Tenho ficado em casa mais tempo do que de costume, aproveitando as horas livres para ler e reler várias coisas. Certo dia, redescobri a obra polêmica e encantadora de Florbela Espanca, poetisa admirada em todos os cantos do mundo, devido à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como principal interlocutor o universo masculino. Eu conheci a arte de Florbela através do cantor cearense Raimundo Fagner, que musicou magistralmente os sonetos Fanatismo, Chama quente, Tortura e Fumo (o meu preferido!). Fiquei embevecido com tanta angústia, lascívia e paixão, expressados em versos contundentes.
Em Fumo, a poetisa põe lado a lado o amor e o vício. Há a comparação da pessoa amada com a fumaça, que nos escapa aos dedos, impossível de se segurar. É como se o amor se perdesse antes mesmo de se encontrar. Impressionam-me também as imagens que ela utiliza para retratar a dor da ausência, em versos como: "Longe de ti não há luar nem rosas/ Longe de ti há noites silenciosas/ Há dias sem calor, beirais sem ninhos". Ela compara, nas entrelinhas, sua tristeza ao clima de outono em Portugal: "Os dias são outonos - choram, choram/ Há crisântemos roxos que descoram". Seus pensamentos suplicam o tempo inteiro a presença da pessoa amada: "Meus olhos são dois velhos pobrezinhos, perdidos pelas noites invernosas/ Abertos, sonham mãos cariciosas/ Tuas mãos doces, plenas de carinho". Enfim, são muitas as minhas impressões acerca desse soneto belíssimo, mas prefiro retratar cantando o que sinto: