segunda-feira, 28 de abril de 2008

A ressurreição do disco de vinil na era de download e pirataria

O CD veio para matar o vinil e deve morrer primeiro


Era um ritual simples. Antes de mais nada, existia o prazer de ver a capa e tocá-la. Foi-se o tempo em que se tocava na música. Você tirava o disco da capa, colocava-o com delicadeza no prato da vitrola, pegava a pequena alavanca do braço (ou pick-up), virava para o lado que queria (78 ou 33 e 45 rpm) e deixava pousar sobre o bolachão. Aquele chiado inicial antes de começar a canção é inclusive usado como sonoridade em músicas até hoje.

O disco de vinil surgiu no ano de 1948, tornando obsoletos os antigos discos de goma-laca de 78 rotações, que até então eram utilizados. A partir do final da década de 1980 e início da década de 1990, a invenção do Compact Disc (CD) prometeu maior capacidade, durabilidade e clareza sonora, sem chiados, fazendo os discos de vinil ficarem obsoletos e desaparecerem quase por completo no fim do século XX. No Brasil, os LPs em escala comercial foram comercializados até meados de 2001. Mas o último relatório da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) revela o declínio da comercialização do formato que pretendia enterrar o vinil. As vendas de CDs e DVDs movimentaram em 2007 R$ 312,5 milhões, o que representou uma redução no faturamento líquido (vendas menos devoluções) das companhias que reportam estatísticas para a ABPD, de 31,2% em comparação ao ano de 2006, quando o setor fonográfico movimentou R$ 454,2 milhões. No segmento digital foram registrados R$ 24,5 milhões de movimentação no setor, o que já representa 8% do mercado total de música no Brasil. Por outro lado, em 2006, pela primeira vez a ABPD apresentou uma pesquisa de mercado sobre o universo musical na internet. O estudo, encomendado à Ipsos Insight, empresa de pesquisa de marketing do grupo Ipsos, constatou que 8,2% da população pesquisada, o que corresponde cerca de 2,9 milhões de pessoas, baixaram música na internet no ano de 2005, contabilizando quase 1,1 bilhão de canções sendo baixadas da rede mundial de computadores, a grande maioria oriunda das redes de compartilhamento de arquivos (Peer to Peer). Se esses downloads fossem feitos de forma legalizada, o setor teria arrecadado mais de R$ 2 bilhões, ou seja, 3 vezes mais do que o montante faturado pelo mercado oficial em 2005 com a venda de CDs e DVDs originais, que foi de R$ 615,2 milhões.

Na era do vinil, pode-se arriscar dizer que não havia pirataria. O problema começou a surgir quando a evolução tecnológica permitiu separar mídia e conteúdo, além de oferecer inúmeros métodos fáceis e acessíveis para replicar e copiar aquele mesmo conteúdo em diversas outras mídias, como nos casos dos DVDs e softwares. Na verdade, a condenação do vinil foi equivocada, pelo menos até agora.

Quem um dia tocou um vinil não o esquece mais. Talvez a geração digital não venha a descobrir os álbuns em embalagens gigantes e gostosas de serem olhadas e executadas, mas fato é que o vazio da era digital trouxe de volta a atenção pelo vinil. Aliás, ele nunca saiu do mercado. Sobrevive num mundo paralelo e entre ele e o CD é provável que o Compact Disc seja engolido pelo download, pelo menos é o que revela os números.

À medida que o CD vai perdendo terreno como suporte musical, os discos de vinil vêem o seu culto e vendas crescer. A CNN divulgou no começo do ano passado que a venda de singles de vinil de 7 polegadas aumentou de 180 mil unidades em 2001 para mais de 1 milhão de unidades em 2005. Por sua vez, a compra de CDs tem decrescido desde 2000, tendo sofrido uma descida de 20 por cento nos EUA em 2006.

