Roberta revela um infinito mundo particular com leitura contemporânea da atmosfera inebriante do samba que poucos são capazes de gravar.
“Tudo flui”, dizia Heráclito. Tudo está em movimento e nada dura para sempre. Por esta razão, “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio”. Isto porque quando entramos pela segunda vez no rio, tanto nós quanto o rio já estamos mudados. Se o filósofo fosse vizinho de Roberta Sá, certamente usaria a cantora como exemplo de sua teoria. Ela não tem pressa de gravar e o que interessa é deixar fluir a intimidade de sua alma com o repertório garimpado com propriedade como se as canções fossem dela ou feitas para ela. A cada faixa Roberta se supera. Para tanto recrutou colaboradores como Moreno Veloso, Lenine, Ney Matogrosso, Pedro Luís e misturou ao imaginário de clássicos como Dona Ivone Lara e Martinho da Vila em obra ou inspiração. O resultado é malandragem vocal típica do samba entoando letras que falam de amor e do cotidiano com leveza e humor para expressar a necessidade de humanizar as relações num mundo em que não se dá mais bom dia à porta do elevador.
É gafieria, funk, rap, cavaquinho, bandolim, violão, bossa nova, programações eletrônicas para acabar com o pedantismo alheio. Roberta Sá não jaz em grupos insossos de pseudo-divas da MPB: ela faz parte de um seleto e original ambiente de artistas cultos, cultuados pela capacidade de serem donos de si, das escolhas da própria musicalidade. Roberta Sá é para ser sampleada tal qual Caetano por Adriana Calcanhotto: “Vamos comer Roberta Sá, pelo óbvio, pela frente, pelo verso, vamos comê-la crua”.

Película: o espírito aventureiro de Fernanda Gurgel e o cinema potiguar na Ilha de Fidel Castro

