sábado, 8 de setembro de 2007

Atmosfera: o tilintar cristalino da caixinha de música de Roberta Sá

Sob o pedicelo do samba, a cantora potiguar emoldura a Música Popular Brasileira com personalidade

Ao contrário da conterrânea e pernóstica Marina Elali, Roberta Sá não emplacou hits nas novelas da Globo, nem precisou de programas dominicais para se fazer notada. A voz cristalina e correta e o talento para compor atraem os holofotes mesmo que ela não queira.
Quando se fala em MPB potiguar não se pode delir também o registro de outras representantes legítimas da terra como Valéria Oliveira, Khrystal, Simona Talma, Luciane Antunes, etc. Adverte-se: comparações entre Marina e Roberta, pelo menos musicalmente e em especial sob o crivo dos fãs, não serão justas. Porém, cabe a referência porque na vida de ambas há coincidências – são potiguares, foram abençoadas com voz bela e se tornaram conhecidas no país na mesma época, depois de participarem do Fama da TV Globo.
As semelhanças, no entanto, páram por aí e sem desmerecer a indefinida e indefinível musa-pop-teen-diva Marina que se deslumbrou com a possibilidade da fama e se perdeu na falta de unidade, atirando para todos os lados com um disco que só agrada quem não percebe a diferença entre rock e ópera. Despojada Roberta Sá, por outro lado, sugou do programa as lições e os contatos.
Fato é que Roberta vem ao caso pela impressionante história que escreve na Música Popular Brasileira. Ela sofre de uma maturidade precoce chamada “Braseiro”, lançado em 2004, e “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”, de agosto de 2007. Discos que a puseram no topo da lista de “boa nova” da MPB da crítica nacional.
Roberta Sá bebe (nos dois álbuns) na fonte do samba, tanto no caule musical quanto no berço boêmio carioca do ritmo, e quem se embriaga somos nós. Enquanto a quase sempre sublime Marisa Monte resgata a história e rabisca traços de modernidade em seu “Universo Ao Meu Redor”, Roberta revela um infinito mundo particular com leitura contemporânea da atmosfera inebriante do samba que poucos são capazes de gravar.
“Tudo flui”, dizia Heráclito. Tudo está em movimento e nada dura para sempre. Por esta razão, “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio”. Isto porque quando entramos pela segunda vez no rio, tanto nós quanto o rio já estamos mudados. Se o filósofo fosse vizinho de Roberta Sá, certamente usaria a cantora como exemplo de sua teoria. Ela não tem pressa de gravar e o que interessa é deixar fluir a intimidade de sua alma com o repertório garimpado com propriedade como se as canções fossem dela ou feitas para ela. A cada faixa Roberta se supera. Para tanto recrutou colaboradores como Moreno Veloso, Lenine, Ney Matogrosso, Pedro Luís e misturou ao imaginário de clássicos como Dona Ivone Lara e Martinho da Vila em obra ou inspiração. O resultado é malandragem vocal típica do samba entoando letras que falam de amor e do cotidiano com leveza e humor para expressar a necessidade de humanizar as relações num mundo em que não se dá mais bom dia à porta do elevador.
É gafieria, funk, rap, cavaquinho, bandolim, violão, bossa nova, programações eletrônicas para acabar com o pedantismo alheio. Roberta Sá não jaz em grupos insossos de pseudo-divas da MPB: ela faz parte de um seleto e original ambiente de artistas cultos, cultuados pela capacidade de serem donos de si, das escolhas da própria musicalidade. Roberta Sá é para ser sampleada tal qual Caetano por Adriana Calcanhotto: “Vamos comer Roberta Sá, pelo óbvio, pela frente, pelo verso, vamos comê-la crua”.

11 comentários:

Freddy Simões disse...