O blog Listening Post, da revista Wired, resolveu perguntar ao eBay, o maior site de leilões do mundo: qual o volume de vendas de discos de vinil entre os usuários do site? A resposta foi surpreendente: atualmente, usuários do eBay compram 6 discos de vinil a cada minuto, ou seja, um disco a cada 10 segundos. O álbum mais comprado e vendido em formato vinil é o álbum branco dos Beatles. Se essa média se mantém constante, são 3.155.760 discos por ano. São raridades sendo vendidas entre colecionadores e aqueles que resolvem se desfazer de suas bolachas pretas que estão em casa pegando poeira. Mas esses mesmos colecionadores mantêm vivo um mercado paralelo e consistente de novos discos. Os artistas americanos e europeus até hoje lançam os novos álbuns nos formatos CD e MP3, mas alimentam os fãs com edições especiais em vinil. Madonna é mestra nesse quesito, porém estrelas menos conhecidas surpreendem com recordes de vendagens em vinil.

É o caso da banda The White Stripes que bateu o recorde em junho do ano passado com o vinil de um single mais vendido da história do Reino Unido com a música Icky Thump. A canção, que entrou na parada direto no segundo lugar vendeu mais de 10 mil cópias em apenas dois dias. De acordo com o ranking Music Week, da revista NME, a última banda a quebrar tal recorde foi Wet Wet Wet, com o single de Love Is All Around, tema do filme Quatro Casamentos e um Funeral, que vendeu 5 mil cópias em uma semana.

A persistência do suporte pode ser explicada por fatores como a estética e o culto do objeto (que vai resistindo na era dos downloads digitais) ou pela qualidade sonora. Também pode ser justificada pela sua proeminência no circuito dos DJs que encontram nos discos de vinil maior facilidade e possibilidade de manuseamento direto para as suas técnicas de discotecagem, além da popularização de gêneros musicais como o reggae ou o hip-hop, que tem na sua gênese a manipulação de discos.
Pela sobrevivência do bolachão: Senaes entra no movimento pela recuperação da única fábrica de discos de vinil do país

A Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho e Emprego, entrou na ação emergencial para impedir que a Polysom do Brasil, única fábrica de discos de vinil do país, feche definitivamente suas portas em virtude de dificuldades técnicas e financeiras.A mobilização começou no ano passado sob a liderança do Ministério da Cultura com o lançamento das iniciativas destinadas à preservação da fábrica. Participaram do ato o ministro Gilberto Gil e profissionais ligados à indústria fonográfica nacional.

Em reunião com os proprietários da Polysom, Luciana Carvalho e Nilton Rocha, e com um representante do Ministério da Cultura, em 25 de março, o diretor do Departamento de Fomento da Economia Solidária, Dione Manetti, propôs a elaboração de um plano de trabalho de recuperação, que deve começar com um diagnóstico detalhado da situação atual da empresa. "Incluindo, ainda, o levantamento de investimentos necessários e das oportunidades para essa fábrica no mercado", destaca o diretor.

Por meio desse projeto, Senaes, Ministério da Cultura e os donos da Polysom buscarão parcerias e alternativas de financiamento para a retomada do empreendimento que começou em 1999, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Na época, a empresa chegou a produzir 110 mil cópias por ano para uma igreja pentecostal. Nos últimos anos, com a sofisticação de instrumentos de digitalização musical e por conta de problemas técnicos e financeiros, a equipe foi reduzida a três polivalentes profissionais e a produção passou a cair. No ano passado, registrou somente 23 mil cópias. "Estamos abertos ao novo e com disposição. Acreditamos no que fazemos e que vai dar certo", disse Luciana Carvalho.

6 comentários:

Freddy Simões disse...

Bom, vamos deixar um pouco de lado o caráter saudosista da chapa de acetato e observar os dois lados da moeda: a praticidade do CD e a beleza e requinte do vinil.

É evidente a praticidade do CD: fácil de guardar, transportar e manipular. O som é puro, digital e desprovido de chiados. Pode-se ripar o CD num piscar de olhos e passar para um pendrive.

