sexta-feira, 29 de maio de 2009

Nostalgia: a música de Isolda e Milton Carlos

Milton Carlos
A década de 70 foi uma época bastante inspirada da música popular brasileira. Nesse período, surgiram vários importantes compositores e intérpretes que formaram parcerias célebres, como Isolda e Milton Carlos. Os dois irmãos adentraram o mundo da músican ainda na adolescência, fazendo backing vocals. Em 1970, Milton Carlos teve a oportunidade de gravar seu primeiro LP e, a partir daí, outros cantores, impressionados com a verve criativa dos jovens compositores, passaram a solicitar várias músicas à dupla.

Cabe ressaltar que a voz de Milton Carlos era bastante peculiar porque continha, além da beleza esfuziante, uma evidente androginia. Em 1973, Isolda e Milton ganharam projeção nacional depois que Roberto Carlos gravou uma canção deles, intitulada Amigos, amigos. Daí em diante, os dois caíram nas graças do Rei, que passou a gravar com frequencia as composições da genial dupla. Seguiram-se Jogo de damas (1974), Elas por elas (1975), Um jeito estúpido de te amar e Pelo avesso (ambas de 1976). Abaixo, alguns dos versos de Isolda e Milton Carlos que ficaram na boca do povo pela voz de Roberto Carlos:

Isolda
Pelo avesso
"E você reservada, tão quieta, não fala
mas sabe me endeusar
no exato momento da nossa agonia
pra se completar
com seus beijos ardentes, tão doces, tão quentes
vem me embriagar
no entanto, sentida, no instante da briga
chega a delirar

Entre bocas nervosas, com risos, com prosas
vamos nos pertencer
E rasgando essa vida da forma precisa
de amar e de se ter...

Eu quero seu amor a qualquer preço
Quero que você me tenha até pelo avesso
Pra me sentir envolvido em seus cabelos
Faça de mim o que quiser
Eu sou seu homem, minha mulher"


Roberto Carlos - LP de 1976

Um jeito estúpido de te amar

"(...) Palavras são palavras
e a gente nem percebe
o que disse sem querer
e o que deixou pra depois

Mas o importante é perceber
que a nossa vida em comum
depende só e unicamente de nós dois.
Eu tento achar um jeito de explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito
meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar"




Em 1977, um trágico acidente de carro na via Anhanguera, em São Paulo, pôs fim à vida de Milton Carlos, com apenas 22 anos de idade. Isolda, mesmo profundamente abalada com a morte prematura do irmão, companheiro e parceiro musical, compôs sozinha a sua mais importante e bela canção, Outra vez, que foi gravada no mesmo ano por Roberto Carlos e acabou se tornando um dos maiores sucessos do cantor. A letra sugere o fim de um romance, mas na verdade é uma homenagem de Isolda a seu irmão, e trata de um amor fraterno que se mantém vivo através das lembranças.
Roberto Carlos - 1977


Outra vez

"Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha vontade sem nada perder
Ah... você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez."


Sobre a morte do irmão e a música Outra vez, Isolda relata em seu blog:

“Acho que minha vida se divide em antes e depois desse dia. Pensei em voltar a estudar, em tomar outro rumo, mas no meio dessa tempestade encontrei vários amigos que me abrigaram, emocionalmente e, mesmo sem perceber, continuei fazendo sozinha o que sempre fiz desde menina: brincar de fazer músicas. Desse momento em diante, sem mais o meu amigo para brincar comigo. Foi assim que fiz, numa madrugada, uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: ‘Outra vez’. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos”.

Isolda continuou compondo para vários artistas. Roberto gravara, ainda, Tente esquecer (1978), Como é possível (1982) e outras nas décadas de 80 e 90.

Milton Carlos, apesar da curta carreira, também deixou grandes registros na sua própria voz, dentre eles: Samba quadrado (canção que teve bastante êxisto na época e até hoje é lembrada por grupos de samba/choro); Uma valsa, por favor; Vexame; Desta vez te perdi; Eu juro que te morreria minha; Memórias do Café Nice ("ai que saudade me dá... do bate-papo, do disse-me-disse lá do Café Nice/ ai, que saudade me dá"); e a belíssima Você precisa saber das coisas.


Fontes pesquisadas:

- Blog "Engenho e Arte":
http://www.paulobap.blogspot.com/ (acessado pela última vez em 29/05/2009);

- Isolda (Site oficial):
http://www.isolda.mus.br/ (acessado pela última vez em 27/05/2009);

- Site "Paixão e Romance"
www.paixaoeromance.com/70decada/outra_vez/houtra_vez.htm (acessado pela última vez em 29/05/2009).

terça-feira, 31 de março de 2009

A poesia lúbrica de Bruna Lombardi.

"Quero dormir com você ou pelo menos te dar um beijo na boca. O meu amor não tem pudor, nem acanhamento. Não tem paciência, não aguenta mais a urgência do desejo..."
(Bruna Lombardi)

Certo dia, estava eu na Internet, navegando sem leme, ao léu dos ventos e das correntes de minha solidão infinda, em busca de uma palavra poética que desse alento ao meu coração. Tamanha a minha surpresa, deparo-me com a mais pura poesia lúbrica advinda da bela atriz, modelo e escritora BRUNA LOMBARDI. Demasiadamente embevecido com a intensa carga de loucura, desejo, despudor, chama e paixão contida em seus versos, fico incrédulo ao imaginar como é possível essa mulher linda, talentosa e de incrível sensibilidade ser mais reconhecida e lembrada pelas novelas em que atuou do que pelo seu legado poético.
Bruna lançou 03 livros de poesia, entre 1976 e 1984. São eles: No ritmo desta festa, Gaia e O perigo do dragão, respectivamente. Desses, infelizmente, apenas o último encontra-se em catálogo.
Eis uma mostra de sua obra poética:

A viagem da paixão

Tenho os caprichos inerentes à natureza da mulher
abro a caixa de pandora que eu quiser
e lanço mão de todo mal e todo bem
avanço a passos largos
alcanço o ponto extremo e vou além
onde se estende a palpitação das células
e se prolongam feixes de neurônios
onde se nasce, morre e se enlouquece
intima de deuses e demônios.
Onde habitam as feras, os espítiros das florestas
onde se determina a primavera
e se marcam as nossas testas.
Onde se aprende a sabedoria do fogo
e todas as forças de atração
e se descobre o ponto que orienta
esse mapa de navegação.
Estrela solitária, asteróide desgarrado
luz que aponta o caminho
da viagem da paixão.


Jardim das delícias
Procuro em mim um homem sem moral
que me deixe arisca e me deite de costas
mandando coisas.
O oculto da paixão tem mais sabor que
pitanga roubada
e minha alma dissoluta, dissimulada
mistura ao vinho uma idéia de me jogar
em lençóis de linho
ou no mar.

Ah, eu queria saber de cor o nome das estrelas
todas as constelações e tudo
que de mistério carrega o ser humano
a face das pessoas, a inconfessável
a dimensão da atmosfera e o ponto exato
onde tudo se desintegra
Quero conhecer o sentido da vida
a essência do voo e a geografia.
Cio

Quero dormir com você ou pelo menos
te dar um beijo na boca
o meu amor não tem pudor, nem acanhamento
não tem paciência, não aguenta mais
a urgência do desejo
e eu te olho, te olho, te olho
como se dissesse.

Penso, ele há de perceber, me encosto um pouco
espero um gesto, um sinal, uma atitude
que eu possa interpretar como resposta
uma indicação
mas você é um homem sério e continua
se escondendo atrás dessas teorias
e nem te brilha no olho uma faísca de tentação.
ai, que aflição
pensar no que eu faria
se pudesse

desejo que não acontece
fica parado no peito
ai, vira obsessão.


Baixo ventre

eu não aguentava mais de amor por você
tava ardendo de vontade de você
você há de me querer
há de tentar, se atrever
mesmo se for um delito, se for errado
maldito, amaldiçoado
mesmo que o céu nos castigue
com um eterno eclipse
e venha o caos, satã, o fim de tudo
e a gente seja culpado
porque não soube resistir à tentação
eu não quero me livrar desse pecado
e me salvo através dessa paixão.


Alta tensão

eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.



Sinistro
Inclua no seu amor um pouco de desespero
derrame seu potencial de drama nos tapetes
ponha sal nas frutas ácidas
tente um pouco de champagne no sapato
esparrame de preguiça pelos linhos
no espalhafatoso desleixo dos lençóis
use olhos cristalizados, cintilantes
com faíscas no meio das plumagens
aprenda a cantar e a cabriolar um pouco
a dança elástica de uma enguia
se esfregue nas nervuras, descubra trunfos
muito escorregadia
Saiba o zodíaco chinês e as manchas do demônio
conhecedora de alquimias
deguste seus horrores em rituais estranhos
Seja uma ameaça
Dê telefonemas interurbanos em meio à noite
a Angkor, Himalaia, Terra do Fogo
Estilhace as regras desse jogo
que um pouco de maldade é necessária
Libidinosa sempre entre parênteses
esguiche todo esse seu som de dentro
ensopada de paixão e de água fria
leviana até a última mordida
Esquiva como uma taturana
penetrando no gargalo da garrafa
estenda suas estrias até o limite da suspeita
pois não há nada como um crime atrás do outro.

Jorge Vercillo lança "Trem da minha vida"

O cantor Jorge Vercillo acaba de lançar seu mais novo trabalho, o DVD Trem da minha vida, registro de show gravado nos dias 31 de outubro e 01 de novembro de 2008 no Canecão. O repertório é pautado, em sua maior parte, pelas canções do último disco, "Todos nós somos um", além de alguns sucessos de carreira e a faixa-título, inédita, um reggae composto por Vercillo em homenagem à mãe dele. As canções antigas apresentam uma nova roupagem, com destaque para Signo de ar, permeada de belos arranjos que propiciam um delicioso clima lounge (palavra inglesa que significa lugar de descanso, leveza). Homem-Aranha foi totalmente reformulada e recebeu elementos jazzísticos. A onipresente Monalisa tornou-se uma salsa. Final feliz ganhou uma levada mais soul. O tão batido hit radiofônico Que nem maré mostra-se de fato dispensável no novo trabalho, e poderia ter sido substituído por alguma de tantas boas músicas que Vercillo possui. Um dos pontos altos do DVD é o momento em que Jorge canta a pungente Devaneio, com introdução de Tenderly (Walter L. Gross/Jack Lawrence), um dos mais lindos e regravados standards da história da música popular. Vercillo já tem uma certa familiariadade com os standards de jazz: ele gravou em 1995, especialmente para a trilha da novela Cara e Coroa, o clássico Secret Love (Sammy Fain/Paul F. Webster), que virou Um segredo e um amor, em versão feita por Dudu Falcão).

O DVD contou com participações especiais de Serginho Moah, vocalista do grupo Papas da Língua, na canção São Jorges (parceria de Vercillo com Jorge Aragão, pinçada do repertório do projeto Coisa de Jorge); Jota Maranhão no samba Filosofia de amor (Jota é antigo parceiro musical de Jorge e co-autor da primeira canção de sucesso do cantor, Encontro das águas, originalmente lançada em 1993, mas que também reaparece no novo DVD, com um ótimo solo do contrabaixista André Neiva); por fim, a melhor das participações, Dudu Falcão, autor de melodias marcantes com letras densas, que faz um número de voz e violão com Jorge Vercillo entoando Coisas que eu sei, que foi sucesso na voz da cantora Dani Carlos. O pernambucano Dudu é parceiro de Jorge em outras composições, tais como Melhor lugar e Deve ser, também presentes no DVD.

As belas canções Voo cego e Ela une todas as coisas, ambas do último disco, constituem também extraordinários momentos do show. Outro grande destaque é Toda espera, que originalmente estava fora do script e acabou voltando com força total no DVD. Na ocasião, o bis do show, Vercillo surpreendeu-se com os pedidos incessantes do público, que cantava em coro essa música. Dessa forma, o cantor resolveu atender os clamores dos fãs e a dita canção acabou se tornando um dos carros-chefes do novo trabalho. Tudo isso é mostrado nos extras do DVD, que ainda exibe cenas de Vercillo no sossego do lar, relembrando antigos sucessos ao violão, em companhia de seus dois filhos e da esposa.

domingo, 8 de março de 2009

Mulheres...

O Café Cultural relembra a passagem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, data que marca a contínua luta das mulheres - que atualmente somam mais da metade da população mundial - pelo reconhecimento de seus direitos em todos os âmbitos: familiar, institucional, político, cultural e econômico.

Brooke Shields

*Tu és mulher
Tu és um ser
Que pode ser mais do que é
Um passarinho, fruta qualquer
Pode ser doce
O fel até

Pode não ser como quiser
Mas serás a guerra e a paz
Serás o bem e não será demais
O mal me quer
Ser se quiseres




Pois as mulheres são tão iguais
À natureza e aos rapazes
Que tudo fazem ou nada fazem
Senão viver como capazes
De fazer, de acontecer
De adormecer quando chover
Ou de morrer de um amor comum
Que qualquer um pode querer





Lúcia Veríssimo



Camila Pitanga


Pode levar na bandeja/A cabeça de um cristão/ Pode servir ou vir a ser/ O seu próprio sim ou não.



*Os versos supracitados são da canção Mulher, de Raimundo Fagner e Capinam. Essa música foi incluida num magistral disco de Fagner, intitulado "Beleza", de 1979.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Mensagem aos leitores.

Prezados leitores,

Mais uma vez as atividades rotineiras têm-me deixado desprovido de tempo para atualizar frequentemente o Café Cultural - fato que me entristece, pois sempre tive a exacerbada preocupação em apresentar textos novos, interessantes, atrativos e que atendam devidamente o padrão de qualidade ao qual estamos acostumados desde a criação do blog, há quase dois anos. Dessa forma, prefiro os longos hiatos entre uma postagem e outra à inserção não criteriosa de textos que possam fugir do nosso nível de exigência e desvelo.

Tenho atravessado uma fase bastante conturbada em vários âmbitos da minha vida, mas posso assegurar a vocês que as adversidades têm-me causado um certo embaraço, mas ainda não conseguiram arruinar minha inspiração para escrever. Acredito que o tempo se encarrega de colocar cada coisa em seu devido lugar, e que toda nuvem negra é passageira. Meu desencorajamento de hoje pode ser convertido em força e atividade intensa amanhã.

Preparei, com muito afinco, novas postagens que serão publicadas em breve, tão logo eu as revise. Meu propósito é que vocês retomem o prazer de visitar este espaço criado para a profusão de ideias, sugestões e comentários acerca de temas ligados a arte e sentimento.

Boa leitura!

Freddy Simões
Editor-chefe do blog

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A felicidade reside na ignorância.

Eu, solitário e desesperançado, confesso já estar ficando um tanto cansado de exercer diariamente a tolerância e a candura com os que me cercam. As pessoas esperam de mim muito mais do que eu talvez possa oferecer a elas. Preciso ter um sorriso sempre plantado no rosto, serenidade na voz e eterna disposição para ouvir, entender, esperar, doar a mim mesmo e fazer concessões o tempo inteiro, despretensiosamente. Pergunto: quem se importa com o que sinto e sou? Quem estende uma mão amiga em meus momentos de fraqueza e angústia? A verdade é que cada um só quer olhar para si, pois enxergar um palmo à frente do nariz significa ter a árdua tarefa de compreender com mais profundidade o ser humano, com todas as suas complexidades e mazelas emocionais. E quem enxerga o mundo sem viseiras livra-se simultaneamente das amarras da mediocridade, e sofre mais por saber que a realidade é muito mais cruel e mesquinha do que se imaginava outrora. Decerto, a felicidade reside na ignorância!

Os últimos dias têm sido para mim uma verdadeira prova de fogo, pois vejo minha liberdade cerceada em todos os aspectos, e preciso lutar o tempo inteiro para tentar quebrar todas essas correntes presas a mim. Numa dessas tentativas, resolvi dar vazão a uma paixão arrebatadora, e corajosamente me dispus a admitir para mim mesmo que eu queria engrenar um relacionamento sério e duradouro, pautado em razão e sentimento de amor. Como um bicho acuado e medroso permuta suas angústias em pura valentia, algumas pessoas fazem exatamente o contrário: transformam seus receios em ações de covardia e desdém. E foi isso que aconteceu com a contraparte, ao ceder à vil chantagem emocional de uma 'persona non grata' que, motivada por ressentimentos, só quis me destituir de crédito, em vias de injúria e maldade, causando sofrimento psico-emocional em minha humilde pessoa.

Meu defeito mais humano é amar em demasia, mas não posso ser diferente. Sou um anjo carnal, e não cabe a mim a tristeza ou a vergonha. A minha razão agora passa a prevalecer sobre minha emoção, e renuncio a mais um amor, na certeza de que ofereci o melhor de mim. Em meio a tanto descaso e desamparo, meu bom humor ainda me faz vislumbrar beijos e baladas, bossas e sambas numa partitura contínua de esperança!

