quarta-feira, 11 de abril de 2007

CONSIDERAÇÕES ACERCA DE CONTO DE MACHADO DE ASSIS.


Ontem, sentado à escrivaninha do meu quarto, estava eu a ler uma antologia de contos diversos, na qual constava um de Machado de Assis que me despertou bastante a atenção. Chamava-se PAI CONTRA MÃE. No início do conto, Machado começa com uma explanação sobre os tempos de dor e sofrimento da escravidão. Aborda ainda o desemprego causado pelo fim da mesma, devido à quebra de vários ofícios. Logo após, ele começa a falar sobre Cândido Neves, um “competente”, frio e cruel capitão do mato que, casado e prestes a ter um filho, passa por numerosas dificuldades financeiras, por causa da inconstância de sua profissão. Ora, nem sempre havia escravos fugidios para capturar! O que fazer então para pagar o aluguel e, posteriormente, cuidar de uma criança? Seguiria talvez os conselhos da tia de sua esposa: deixar a criança na Roda dos Enjeitados quando ela nascesse. Essa idéia o desesperava. Era mau mas, no tocante a seu filho, tinha coração mole. Chega o dia de deixar a criança na Roda dos Enjeitados. Ele mesmo a leva. No caminho, reconhece de longe uma mulata, cuja descrição vira em um anúncio, e o dono oferecia cem contos para quem a capturasse. Era sua chance de mudar de vida. No percurso, passa defronte a uma farmácia, deixa a criança com o farmacêutico e corre à captura da moça. Sobre gritos de pavor e súplica, ele captura a mulata, que estava grávida. Ela tinha medo do que o seu senhor pudesse fazer. Tinha medo do castigo e de algo mais que pudesse acontecer a seu feto. Cândido não se fez de piedoso e arrastou a negra a seu dono. Ao chegar na casa, o senhor de escravos pegou a mulata e a jogou violentamente no chão. Imediatamente, tirou o dinheiro e entregou a Cândido. Contorcendo-se de dor, a mulata aborta na frente dos dois. Cândido vai embora, pega seu filho na farmácia e festeja com sua família o dinheiro ganho. Ao ser indagado pela tia de sua esposa sobre a negra grávida que capturara, ele responde: - Há crianças que não vingam!

É incrível a maneira como Machado, com sua escrita peculiar e brilhante, aborda sobre as coisas cruéis e nefastas que o ser humano pode cometer devido à necessidade ou ganância. No caso do conto, o capitão do mato, que estava prestes a perder seu filho por não ter condições de criá-lo, não se importou em nenhum momento com o filho que a escrava perderia se voltasse à casa de seu dono. Muitas vezes, nós nos esquecemos quem fomos ou quem somos e, consciente ou inconscientemente, fazemos coisas injustificáveis com nossos semelhantes.


Salve Machado de Assis!

Um comentário:

Anônimo disse...

É impressionante como as pessoas mostram seu lado negro quando são guiadas pela ambição, e ainda justificam que é a "necessidade de sobrevivencia"! Este conto retrata bem isso! E seu comentário foi tão completo que eu nem preciso mais ler o conto pra saber a profundidade das palavras do mestre da literatura Machado de Assis.

Adorei o blog!

Bjus!