quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Considerações acerca do ódio.

"Esse meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra".

(Marjori Stock)


Na definição dos dicionários mais comuns, ódio é o rancor profundo que se sente por alguém ou algo, assim como o desejo de evitar, limitar, destruir o seu objetivo; aversão intensa motivada por raiva ou injúria sofrida; ojeriza; repugnância. O ódio, de acordo com a definição do judaísmo, não passa de um grande mal-entendido, igualado a coisas que não é, e sendo classificado como um dos males mais tenebrosos, quando, na verdade, não passa de uma emoção humana, tal qual o amor.

Classificar o ódio como mau sentimento é, no mínimo, contraditório: não se pode odiar, por exemplo, os bandidos que arrastaram até a morte o garotinho por várias ruas do Rio? Não se pode odiar o racismo, o preconceito, a barbárie? Não se pode odiar o ódio? Há ódio bom e ódio ruim? A questão é demasiadamente complexa!

Na arte, o ódio é representado de várias maneiras. Eis alguns exemplos:

- Pintura

“O ódio”, do pintor espanhol José Luis Fuentetaja, 1971.

- Teatro

Uma das mais famosas peças de teatro que retratam o ódio se chama “Medéia” (431 a.C.), do dramaturgo Eurípedes, que deu (mais do que nenhum outro) novos elementos à tragédia grega. A peça apresenta o perfil psicológico de uma mulher carregada de amor e ódio a um só tempo; estrangeira perseguida e esposa repudiada; tomada de uma fúria terrível, mata os filhos que teve com o marido para se vingar dele e se automortificar. Consiste numa das mais importantes personagens femininas da dramaturgia mundial. A seguir, excertos de Medéia:

“(...) Vim pedir ódio. Vim pedir a coragem da vingança. Vingança é o único alento do oprimido, sua única esperança! (...) Gosto de sangue na minha boca. O homem pai dos meus filhos, que ajudei com a minha juventude, vai se casar com outra. Ele viajou seis meses, voltou, não deu sinal, foi na boca anônima que eu ouvi que ele ia se casar – pelo meu homem confiei nesta vida tão sobressaltada e agora eis-me abandonada, com dois filhos, sem dinheiro, sem parente para me receber e chorar minha raiva mais do que eu. (...) Eu já estou morta. Mas a morte só não basta. Eu quero o vento da desgraça”. (Med.,p.135)

- Literatura

Sobre o ódio, o escritor Ferreira Gullar fez um poema em julho de 2003, especialmente para a Exposição de Arte: “Israel e Palestina – Dois Estados para Dois Povos”. Veja trecho:

(...)
O mais baixo dos sentimentos humanos é o ódio
Não cria nada.
Não traz felicidade, mas desgraça.

Matar o irmão do outro
Não faz reviver o teu irmão

Apenas gera mais ódio e fúria
E mais luto em tua própria casa.

A inteligência existe para tornar o homem melhor
Para fazê-lo compreensivo e cordato
Para que se entenda com os outros homens.

Com a inteligência distinguimos o justo do injusto
A inteligência nos ensina
Que todos os homens têm direito a seu chão,
À sua pátria
E à liberdade de governar a sua vida

Nenhuma força é capaz de apagar a injustiça
E domar o injustiçado
O caminho da paz é o entendimento
Jamais a imposição e o terror.

Quem de fato desejaria um futuro de desgraças e morticínio?
Só a besta-fera.

O homem sonha com um futuro de paz e felicidade
Que não nasce da violência
Mas do diálogo.

Todos os que se odeiam e se matam
Alegam razões para isto.
E ninguém os convencerá do contrário.
Só chegarão a um acordo
Quando se sentarem à mesa e disserem:

“Esqueçamos as ofensas passadas”.


- A poetisa portuguesa Florbela Espanca, apesar de sua vida repleta de decepções e dissabores, preferiu a resignação ao ódio:

Ódio por ele? Não... Se o amei tanto
Se tanto bem lhe quis no meu passado
Se o encontrei depois de ter sonhado
Se à vida assim roubei todo o encanto

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo d’outra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... Não vale à pena...


- Música

Na música brasileira, são inúmeros os exemplos. Dentre os campeões de compositores que exprimem ódio em suas canções, figuram Renato Russo, Cazuza e Ângela Rô Rô.

- Renato Russo declarava ódio aos seus desafetos, às injustiças sociais e à estupidez humana. Era um ódio ressentido, muitas vezes motivado por um coração partido e desesperançado em relação ao futuro de si mesmo e do mundo. Veja trechos de algumas letras:

(...)
Veja bem quem sou
Com teu amor eu quero que sintas dor
Eu quero ver-te em sangue e ser o teu credor
Veja bem quem sou

Trouxe flores mortas pra ti
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir.