Os amores passam, mas as canções ficam! E o carnaval tá chegando... Viva o mês de fevereiro! Viva a música! Viva Vercillo! Viva a gente!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Descaso

Domingo, noite
Céu, estrelas
Limbo, leito
Paixão nova
Cores belas
Longe-perto
Açoite, peito
aberto em chaga, dor...
Sangue jorra
Frio arde
Luz se apaga
- Que demora!
Não me mate, amor...
Vazio, já vou tarde
O descaso não tem hora
Tanta espera me cansou!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Novo CD solo de Marcelo Camelo nas lojas em setembro!

O primeiro disco solo do ex-hermano, totalmente autoral, intitulado "Sou", chegará às lojas no próximo dia 08/09. Gravado desde novembro de 2007 pelo selo independente Zé Pereira, o CD já teve a faixa Doce solidão disponibilizada para download no MySpace do artista em março de 2008. A partir desta sexta-feira, 29/08, serão disponibilizadas dez das quatorze faixas do álbum para download gratuito no portal Sonora, do Terra. A turnê nacional de lançamento do disco inicia-se em Recife-PE, no festival Coquetel Molotov, no dia 19 de setembro, e segue pelas principais capitais até o fim do ano.

O coração na ponta das chuteiras


Uma derrota é sempre uma derrota? Afirmo, categoricamente, que não. Cada perda tem a sua face. Li em um site de notícias que perder lutando dói menos. Não sei se a dor é menor, mas, certamente, fica a convicção de que não foi por covardia que ela se fez.

Foi assim que a medalha de ouro da seleção feminina de futebol transformou-se em prata. A prata mais dourada que já vi porque foi regada pelo suor da perseverança. Se as meninas não chegaram ao lugar mais alto do pódio, tiveram o reconhecimento dos irmãos tupiniquins.

“Verás que um filho teu não foge à luta.” Lamento que os rebentos da seleção masculina não tenham encarnado o espírito guerreiro invocado no hino da nação que deveriam defender. Todavia é a outro senhor que os jogadores servem. O dólar, o euro e o real: a trindade que para eles é a santa.

Amor a camisa. Ah... o amor! Se antes movia nossos soldados no campo sagrado do futebol, hoje,
ele é uma utopia. A inesquecível derrota para a Itália na Copa do Mundo de 82 feriu quase mortalmente uma geração. O lenitivo ficou por conta da garra e do futebol bonito que os combatentes brasileiros demonstraram na ocasião.

Raça que sequer entrou em campo no Mundial de 98 (França) e que passou longe do estádio dos Trabalhadores (Olimpíadas de Pequim 2008). Porém, hoje (21/08/2008), floresceu no mesmo estádio dos Trabalhadores com as guerreiras-meninas brasileiras.

Mostraram a uma nação e aos machistas (que insistem em afirmar que mulher não entende nada de futebol) que aprenderam a jogar com os homens. Isso, nós mulheres, temos que admitir! Mas uma lição foi ensinada e, ao contrário deles, elas não esqueceram. Quando entram em campo tiram o coração do peito e o colocam na ponta das chuteiras.

Valeu, meninas! O ouro é só questão de tempo porque vontade e amor vocês têm de sobra. E quem sabe um dia, os meninos aprenderão com vocês o que os ancestrais deles ensinaram: amor à camisa.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Cazuza em DVD

Em comemoração aos 50 anos que o cantor Cazuza faria em abril , foi concebido e está nas lojas o DVD Cazuza - pra sempre, que traz duas apresentações históricas do artista, morto em 1990, de complicações decorrentes da Aids. Eis o set list do vídeo:

1. Exagerado
2. Medieval II
3. Por que a gente é assim
4. Vida louca
5. Boas novas
6. Ideologia (participação especial: Frejat)
7. Nosso amor a gente inventa
8. Blues da piedade (participação especial: Frejat e Sandra de Sá)
9. Faz parte do meu show
10. Todo amor que houver nessa vida
11. Codinome beija-flor (participação especial: Simone)
12. Preciso dizer que te amo
13. Só as mães são felizes
14. O tempo não pára
15. Bete balanço
16. Um trem para as estrelas (participação: Gilberto Gil)
17. Brasil (participação especial: Gal Costa)


Além das músicas, o DVD contém uma entrevista com o próprio Cazuza e depoimentos dos artistas Ney Matogrosso, Simone e Sandra Sá. Além disso, traz uma galeria de fotos e um texto emocionante sobre a vida de Cazuza. Recomendável não apenas para fãs, mas para aqueles que queiram conhecer com mais profundidade a vida e a obra desse genial artista, o qual, apesar de sua curta existência, teve uma carreira meteórica, esfuziante e inesquecível.

sábado, 21 de junho de 2008

O que é blasfêmia?

É a difamação, por meio da fala ou da escrita, de um ou mais deuses ou figuras sagradas de determinada religião. Algumas vezes, o termo, derivado do grego blasphemein - de blaptein, prejudicar, e pheme, reputação -, também é empregado como significado para insulto. O Levítico, terceiro livro do Velho Testamento, defende que "quem blasfemar o nome do Senhor está morto". No Evangelho de Lucas, é dito que blasfemar contra o Espírito Santo é imperdoável. O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, não é menos rígido: afirma que Alá perdoa todos os pecados, exceto descrer em Deus, ou seja, a blasfêmia. Para os seguidores do islã, falar mal de Maomé e de qualquer outro profeta citado no Corão ou na Bíblia também é considerado uma blasfêmia. O curioso é que, mesmo em tempos de secularismo e separação entre Igreja e Estado, vários países ainda adotam leis de blasfêmia. É o caso da Inglaterra, da Finlândia e da Alemanha, entre outras nações européias. No mundo muçulmano, a pena para os blasfemos é dura no Paquistão, variando da prisão perpétua à pena de morte. E não podemos esquecer do Irã, que, em 1989, condenou à morte o escritor britânico Salman Rushdie, autor de Os Versos Satânicos, por supostas blasfêmias contra o islã. A condenação foi revogada em 1998, depois de tratativas entre Irã e Inglaterra.