Quais as vantagens do bolachão? Algumas nuances sonoras só podem ser ouvidas no formato analógico, o qual permite, inclusive, um destaque especial para os graves. Curiosamente, quando você converte um som analógico para o meio digital, ocorre uma perda da qualidade, ainda que sutil. Em alguns casos, quando um disco é remasterizado, o trabalho para eliminar os estalos e chiados acaba tirando o som "orgânico" do disco, e os ouvidos mais apurados certamente acharão artificial o som obtido. Afora isso, há a prática de aumentar ao máximo o volume das gravações em CD para que elas soem melhores - o que se convencionou chamar de "Loudness War". A gravação digital tem um limite de sinal, e quando esse sinal é ultrapassado pelo aumento de volume - especialmente quando algum instrumento, como a bateria, eventualmente soa mais alto que o resto dos instrumentos - o som distorce e ocorre o "clipping", uma falha sonora que os ouvidos mais atentos podem ouvir sem grandes esforços. Alguns CDs estão entupidos de clipping, e os ouvidos mais sensíveis podem se incomodar bastante com isso. Já no vinil, o aumento de volume pode ter o efeito contrário: a distorção analógica é muito menos agressiva, e pode tornar o som mais "quente". Cabe ressaltar, ainda, que nos dias atuais um disco não chia mais como antigamente. Muitas bandas, como o Garbage e o Radiohead, estão lançando versões em vinil de seus CDs, e a tecnologia por trás desses vinis é muito superior a de décadas passadas. Considerando o exposto, a questão da qualidade de som passa a pender um pouco para o vinil, que já não chia quanto antigamente e tem qualidade de som mais próxima do original.

No tocante à beleza, sem dúvida, os vinis ganham a parada: o tamanho e a presença da arte na capa, a divisão em dois lados - tudo isso permite uma maior valorização das músicas e do trabalho do artista, e cria um caso de amor do ouvinte com seu disco.

Quem não liga muito mesmo para a questão desse fetiche em torno do vinil, continuará utilizando os CDs, que logo perderão totalmente o espaço para a comercialização de MP3 pela Internet.

A propósito, será que alguém sabe informar onde se vendem novos tocadores de discos de vinil?

JSr. disse...

Olá Freddy,

Mais uma vez parabéns pelo Blog.

Como vc. mesmo escreve:

" Bom, vamos deixar um pouco de lado o caráter saudosista da chapa de acetato e observar os dois lados da moeda: a praticidade do CD e a beleza e requinte do vinil...."

Ninguém pode rebater acerca da praticidade do CD, ou melhor as vantagens da versão digital. Não só do "lado" música, mas sim de tudo mais que pode ser tirado, ou melhor aproveitado em um CD.

A nova era, os novos tempos não comportam mais o jurássico "vinil". Estamos em outros tempos. Na era digital. Dos equipamentos multifunções. Da era do video. O futuro (presente) é da multimidia. Os comtemporâneos desta época não se contentam apenas com o "som" querem também ver (video), e já querem hologramas e coisas deste tipo.

Quem matou os discos de vinil não foi os CD´s. Foi a modernidade, a praticidade - a portabilidade. Tenta ouvir um "vinil" no teu "tocador de carro". Claro que é impossível pois não existe.

Acredito que quem matou os "vinil", "os CD´s" foi o processo fácil de gravação "in house". As fitas cassetes no vinil e os MP´s (multiplayers) RIP´s nos CD´s. Em suma a modernidade - as novas tecnologias. Já estamos acabando também com os DVD´s tradicionais.

Pesquisas apontam para produtos mais sofisticados com cada vez maiores capacidades de armazenamento de informações - música e video - informações.

Não esqueçamos que estamos em pleno século XXI e infelizmente ou felizmente em uma sociedade de consumo cada vez mais exigente (não sei prá que) por equipamentos mais sofisticados com custos mais baixo e atrás de uma melhor qualidade de vida.