Querido Williams, eu não poderia deixar de comentar esta sua ótima matéria! Você utilizou comparações, citações e palavras pomposas do vernáculo - o que resultou num texto apurado, consistente, do qual o leitor pôde absorver toda a essência do belo trabalho da cantora (de quem eu já era fã e, agora, muito mais).

Parabéns!

Sua presença no Café Cultural é gratificante!

Unknown disse...

eu acabei de conhece-la, quer dizer, ouvi-la, foi quando surgiu a ideia de escrever sobre para o caderno de cultura de O Mossoroense (www.omossoroense.com.br) e ai quando fui pesquisar sobre, vi que ela tinha lançado o disco novo mes passado. Mostrei o texto prum amigo fotografo e ele disse "fiquei com vontade de ouvir o disco", entao, creio que o texto cumpriu sua missao.

Freddy Simões disse...

Certamente o texto cumpriu sua missão. Eu também já estou com vontade de ouvir o disco!

Anônimo disse...

Cada dia mais eu gosto desse blog. Informativo, interessante e diversificado! Williams Vicente, adorei a matéria sobre Roberta Sá. Ela além de ser linda, tem a voz linda e muito carisma. Eu já era fã dela desde a época do FAMA. Confesso que depois de tantas palavras, fiquei curiosa pra ouvir o novo CD.

Valdeline Barros. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valdeline Barros. disse...

Adoro Roberta Sá!
A voz dela em "Dê um rolê" ficou absurda! E em "Casa pré-fabricada"?! Dentre tantas outras... Ótimas!
Nossa, a moça é muito talentosa!! Imprime realmente seu cunho nas músicas que escolhe. E arrasa!
E nem se vende mesmo, como foi quase dito.
Ela já veio jóia, quase bruta, mas cristalina...
Não se deixou "manipular". Mais pontos para ela!
Enfim, a matéria ficou realmente muito bem escrita. E não é que dá vontade na gente mesmo?
Então, vamos sim, "comer Roberta Sá" com os ouvidos!
É sempre bom. "Beber" música e poesia... Nunca é demais!

" 'Tudo flui', dizia Heráclito". Eu diria... Tudo flui melhor, com música. Sempre!

Unknown disse...

Eu diria que Roberta Sá tem que ler esses comentarios e me contratar!!!!kkkkkk obrigado conterraneos

Cátia Veloso disse...

Caríssimo William:
É delicioso poder ler uma matéria tão bem escrita, tão rica e com a tônica que deveria ter todo texto escrito: aguçar o desejo de conhecer mais sobre o que acabamos de ler.
Sou freqüentadora do Café Cultural (o que considero uma verdadeira obra de referência, como já disse ao Freddy) e sinto-me privilegiada em ter acesso a vocês e a essas preciosidades com que nos têm presenteado ultimamente.
Já era admiradora de Roberta Sá e depois de ouvir o novo Cd “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”, eu diria: Que bela obra para nos dar Alegria.
Quem aprecia uma bela voz com afinação perfeita e ao mesmo tempo transmitindo uma simplicidade admirável como é o caso dessa moça, sabe muito bem o que eu sinto ao tentar expressar o meu contentamento em ouvir essas pérolas e sentir o que sinto.
Um breve comentário sobre o "Samba de um Minuto". É simplesmente apaixonante, isso porque é um samba de um minuto, imagine se fosse de 30 minutos? (risos).
PERFEITO!
Valeu!

Anônimo disse...

coitado..........
todo mundo já sabe que marina é uma cantora muitooooooooooooo melhor quer roberta sá ,marina não atira para todos os lados , é diferente ela é versátil é a melhor em tudo o que ela faz .
não gostou meta o deo no cu e rasge.

Anônimo disse...

ta na cara esses idiotas so estao criticando a marina por que sao fas de roberta sa a todo mundo sabe eles querem que as pessoas que leiam sejam fans de roberta sa coitados prefiro marina,beleza,charme,carisma,e carinho pelos fans

Anônimo disse...

ja roberta e toda inguinorante que fui a seu show nem olhava