Fonte: Revista Vida Simples, n° 66 (Maio/2008) - Editora Abril.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Confissões, devaneios e sossego... Muito sossego!

Estou praticamente recluso por uns dias em Itapetim, pequena cidade do interior de Pernambuco, sertão do Pajeú, onde estão fincadas minhas origens. Longe de comunicações via celular e da agitação de Recife, busco a paz de espírito e o equilíbrio emocional. Espero também alegrar meu coração com os festejos juninos, que começam na próxima semana. A receptividade dos moradores daqui é impressionante e faz com que a pessoa se sinta de fato abraçada, abrigada. O tempo aqui está bastante frio, e mesmo durante o dia a temperatura é bem agradável. O silêncio dessas horas calmas me torna reflexivo acerca de muitas coisas as quais vivenciei nos últimos meses, e que deixaram marcas profundas e feridas abertas em meu peito. Dessa forma, resolvi convidar minhas tristezas e mazelas emocionais para um chá da tarde comigo, pois encarar certas questões de frente é melhor que fugir delas. A experiência de meus últimos dissabores me leva a acreditar que mais vale ser altruísta que egocêntrico, embora seja muito difícil praticar esse querer despretensioso, em que se dá amor sem exigir recíproca. "Que prazer mais egoísta o de cuidar de um outro ser, mesmo se dando mais do que se tem pra receber". Os dias passados foram um verdadeiro exercício de paciência, no qual tive de conviver com egoísmo, vaidade, infantilidade, histerismo e desequilíbrio psicológico. Tentei ainda persistir nessa relação absurda, porque eu sou "todo amor", e meu sentimento, por ser verdadeiro, nutria-me de esperanças de que tudo iria ficar bem. No entanto, sei que foi mais acertado ficar afastado de tudo isso, embora o vazio machuque ainda o meu peito, pois esse convívio estava substraindo a energia positiva que existe em meu ser atuante, vibrante, pulsante... E as pessoas têm que somar algo de bom e construtivo às nossas vidas - caso contrário, é melhor que estejam bem longe de nós! Apesar de o amor nos levar a fazer concessões e romper alguns limites, não é saudável abrir mão de alguns princípios que nos norteiam e denotam nossa personalidade. Não vou mentir pra mim, fingindo ser alguém que não sou. Gosto de gente bonita, feliz, inteligente e de bem com a vida! Sei que todos têm problemas - e alguns muito difíceis de administrar -, mas não tenho paciência para ouvir lamúrias o tempo inteiro. É muito fácil reclamar de tudo e de todos sem sequer mover uma palha para mudar a situação! É preciso entender que a atitude é que destrói a barreira existente entre a mediocridade e o êxito em nossas vidas. "Eu não sou de olhar o que passou nem lamentar o que se foi - sou de criar o que será". Espero que os erros e acertos me dêem a experiência necessária à construção de uma nova história, sempre! "Só nos cabe a dor frente a evolução". Eu quero, posso e mereço ser feliz com o que sou e o que tenho, e só desejo uma coisa a quem não me amou: saiba amar alguém um dia!

Enquanto me recupero de todo o mal que me foi causado, faço da música a minha companheira e da literatura o meu porto seguro. Estou cada vez mais embevecido com a música do Jorge Vercillo e com descoberta (tardia, porém compensadora) da maravilhosa poesia de Bruna Lombardi (a quem eu dedicarei com maior prazer uma matéria inteira, dentro em breve).

domingo, 15 de junho de 2008

Relato do show de Jorge Vercillo em Recife (14/06/08)

Jorge entrou após o show de Luiza Possi, quase a uma da manhã. Foi ovacionado pelo Chevrolet Hall lotado, assim que começou a fazer as vocalizes de "Melhor Lugar", antes mesmo das cortinas se abrirem. Foi bonito ver e ouvir os milhares de fãs cantando "Sonhamos paisagens, compramos passagem e nunca voamos pra lá" em coro. Após a segunda música, ele cumprimentou o público pernambucano e falou da satisfação de vir sempre a Recife. Elogiou Luiza Possi e falou de seu parceiro musical, Dudu Falcão, que estava aniversariando, e cantou "Ciclo", parceria de ambos (outro número em que o público em peso cantou junto, principalmente no refrão de "Eu que não sei quase nada do mar"). Emocionou a todos ao relembrar Gonzaguinha, com "Espere por mim, morena", em casadinha com sua bela "Luar de sol". Em seguida, houve o momento marcante em que cantou "Signo de ar", com um novo arranjo que ficou meio bossa (muito mais bonito que o 'dance' original). Foi praticamente idolatrado quando cantou "Ela une todas as coisas", cujos arranjos estavam completamente fiéis ao disco (o violino praticamente falava! Lindo). Ele soltou a voz em "Devaneio" e deve ter provocado arrepios no público inteiro naquele momento da paradinha: "e o silêncio... fala mais que a traição". Explicou a letra altruísta e espirituosa de "Vôo cego", uma das canções mais fortes de seu último disco. Arrasou na difícil “Numa corrente de verão”, parceria dele com Marcos Valle. Surpreendeu com o novo arranjo de "Homem-aranha", meio jazzístico, mas que não conseguiu empolgar tanto quanto o anterior. A mudança brusca causou uma certa estranheza em muitos dos presentes.