Semelhança com o comunismo não será coincidência ao se falar em Fernanda Gurgel. Pelo menos não em espírito. Aventureira por natureza, esta garota de semblante tímido esconde um coração desbravado. Mochila nas costas e lá vai ela explorando a Mata Atlântica de João Pessoa a Natal a pé. O próximo destino será a cidade de Santo Antonio de Los Ban’os, a 35km de Havana, capital de Cuba, onde vai cursar cinema.
Em Cuba, Fernanda vai fazer o curso regular de três anos da EICTV – Escuela Internacional de Cine y Televisión. O curso é pago (12.000 Euros pelos três anos), e a escola garante hospedagem, alimentação, atendimento médico e transporte para Havana nos fins de semana. As aulas começam dia 10 de Setembro, mas todos os brasileiros vão chegar depois, dia 13, data que conseguiram as passagens através do Ministério da Cultura. O curso termina em 30 de julho de 2010.
Seria uma história simples se fossem necessários apenas os euros para estar lá, mas o roteiro vai além do vil metal. Os testes foram realizados nos dias 13 e 14 de abril, em Belo Horizonte e em Recife. “As provas foram cansativas, cada um tinha 15 questões discursivas. Isso foi no dia 13, no dia 14 fizeram entrevistas. Fora isso a gente tinha que entregar currículo e portifólio. Depois dessa etapa, ficamos aguardando o resultado da banca. Só os selecionados pela banca brasileira teriam seu material enviado a Cuba para a seleção final”, conta Fernanda.
Participaram da seleção 133 candidatos dos quatro cantos do país. Apenas 15 foram selecionados pelas bancas brasileiras, em BH e Recife. Na seleção final feita em Cuba, passaram sete candidatos do Brasil, três do nordeste. Fernanda Gurgel á única potiguar aprovada. Porém, a maratona intelectual ainda não é clímax desse roteiro. Em abril deste ano, Fernanda e mais seis amigos fizeram uma viagem estilo mochilão pela América do Sul, cujo principal objetivo era chegar a Machu Picchu, no Peru. O primeiro país por onde passaram foi a Bolívia e de lá mesmo Fernanda retornou ao Brasil. “Passei mal, a princípio com dor de cabeça, enjôo e falta de ar. Depois comecei a sentir dormência no braço e na perna esquerda e a vista bastante escurecida. Percebendo que não ia conseguir continuar (pois a viagem ficaria cada vez mais puxada, incluindo uma trilha de quatro dias para chegar a Machu Picchu) voltei ao Brasil, e em São Paulo fiz exames que detectaram um AVC por dissecção de carótida. Essa dissecção foi uma lesão na artéria do pescoço que provocou a formação de um coágulo que se alojou do lado direito do cérebro. Esse tipo de AVC é muito raro e no meu caso a dissecção foi considerada espontânea, pois não sofri nenhum trauma no pescoço que pudesse ter sido a causa. A altitude em La Paz, a alta de pressão e o stress podem ter sido fatores que contribuíram, mas não foram considerados causas diretas”, relata.
Já em Natal, a recuperação incluiu remédios anticoagulantes e exames de sangue periódicos, sessões de fisioterapia, natação e muito descanso. Em junho a EICTV divulgou o resultado da seleção 2007 e Fernanda, apesar do tratamento, em momento algum cogitou desistir da viagem. “A partir daí comecei a me preparar para a viagem, ainda sem saber se seria liberada pelos médicos e logicamente, sem deixar as atividades de recuperação do AVC. Fiz alguns exames que determinaram que a artéria carótida já se recuperou e está com fluxo sangüíneo normal. Segundo a avaliação do hematologista, o coágulo também já se dissolveu. Diante disso os médicos me liberaram para viajar” diz.
Hoje, ela se movimenta normalmente (antes mal conseguia mandar um e-mail) e o formigamento diminuiu quase 100%. A visão está melhor e Fernanda agora leva uma vida normal, inclusive realizando alguns trabalhos.“Sempre gostei da área do audiovisual e desde a faculdade comecei a desenvolver trabalhos em vídeo, dos quais destaco o Making of "Fabião das Queimadas – o poeta da Liberdade", registro dos bastidores do primeiro documentário realizado no RN pela série DOC TV do Ministério da Cultura, em 2004. De lá para cá tentei melhorar meus conhecimentos através de um curso de edição em São Paulo, trabalhando em produtoras de Natal e realizando alguns trabalhos independentes. Em 2007 eu pretendia voltar a estudar e fui informada pela amiga Rosália Figueiredo, roteirista da TVU, que haveria a seleção para a Escola de cinema de Cuba. Como eu ainda me enquadrava no primeiro critério de seleção (ter de 22 a 28 anos) resolvi tentar.”Planos para capturar o Rio Grande do Norte em imagens Fernanda não faz. “Ainda não tenho planos para quando voltar. Estou tendo que resolver tantas coisas agora que ainda não consegui pensar no futuro. E geralmente as coisas vão acontecendo comigo sem eu planejar muito. Se eu conseguir desenvolver boas idéias em cinema ou TV no RN será ótimo.”
Para Fernanda, o cinema no Estado está engrenando. Ela destaca a ABD & C/RN, o Cineclube e a Ong Zoon como responsáveis por essa efervescência. Entre os produtores, a Caminhos Comunicação & Cultura, Buca Dantas, Carlos Tourinho, Marina Cruz e o Projeto Vernáculo. “É só ficar de olho nos festivais, mostras ou até na programação de alguns canais locais para vermos trabalhos destes autores citados e comprovar sua importância”, avisa.
Fernanda Pires Gurgel nasceu em 1982, no Rio de Janeiro, mas foi criada em Natal, onde concluiu jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2004. A inclinação para a arte está no sangue. Fernanda é filha do mossoroense Tarcísio Gurgel, jornalista, professor de literatura potiguar na UFRN e roteirista de espetáculos como o “Chuva de Balas” e “Auto do Natal”, e da pautense Ione Pires Gurgel dos Santos, além de sobrinha do folclorista Deífilo Gurgel.
A EICTV – A Escuela Internacional de Cine y Televisión é o projeto acadêmico mais importante da Fundação do Novo cinema Latinoamericano (FNCL). A Fundação, com sede em Cuba, foi criada no mês de dezembro de 1985 sob auspício do Comitê de Cineastas da América Latina e é presidida, desde seu início, pelo escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, decidindo na primeira reunião de seu conselho reitor a criação da EICTV.
Graças ao apoio entusiasta do governo cubano, a Escola foi inaugurada um ano depois, em 15 de dezembro de 1986. Seu primeiro diretor foi Fernando Birri, realizador argentino de grande prestígio, precursor do movimento do Novo Cinema Latinoamericano e de alguma maneira profeta do projeto. Concebida como uma escola de formação artística, a EICTV pôs em prática uma filosofia particular: a de ensinar não através de mestres profissionais, mas sim de cineastas atuantes, capazes de transmitir conhecimentos adquiridos pela prática, em constante atualização. Seu atual diretor geral é o realizador cubano Julio Garcia Espinosa.
A EICTV é uma central de energia criativa para a produção audiovisual com processos docentes e de aprendizagem atípicos e um espaço comum de convivência entre professores, estudantes e trabalhadores. A EICTV tem como objetivo primordial desenvolver o talento criador e defender o direito de dispor da própria imagem tanto como o direito de ver cinema de todas as partes a fim de contribuir com a liberdade do espectador, que é inseparável da liberdade do criador.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Considerações acerca do ódio.

