sábado, 22 de setembro de 2007

Propaganda é apenas a alma do negócio

Para os estrangeiros que visitam o país de Mossoró, levem só as pedras preciosas na bagagem
Até bem pouco tempo Mossoró se candidatou a capital da cultura e perdeu para Olinda. Justo. Amigos de outras terras, de Estados vizinhos, não perdem a oportunidade de me dizer que gostariam de conhecer a cena cultural de Mossoró porque dela ouvem falar muito bem. E eu respondo: que cena?

Há espetáculos graciosos, há de se registrar, porém anuários que não matam a sede de beber dos benefícios de uma cena constante. Os teatros, por exemplo, quem freqüenta? Poucos entendidos da importância do movimento e os familiares e amigos dos artistas que se apresentam. Casa cheia? Só se um Global ou uma Heloísa Helena estiver sobre o proscênio.

Quarta-feira, 19 de setembro, retomada do projeto Canto Potiguar. Depois de divulgação maciça nos jornais, rádios e TVs da cidade pouco mais de 50 pessoas comparecem ao Teatro Lauro Monte Filho e sentam em cadeiras manchadas (de cocô de morcego?) para ver Valéria Oliveira apresentar seu mais novo trabalho "Leve só as pedras".

Parabéns a Genildo Costa, idealizador do projeto, pela persistência e pelo belo evento. Mas por que numa cidade de mais de 200 mil habitantes tão pouca gente se dispõe a apreciar a variedade da arte potiguar? Hábito, predomínio do forró que ecoa das duas capitais que nos cerca, ou será por que a cidade não oferece transporte público para que se chegue até os teatros e demais eventos? Que venham mais guerreiros do bom gosto como Genildo nesses tempos.

Leve só as pedras preciosas para polir o ouvido
Gravado no final de 2006 e lançado mês passado, "Leve só as pedras", produzido por Kazuo Yoshida e Valéria Oliveira, é o primeiro álbum autoral da carreira da cantora. Patrocinado pela Cosern e Lei Câmara Cascudo, o disco traz 14 faixas que passeiam pelo universo dos encontros e desencontros do amor, tema recorrente nas canções.
Embora estreante no registro de canções próprias, Valéria revela uma maturidade de quem sabe colocar a voz no lugar certo. E mais, ela sabe escolher os parceiros certos. Com apoio dos amigos do projeto Retrovisor, Valéria emociona ao entoar letras e melodias de Simona Talma, Ângela Castro, Khrystal, Romildo Soares, Lula Queiroga, Caetano Veloso e Lenine.

Destaque para o espírito engenhoso e surreal de Luiz Gadelha em letras, arranjos e efeitos, além das fotos e da proposta do primoroso encarte, que só podiam ser devaneios dele e que Valéria tão bem soube aproveitar.
Acompanhada dos mestres Ricardo Baia (guitarra) e Paulo de Oliveira (baixo), Valéria propõe, no show e no disco, riscos de psicodelia em arranjos nervosos de uma guitarra contida que abre o CD sob a áurea do rock e passeia pelos augúrios do samba ao longo da obra. É fim de semana, amanhã é segunda-feira e "tudo volta ao (a)normal".

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