Na seqüência, teve um momento engraçado: ele errou a letra de “Toda espera”. No trecho “se eu ando distraída assim me deixe só” ele completou com “tô te trazendo o tempo inteiro só pra mim” e se atrapalhou com o restante da estrofe. Continuou rindo e apenas sofejando a melodia. Disse então: “pô, vâmo cantar essa primeira parte que fala da mulher de novo, que é tão bonita!”. Depois lembrou da letra e cantou a música toda. Foi aplaudidíssimo no final. “Camafeu guerreiro” com a roda de capoeira divertiu muito o público, mas foi um 'nada a ver' aquele violinista cantando “Epitáfio” desafinadamente e totalmente fora de contexto! Ponto para Calasans, que se mostrou afinadíssimo em “Eu só quero um xodó”. Logo em seguida, Jorge tentou dar uma renovada na surrada “Fênix”, com uns arranjos modernos, sem aquele batido solo de sax, mas ele bem que poderia dispensá-la e trazer à tona alguma canção do tão esquecido segundo disco, como, por exemplo “Infinito amor” ou “Raios da manhã”. Mas é fato que o público adora vê-lo cantar “Fênix”. Vercillo emocionou o público com “Encontro das águas” e, logo em seguida, atendeu aos pedidos insistentes para que cantasse “Avesso”, que se tornou música cult gay por causa da letra. A seqüência final do show iniciou-se com “Todos nós somos um”, quando Jorge mandou abrir a grade de proteção que separava as mesas da pista e todos se misturarem, fazendo jus ao título da canção. O público das mesas deve ter odiado (risos), mas o restante ficou enlouquecido, em êxtase!!! Em seguida, cantou Cazuza, Coisa de Jorge e outros hits radiofônicos! ÓTIMO show, como não poderia deixar de ser, em se tratando de JORGE VERCILLO.
Fotos ilustrativas creditadas a Rô Silva e Cátia Veloso.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A ressurreição do disco de vinil na era de download e pirataria

O CD veio para matar o vinil e deve morrer primeiro


Era um ritual simples. Antes de mais nada, existia o prazer de ver a capa e tocá-la. Foi-se o tempo em que se tocava na música. Você tirava o disco da capa, colocava-o com delicadeza no prato da vitrola, pegava a pequena alavanca do braço (ou pick-up), virava para o lado que queria (78 ou 33 e 45 rpm) e deixava pousar sobre o bolachão. Aquele chiado inicial antes de começar a canção é inclusive usado como sonoridade em músicas até hoje.

O disco de vinil surgiu no ano de 1948, tornando obsoletos os antigos discos de goma-laca de 78 rotações, que até então eram utilizados. A partir do final da década de 1980 e início da década de 1990, a invenção do Compact Disc (CD) prometeu maior capacidade, durabilidade e clareza sonora, sem chiados, fazendo os discos de vinil ficarem obsoletos e desaparecerem quase por completo no fim do século XX. No Brasil, os LPs em escala comercial foram comercializados até meados de 2001. Mas o último relatório da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) revela o declínio da comercialização do formato que pretendia enterrar o vinil. As vendas de CDs e DVDs movimentaram em 2007 R$ 312,5 milhões, o que representou uma redução no faturamento líquido (vendas menos devoluções) das companhias que reportam estatísticas para a ABPD, de 31,2% em comparação ao ano de 2006, quando o setor fonográfico movimentou R$ 454,2 milhões. No segmento digital foram registrados R$ 24,5 milhões de movimentação no setor, o que já representa 8% do mercado total de música no Brasil. Por outro lado, em 2006, pela primeira vez a ABPD apresentou uma pesquisa de mercado sobre o universo musical na internet. O estudo, encomendado à Ipsos Insight, empresa de pesquisa de marketing do grupo Ipsos, constatou que 8,2% da população pesquisada, o que corresponde cerca de 2,9 milhões de pessoas, baixaram música na internet no ano de 2005, contabilizando quase 1,1 bilhão de canções sendo baixadas da rede mundial de computadores, a grande maioria oriunda das redes de compartilhamento de arquivos (Peer to Peer). Se esses downloads fossem feitos de forma legalizada, o setor teria arrecadado mais de R$ 2 bilhões, ou seja, 3 vezes mais do que o montante faturado pelo mercado oficial em 2005 com a venda de CDs e DVDs originais, que foi de R$ 615,2 milhões.

Na era do vinil, pode-se arriscar dizer que não havia pirataria. O problema começou a surgir quando a evolução tecnológica permitiu separar mídia e conteúdo, além de oferecer inúmeros métodos fáceis e acessíveis para replicar e copiar aquele mesmo conteúdo em diversas outras mídias, como nos casos dos DVDs e softwares. Na verdade, a condenação do vinil foi equivocada, pelo menos até agora.

Quem um dia tocou um vinil não o esquece mais. Talvez a geração digital não venha a descobrir os álbuns em embalagens gigantes e gostosas de serem olhadas e executadas, mas fato é que o vazio da era digital trouxe de volta a atenção pelo vinil. Aliás, ele nunca saiu do mercado. Sobrevive num mundo paralelo e entre ele e o CD é provável que o Compact Disc seja engolido pelo download, pelo menos é o que revela os números.

À medida que o CD vai perdendo terreno como suporte musical, os discos de vinil vêem o seu culto e vendas crescer. A CNN divulgou no começo do ano passado que a venda de singles de vinil de 7 polegadas aumentou de 180 mil unidades em 2001 para mais de 1 milhão de unidades em 2005. Por sua vez, a compra de CDs tem decrescido desde 2000, tendo sofrido uma descida de 20 por cento nos EUA em 2006.