"Esse meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra".

(Marjori Stock)


Na definição dos dicionários mais comuns, ódio é o rancor profundo que se sente por alguém ou algo, assim como o desejo de evitar, limitar, destruir o seu objetivo; aversão intensa motivada por raiva ou injúria sofrida; ojeriza; repugnância. O ódio, de acordo com a definição do judaísmo, não passa de um grande mal-entendido, igualado a coisas que não é, e sendo classificado como um dos males mais tenebrosos, quando, na verdade, não passa de uma emoção humana, tal qual o amor.

Classificar o ódio como mau sentimento é, no mínimo, contraditório: não se pode odiar, por exemplo, os bandidos que arrastaram até a morte o garotinho por várias ruas do Rio? Não se pode odiar o racismo, o preconceito, a barbárie? Não se pode odiar o ódio? Há ódio bom e ódio ruim? A questão é demasiadamente complexa!

Na arte, o ódio é representado de várias maneiras. Eis alguns exemplos:

- Pintura

“O ódio”, do pintor espanhol José Luis Fuentetaja, 1971.

- Teatro

Uma das mais famosas peças de teatro que retratam o ódio se chama “Medéia” (431 a.C.), do dramaturgo Eurípedes, que deu (mais do que nenhum outro) novos elementos à tragédia grega. A peça apresenta o perfil psicológico de uma mulher carregada de amor e ódio a um só tempo; estrangeira perseguida e esposa repudiada; tomada de uma fúria terrível, mata os filhos que teve com o marido para se vingar dele e se automortificar. Consiste numa das mais importantes personagens femininas da dramaturgia mundial. A seguir, excertos de Medéia:

“(...) Vim pedir ódio. Vim pedir a coragem da vingança. Vingança é o único alento do oprimido, sua única esperança! (...) Gosto de sangue na minha boca. O homem pai dos meus filhos, que ajudei com a minha juventude, vai se casar com outra. Ele viajou seis meses, voltou, não deu sinal, foi na boca anônima que eu ouvi que ele ia se casar – pelo meu homem confiei nesta vida tão sobressaltada e agora eis-me abandonada, com dois filhos, sem dinheiro, sem parente para me receber e chorar minha raiva mais do que eu. (...) Eu já estou morta. Mas a morte só não basta. Eu quero o vento da desgraça”. (Med.,p.135)

- Literatura

Sobre o ódio, o escritor Ferreira Gullar fez um poema em julho de 2003, especialmente para a Exposição de Arte: “Israel e Palestina – Dois Estados para Dois Povos”. Veja trecho:

(...)
O mais baixo dos sentimentos humanos é o ódio
Não cria nada.
Não traz felicidade, mas desgraça.

Matar o irmão do outro
Não faz reviver o teu irmão

Apenas gera mais ódio e fúria
E mais luto em tua própria casa.

A inteligência existe para tornar o homem melhor
Para fazê-lo compreensivo e cordato
Para que se entenda com os outros homens.

Com a inteligência distinguimos o justo do injusto
A inteligência nos ensina
Que todos os homens têm direito a seu chão,
À sua pátria
E à liberdade de governar a sua vida

Nenhuma força é capaz de apagar a injustiça
E domar o injustiçado
O caminho da paz é o entendimento
Jamais a imposição e o terror.

Quem de fato desejaria um futuro de desgraças e morticínio?
Só a besta-fera.

O homem sonha com um futuro de paz e felicidade
Que não nasce da violência
Mas do diálogo.

Todos os que se odeiam e se matam
Alegam razões para isto.
E ninguém os convencerá do contrário.
Só chegarão a um acordo
Quando se sentarem à mesa e disserem:

“Esqueçamos as ofensas passadas”.


- A poetisa portuguesa Florbela Espanca, apesar de sua vida repleta de decepções e dissabores, preferiu a resignação ao ódio:

Ódio por ele? Não... Se o amei tanto
Se tanto bem lhe quis no meu passado
Se o encontrei depois de ter sonhado
Se à vida assim roubei todo o encanto

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo d’outra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... Não vale à pena...


- Música

Na música brasileira, são inúmeros os exemplos. Dentre os campeões de compositores que exprimem ódio em suas canções, figuram Renato Russo, Cazuza e Ângela Rô Rô.