(A tempestade)


(...) Sai de mim
Que eu não quero mais saber de você
Esse ‘eu te quero’ já não me convence mais
E agora já nem me incomoda

Sai de mim
Não gosto de ser rejeitado
E agora não tem volta

Eu pego o bonde andando
Você pegou o bonde errado
Sua curiosidade é má
E a ignorância é vizinha da maldade
E só porque eu tenho, não pense que é de mim
Que você vai ter e conseguir o que não tem
Só estou aberto a quem sempre foi do bem
E agora estou fechado pra você.

(Do espírito)

(...) Volta pro esgoto, baby!
Vê se alguém te quer.
O que ficou é esse modelito
Da estação passada

Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato
Teus truques banais
Você acabou ficando pra trás.

(As flores do mal)


(...) Eu sou, eu sou
A pátria que lhe esqueceu
O carrasco que lhe torturou
O general que lhe arrancou os olhos
O sangue inocente de todos os desaparecidos
O choque elétrico e os gritos:
- Parem, por favor! Isso dói.


Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda.
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém...

(La Maison Dieu)


Tudo o que você faz
Um dia volta pra você
Se você fizer um mal
Um mal mais tarde
Você vai ter que viver

Não me entregue o seu ódio
Sua crise existencial
Preliminares não me atingem
O que interessa é o final
E não me venha com problemas
Sinta sozinho o seu mal

Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo, não
Melhor do que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração

Os aborígenes na Austrália
Com um boomerang vão caçar
O boomerang vai e volta
E só fica quando consegue acertar
E eu sou como um boomerang
Quando eu acerto é pra matar
(...)
Como um boomerang tudo vai voltar
E a ferida que você me fez
É você que vai sangrar.
Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo, não
Melhor do que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração...

(Boomerang blues)

- Cazuza também fazia uso da acidez das palavras e da ironia para expressar seu ódio aos fracos, medíocres, hipócritas e caretas:

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal-plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não tem

Pra quem vê a luz
E não ilumina suas mini-certezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia.
Pra quem não sabe amar
Fica esperando alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só pras pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar os blues
Com um pastor e um bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade...
(Blues da piedade)


- Angela Rô Rô, famosa por seus blues e jazz de emoções confusas, bem como por seu temperamento bombástico, foi manchete, no início dos anos 80, em vários jornais que noticiaram sua agressão à cantora e então namorada Zizi Possi. O notável rancor profundo à ex-amante é destilado nas suas letras confessionais. Nota-se no conteúdo o uso de mecanismos de defesa no intuito de proteger seu Ego da dor e "ficar por cima" na situação:


Tola foi você ao me abandonar
Desprezando tanto amor que eu tinha a dar
Agora, veja bem, o mal é vai e vem
É só esperar...

(Tola foi você)

Quisera eu ser traída pelo corpo
Um pecado quase morto
Do que ser traída assim
Covardemente, pela mente sedutora
Pois do crime foste autora
E a lei caiu em mim

Não acredite que você lucre com isso
Pois promoção eu faço também dar sumiço
E eu nem preciso rogar praga de madrinha
Pra saber que brevemente estarás mal e sozinha

Sua cabeça sempre foi fraca e abusada
E não estava preparada pro amor que eu dediquei
Não me arrependo, vou jogar bola pra frente
Pois atrás sempre vem gente
E com amor nunca brinquei.
(Fraca e abusada)


Enfim, desde que mundo é mundo, o ódio permeia os corações com a mesma facilidade que seu antagônico, o amor. Ódio e amor assemelham-se justamente por serem emoções extremas, às quais o ser humano é tão vulnerável. E não há razão que justifique a existência de um ou outro: eles simplesmente existem, às vezes adormecidos, prestes a despertar ao toque mais sutil. Embora haja discordância de opiniões, é possível que ódio e amor caminhem juntos, simultaneamente, pois a mente humana é repleta de idiossincrasias, o que contraria a crença de que “quem carrega amor no coração não pode sentir ódio”, até porque quase sempre o ódio não é gratuito, e sim derivado de um amor não correspondido ou decepção sofrida.


“O ódio, que julgas ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente”. (Chico Xavier)


domingo, 26 de agosto de 2007

Nostalgia: Cássia Eller.