O blog Listening Post, da revista Wired, resolveu perguntar ao eBay, o maior site de leilões do mundo: qual o volume de vendas de discos de vinil entre os usuários do site? A resposta foi surpreendente: atualmente, usuários do eBay compram 6 discos de vinil a cada minuto, ou seja, um disco a cada 10 segundos. O álbum mais comprado e vendido em formato vinil é o álbum branco dos Beatles. Se essa média se mantém constante, são 3.155.760 discos por ano. São raridades sendo vendidas entre colecionadores e aqueles que resolvem se desfazer de suas bolachas pretas que estão em casa pegando poeira. Mas esses mesmos colecionadores mantêm vivo um mercado paralelo e consistente de novos discos. Os artistas americanos e europeus até hoje lançam os novos álbuns nos formatos CD e MP3, mas alimentam os fãs com edições especiais em vinil. Madonna é mestra nesse quesito, porém estrelas menos conhecidas surpreendem com recordes de vendagens em vinil.

É o caso da banda The White Stripes que bateu o recorde em junho do ano passado com o vinil de um single mais vendido da história do Reino Unido com a música Icky Thump. A canção, que entrou na parada direto no segundo lugar vendeu mais de 10 mil cópias em apenas dois dias. De acordo com o ranking Music Week, da revista NME, a última banda a quebrar tal recorde foi Wet Wet Wet, com o single de Love Is All Around, tema do filme Quatro Casamentos e um Funeral, que vendeu 5 mil cópias em uma semana.

A persistência do suporte pode ser explicada por fatores como a estética e o culto do objeto (que vai resistindo na era dos downloads digitais) ou pela qualidade sonora. Também pode ser justificada pela sua proeminência no circuito dos DJs que encontram nos discos de vinil maior facilidade e possibilidade de manuseamento direto para as suas técnicas de discotecagem, além da popularização de gêneros musicais como o reggae ou o hip-hop, que tem na sua gênese a manipulação de discos.
Pela sobrevivência do bolachão: Senaes entra no movimento pela recuperação da única fábrica de discos de vinil do país

A Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho e Emprego, entrou na ação emergencial para impedir que a Polysom do Brasil, única fábrica de discos de vinil do país, feche definitivamente suas portas em virtude de dificuldades técnicas e financeiras.A mobilização começou no ano passado sob a liderança do Ministério da Cultura com o lançamento das iniciativas destinadas à preservação da fábrica. Participaram do ato o ministro Gilberto Gil e profissionais ligados à indústria fonográfica nacional.

Em reunião com os proprietários da Polysom, Luciana Carvalho e Nilton Rocha, e com um representante do Ministério da Cultura, em 25 de março, o diretor do Departamento de Fomento da Economia Solidária, Dione Manetti, propôs a elaboração de um plano de trabalho de recuperação, que deve começar com um diagnóstico detalhado da situação atual da empresa. "Incluindo, ainda, o levantamento de investimentos necessários e das oportunidades para essa fábrica no mercado", destaca o diretor.

Por meio desse projeto, Senaes, Ministério da Cultura e os donos da Polysom buscarão parcerias e alternativas de financiamento para a retomada do empreendimento que começou em 1999, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Na época, a empresa chegou a produzir 110 mil cópias por ano para uma igreja pentecostal. Nos últimos anos, com a sofisticação de instrumentos de digitalização musical e por conta de problemas técnicos e financeiros, a equipe foi reduzida a três polivalentes profissionais e a produção passou a cair. No ano passado, registrou somente 23 mil cópias. "Estamos abertos ao novo e com disposição. Acreditamos no que fazemos e que vai dar certo", disse Luciana Carvalho.

domingo, 27 de abril de 2008

Hip Hop e a música com sabor de rapadura

Rapadura híbrida com sabor de anos 80 tempera o disco pop do ano



“Hard Candy”, o décimo primeiro álbum da cantora Madonna, chega às lojas brasileiras e da Europa no próximo dia 28/04.



O novo álbum de Madonna, “Hard Candy”, previsto para chegar às lojas brasileiras e do resto do mundo amanhã (nos Estados Unidos na terça, 29) vazou no final de semana passado na internet. A chegada precoce foi marcada pela guerra de palpites fervorosos entra os fãs e a crítica. Como sempre acontece com os lançamentos da maior representação musical pop que existe no mercado, os especialistas do universo musical se dividem entre os que preferem o disco anterior e os que dizem que o novo é bom.


Madonna apesar de não fazer parte do universo regional diretamente, merece sempre destaque nas análises da imprensa porque é a partir do que ela lança que vamos consumir o que o pop no resto do planeta seguirá. É assim na sonoridade e no visual. Quem não viu Joelma travestida de Madonna na Banda Calypso? Adriana Calcanhoto regravou a genialidade minimalista de “Music”, transformando-a em sonoridade tupiniquim e o DVD ao vivo de Ivete Sangalo sugou a superprodução ditada pela cantora americana.


Deixando algumas comparações infelizes para além, “Hard Candy” (doce duro ao pé da letra, ou rapadura para bom entendedor) ganhou esse nome pela paixão por doces da cantora e agora adquire uma conotação depois do lançamento que talvez a própria Madonna não esperasse, nem irá entender a brasilidade da livre interpretação: rapadura é doce, mas não é mole, não!


A revista americana Rolling Stone, principal publicação sobre música e cultura Pop do planeta recebeu bem o disco. Por aqui, os resenhistas andam quebrando os dentes para entender, degustar e se desprender do mito que persegue a cantora de que depois de um disco excelente (é o caso do álbum passado lançado em 2005, “Confessions on a Dance Floor”) vem um ruim. Faz sentido. Aconteceu com American Life, por exemplo.