- Renato Russo declarava ódio aos seus desafetos, às injustiças sociais e à estupidez humana. Era um ódio ressentido, muitas vezes motivado por um coração partido e desesperançado em relação ao futuro de si mesmo e do mundo. Veja trechos de algumas letras:

(...)
Veja bem quem sou
Com teu amor eu quero que sintas dor
Eu quero ver-te em sangue e ser o teu credor
Veja bem quem sou

Trouxe flores mortas pra ti
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir.

(A tempestade)


(...) Sai de mim
Que eu não quero mais saber de você
Esse ‘eu te quero’ já não me convence mais
E agora já nem me incomoda

Sai de mim
Não gosto de ser rejeitado
E agora não tem volta

Eu pego o bonde andando
Você pegou o bonde errado
Sua curiosidade é má
E a ignorância é vizinha da maldade
E só porque eu tenho, não pense que é de mim
Que você vai ter e conseguir o que não tem
Só estou aberto a quem sempre foi do bem
E agora estou fechado pra você.

(Do espírito)

(...) Volta pro esgoto, baby!
Vê se alguém te quer.
O que ficou é esse modelito
Da estação passada

Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato
Teus truques banais
Você acabou ficando pra trás.

(As flores do mal)


(...) Eu sou, eu sou
A pátria que lhe esqueceu
O carrasco que lhe torturou
O general que lhe arrancou os olhos
O sangue inocente de todos os desaparecidos
O choque elétrico e os gritos:
- Parem, por favor! Isso dói.


Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda.
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém...

(La Maison Dieu)


Tudo o que você faz
Um dia volta pra você
Se você fizer um mal
Um mal mais tarde
Você vai ter que viver

Não me entregue o seu ódio
Sua crise existencial
Preliminares não me atingem
O que interessa é o final
E não me venha com problemas
Sinta sozinho o seu mal

Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo, não
Melhor do que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração

Os aborígenes na Austrália
Com um boomerang vão caçar
O boomerang vai e volta
E só fica quando consegue acertar
E eu sou como um boomerang
Quando eu acerto é pra matar
(...)
Como um boomerang tudo vai voltar
E a ferida que você me fez
É você que vai sangrar.
Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo, não
Melhor do que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração...

(Boomerang blues)

- Cazuza também fazia uso da acidez das palavras e da ironia para expressar seu ódio aos fracos, medíocres, hipócritas e caretas:

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal-plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não tem

Pra quem vê a luz
E não ilumina suas mini-certezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia.
Pra quem não sabe amar
Fica esperando alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só pras pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar os blues
Com um pastor e um bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade...
(Blues da piedade)


- Angela Rô Rô, famosa por seus blues e jazz de emoções confusas, bem como por seu temperamento bombástico, foi manchete, no início dos anos 80, em vários jornais que noticiaram sua agressão à cantora e então namorada Zizi Possi. O notável rancor profundo à ex-amante é destilado nas suas letras confessionais. Nota-se no conteúdo o uso de mecanismos de defesa no intuito de proteger seu Ego da dor e "ficar por cima" na situação:


Tola foi você ao me abandonar
Desprezando tanto amor que eu tinha a dar
Agora, veja bem, o mal é vai e vem
É só esperar...

(Tola foi você)

Quisera eu ser traída pelo corpo
Um pecado quase morto
Do que ser traída assim
Covardemente, pela mente sedutora
Pois do crime foste autora
E a lei caiu em mim

Não acredite que você lucre com isso
Pois promoção eu faço também dar sumiço
E eu nem preciso rogar praga de madrinha
Pra saber que brevemente estarás mal e sozinha

Sua cabeça sempre foi fraca e abusada
E não estava preparada pro amor que eu dediquei
Não me arrependo, vou jogar bola pra frente
Pois atrás sempre vem gente
E com amor nunca brinquei.
(Fraca e abusada)


Enfim, desde que mundo é mundo, o ódio permeia os corações com a mesma facilidade que seu antagônico, o amor. Ódio e amor assemelham-se justamente por serem emoções extremas, às quais o ser humano é tão vulnerável. E não há razão que justifique a existência de um ou outro: eles simplesmente existem, às vezes adormecidos, prestes a despertar ao toque mais sutil. Embora haja discordância de opiniões, é possível que ódio e amor caminhem juntos, simultaneamente, pois a mente humana é repleta de idiossincrasias, o que contraria a crença de que “quem carrega amor no coração não pode sentir ódio”, até porque quase sempre o ódio não é gratuito, e sim derivado de um amor não correspondido ou decepção sofrida.


“O ódio, que julgas ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente”. (Chico Xavier)