Aproveito para pontuar um informação, motivo de pesquisa, já que também estive metido no ramo/setor (tive locadora) e atinge o lado da educação e cultura de nosso povo.
Quando lançaram os VHS players, aqueles monstrengos enormes e pesados, sem falar nos preços carrísmos e raros (sem entrar no mérito VHS x Betamax). Então com o passar dos anos os preços diminuiram dos players e muita gente pode comprar seu VHS player. Mas nem tanto.
"Pipocaram" as locadoras.
Diziam que as locadoras acabariam com as salas de projeção, ou seja com o "cinema". O que não aconteceu. Precisou sim, de uma modernização nestas salas. Mas voltando.
A quantidade ofertada ainda tinha um preço não acessível para as camadas de baixa renda. A explicação dos fabricantes era - não podiam baixar de preço porque não tinham demanda para tal e assim o custo era alto para produzir o equipamento. Sem falar dos poucos fabricantes. Sabe porque a demanda era baixa (lógico sem levar em consideração o preço) e consequente (a história do ovo e da galinha) as classes de renda mais baixa não compravam ??
Porque no mercado tinham poucos filmes dublados em português. Para este nível de público era importante ter os filmes dublados. As locadoras da periferia (rarríssimas) eram especializadas em filmes dublados. Então com poucos filmes dublados no mercado este público não ficaram interressados neste equipamento.

Então, com o advento de novas tecnologias (DVD´s) está camada da população foi atendida em seus anseios. Tinham/tem praticamente todos os filmes dublados em uma mesma midia. Com isto a demanda aumentou e os fabricantes e novos fabricantes de DVD players puderam colocar "players" a preços nunca antes vistos ou sonhados na época do VHS. Sem falar na pirataria.

Sem maiores delongas, e a grosso modo, nossa população aproveitou de uma tecnologia para ficar com um nível de educação e cultura mais alto.

Concluindo, não adianta remar contra a maré. Irá sempre aparecer algo novo que se sobreporá ao que vc. está usando. Se hoje - não. Amanhã - sim.

Não esquecendo que para se ter uma "qualidade" sonora razoável é preciso gastar um bom $$$ na compra de um "passa-disco/toca-disco", ou qualquer outro nome que queiram dar senão vc. vai ouvir apenas ruídos de uma "agulha" arranhando seu vinil, ou seja como diziam "antigamente" - tudo tem que ser HI-FI.

Desculpe(m) o jornal.

Anônimo disse...

É, realmente esse menino (Vicente) escreve muito bem, mas estou aqui pra falar do dono do blog. Primeiramente quero parabenizá-lo pela necessária contribuição cultural que você delicadamente acrescenta aos leitores e pedir que jamais deixe de postar seus "devaneios", pois eles também nos fornece aulas de aprendizado pra vida. Por fim Simões, quero lhe deixar o meu abraço e lhe desejar sucesso total no seu blog e no resto da sua vida. MANINHO

Anônimo disse...

Obrigado Williams por enriquecer meus conhecimentos sobre o disco de vinil. Tenho 16 anos e alcancei mais a era do CD, mas tenho um tio louco por musica e que tem mais de 1500 discos de vinil, e ele cuida deles como se fossem preciosidades. Realmente, acho que quem viveu a era do vinil sabia valorizar mais as músicas e era mais apegado a seus artistas favoritos. As informações dos leitores Freddy e JSR enriqueceram muito a matéria. Parabéns aos blogueiros!

Gustavo Zago disse...

Bela defesa ao Vinil!
O cd acabou com a magia da musica em LP's....tanto que grandes musicos nao dispensam um bom LP!

gostei muito de seu blog
visita o meu aew!
http://guiaimpessoal.blogspot.com/

Diego Moretto disse...

Pois eh, eu tenho uma paixãozinha especial pelos discos de vinil. Na casa de meus pais, tem um coleção com 434 cópias...q muitos foram herança de meu avô ainda. E há obras raras, como Nina Simone e Sinatra. Eu adoro colocar a agulhinha em cima deles e ficar no sofa escutando.
Na minha opinião, seja qual for a tecnologia, eh algoq não perdera uma boa lembança, já que era caracteristico e nada eh igual.
Em janeiro agora, a Cat Power lançou um álbum - Jukebox-, cujo som se baseia nos vlhos discos de vinil, um ótimo trabalho.
Abraço e perdoe a demora. Tempo hiper corrido. :D