Mas não é regra. Antes de mais nada, os críticos cobram novidade sonora eternamente. É verdade que “Hard Candy” é novo para Madonna, mas não para o pop. Delineado pelo hip-hop, a dúvida que paira é se o disco só fará as pazes da cantora com o mercado americano, reduto do gênero, ou se ela soube aproveitar o investimento no estilo para gravar algo realmente interessante. Dúvida que vai se desfazendo depois de algumas audições. "Hard Candy" vem como sucessor de "Confessions on a Dance Floor", que estreou em primeiro lugar nas paradas de 30 países e na era do download grátis vendeu mais de 8 milhões de cópias.


No novo disco, Madonna continua focada no clima club e acende as raízes do passado que mandam sinais de fumaça da vida urbana em Detroit e do começo em Nova Ioque para uma noite habitada pela batida hip hop em parcerias com artistas como Timbaland, Justin Timberlake, Pharrell Williams (do Neptunes) e Nate "Danja" Hills. Todo mundo esperava que ela transformasse o hip hop para não parecer com as outras cantoras pop que descambaram por esse lado como Nelly Furtado. Com esta, para não mentir ou omitir, há uma farpa de parentesco nos maneirismos vocais e arranjos de “Heartbeat”, nada que comprometa a originalidade do disco na obra de Madonna ou que dê cabimento para é “mais-do-mesmo”. Não há uma transformação. Há uma reafirmação do casamento pop-hip-hop e o disco não parece nada com a concorrência.


É uma miscelânea de elementos que estão custando caro aos ouvidos apressados. Se “Confessions...” mantinha uma unidade sonora do início ao fim e é o que se espera dos discos para taxá-lo de bom, as canções de “Hard Candy” bebem da hibridez que distancia uma faixa da outra e confunde o ouvinte. Com disco music, electro, vocoders, muito sintetizador e bateria programada as músicas não se comunicam, mas também não se trumbicam.


Trata-se do resgate da linha oitentista revestida da atualidade da eletrônica. Os discos da cantora nos anos 80 não seguiam exatamente uma estética sonora única. As faixas eram como estas de hoje que tinham força por si só. Para entender, escute a estréia “Madonna” e para ir mais além, absorver o doce poder de “Hard Candy”, ouça “Like a Prayer”, o álbum.O disco está cheio de contrastes e embora não seja revolucionário tem frescor de inovação. A idéia é dar um ar futurista e ao mesmo tempo retrô, club, é algo pólis. Nessa miscelânea de conceitos, o disco não chega a ser genial, mas ficará na casa da nota 9 pela simplicidade e doçura das melodias que tem até um quê de despedida (tomara que seja só da Warner – “Hard Candy” é o último disco dela lançado pelo selo). O encarte é a única parte que deixa a desejar. Madonna acerta no conceito pugilista na capa, porém peca no resto do ensaio perdendo força com uma certa tristeza transparente no olhar e um ar de senhora que não condiz com a jovialidade do álbum.


A onda de decepção que o disco tem provocado se resume ao fato de que as análises em cima das obras dela são precedidas da imposição midiática de que venham recheadas de vanguarda. Dessa vez, Madonna esteve despretensiosa, e mesmo que tenha havido a intenção de inovar contraditoriamente usando os elementos já conhecidos, o disco soa diferente, alto astral e não há motivos para jogá-lo no limbo.


Faixa a faixa



1. "Candy Shop" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes.Canção que, além de explicar a temática adocicada do álbum, também já convida os ouvintes ao ritmo dançante que será explorado no disco. Ouça o álbum “Like a Prayer” e entenda a batida quebrada da música.


2. "4 Minutes" - escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake, é o primeiro single do disco e passa longe de ser a melhor faixa. Traz aquele pancadão funk e é a mais hip-hop de todas.

3. "Give It 2 Me" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. De longe a melhor. Disco, sintetizadores, universo electro que dá o tom da faixa. Poe qualquer pessoa pra dançar. “Não é o começo, nem o fim” como diz a letra.

4. "Heartbeat" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Pancadinha hip hop marcante, melodia fácil, agudos anos 80. E vá dançar.

5. "Miles Away" - escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, possivelmente fala da relação dela com seu marido Guy Ritchie quando viviam em continentes separados é repetitiva, mas tem a cara das baladinhas deliciosas que embalam aos dores de cotovelo.

6. "She's Not Me" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. A forma que ela encontrou de dizer que igual a ela não existe ninguém. Uma guitarra dá gingado a música, com elementos do groove que desembocam num remixe fantástico de si mesma

7. "Incredible" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Sonzinho de cobra ao longo da faixa a deixa como a mais fraca do disco, paquerando os adolescentes e com uma certa confusão nas camadas. Leve nuance funk dá uma salvada no som.

8. "Beat Goes On" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Uma surpresa para quem já tinha ouvido esta faixa na época em que vazou, no final do ano passado. Com outros arranjos e tranqüila, a faixa é tudo que Michael Jackson gostaria de gravar. Perfeita!
9. "Dance 2night" - escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake .O baixo marca a faixa que pode ser considerada a mais black.

10. "Spanish Lessons" - escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Parece confusa, mas não é. Tem um certo excesso de elementos, porem graciosa como as musicas e influencias latinas que ela costuma usar. Dançante.

11. "Devil Wouldn't Recognize You" - escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, co-produzida por Nate "Danja" Hills, com vocais adicionais de Justin Timberlake. Aquela baladona. Como já disse noutra ocasião, as baladas dela são impagáveis. Outra black que Michael gostaria de ter gravado. Passa longe da pieguice da concorrente Mariah Carey.

12. "Voices" - escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Nate "Danja" Hills, co-produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake. "Hard Candy" termina com Justin Timberlake perguntando: "Who's the master and who's the slave?" (na tradução livre, "quem é o mestre e quem é o escravo?"). É outra meia balada com pinta de etéreo.