No dia 29 de dezembro de 2001, a música brasileira perdeu sua criança maravilhosa, Cássia Eller, a mais importante cantora do universo pop/rock nacional dos anos 90. A personalidade forte e marcante era sua principal característica, a qual se refletia nas suas interpretações sempre excepcionais. Algo de mágico e contagiante me ligava à cantora. Não conseguia desviar a atenção dela quando das suas aparições na TV. Eu a amava demais! Cássia era extremamente telentosa, sensível e, além disso, muito verdadeira. O contraste acidez/doçura a tornava única. Falava o que pensava e cantava o que queria. Seu repertório variava de Jimi Hendrix a Arrigo Barnabé. Num mesmo show, era possível ouvir "Na cadência do samba", de Ataulfo Alves, e "Smells like teen spirit", do Nirvana. A cantora era completamente apaixonada por Cazuza, Beatles e Renato Russo. Sua estréia em disco se deu no início dos anos 90. O carro-chefe do álbum foi o belíssimo crossover Legião Urbana/Beatles ("Por enquanto/I've got a feeling"), em versão definitiva e imortalizada.


Cássia tinha uma característica rara nos dias de hoje: fazer com que as canções interpretadas parecessem suas. É impossível dissociar a imagem de Cássia da canção "Malandragem" (Cazuza/ Frejat), inicialmente feita para Angela Rô Rô, mas recusada pela mesma. Cássia conseguiu transformar as composições de Nando Reis em verdadeiras maravilhas (ouça "O segundo sol", "Relicário" e "Luz dos olhos").

O dueto com o mestre Djavan na canção "Milagreiro" é de provocar arrepios, de tão belo. Cássia é e será sempre inesquecível. Sua passagem meteórica pelo planeta foi um lindo presente para nós, amantes da boa música!

Considerações acerca do amor.

Amor: palavra tão simples, sentimento tão complexo. Pessoas insistem em distorcer o sentido de tal vocábulo, banalizando seu uso e associando-o a sensações menores, como a paixão. O verdadeiro amor só foi feito para nos trazer paz, alegria e toda uma gama de coisas positivas. E mais: ele só existe se houver reciprocidade. O amor maior não é carnal, mas altruísta. Independe de tempo, espaço e condição. Amor puro nos dá segurança e estabilidade. Já a paixão é responsável por uma série de doenças emocionais.

É bom ficar apaixonado: desejar, ter e dar prazer! Porém, tais sensações desaparecem na mesma velocidade com que surgem. No final, o saldo é a solidão, a qual nos torna vulneráveis a inúmeros vícios e exageros de toda espécie.

O amor nos esclarece. A paixão nos cega. Amor cura. Paixão fere... O amor é um "abrir-mão" de muitos princípios, tabus, caprichos e vaidades; por isso, é um sentimento tão difícil de ser cultivado, pois ainda somos egoístas e possessivos. Queremos prender, mas deveríamos libertar! Quando estamos apaixonados, costumamos creditar nossa razão de viver à existência da "pessoa amada" e desconhecemos que a felicidade deve partir de nós mesmos.

Amor é nobre, grandioso e se manifesta de várias formas: numa palavra amiga, num ato de caridade para com o próximo, num beijo sincero, na indulgência, no respeito, no cuidado consigo próprio e com os que nos rodeiam, na espiritualidade, na canção, nos momentos de silêncio etc.

Por outro lado, as paixões, por serem pequenas e mesquinhas, são fáceis de se reconhecer, pois todas têm, basicamente, as mesmas características: ciúme, dependência, orgulho exacerbado e posse.

Sabemos amar?

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Nova da Madonna "vaza" no You tube

Ela está de volta. "The beat goes on" é a primeira música do futuro álbum que sai em novembro ou início de 2008 a "vazar" na Internet. "Vazar" porque Madonna não vaza: ela planeja e faz de conta que caiu na rede sem querer. Todo mundo já sabe que o disco será americanizadíssimo: hip hop até a veia que é o que vende por lá. É certo que ela muda sempre e ainda não tinha inventando de fazer hip hop. Britney, Beyonce ou "Bionseca" vendem milhões com isso. É dançante, porém descartável. Midas como ela é, até o que parece ser mais descartável possível, acaba se tornando clássico. Ela pode! Mas a primeira audição é mais do mesmo: refrão pegajoso, meio funkeada, enfim, é aquilo que poderia se esperar de uma produção com Justin Timberlakkkee e aquela galera toda que está na ponta do hip hop americano. "The goes..." é boa, é forte, é dance, mas não tem nada de inovador. A faixa que ela divulga antes do lançamento é quase sempre mediana, e ao longo do disco sempre tem coisa melhor. Parece que vem um disco bomba por aí, mas não tem cheiro do naipe de Confessions on a dance floor. Vamos aguardar! Te conheço Madonna, tu não me 'engana' com esse som!

terça-feira, 21 de agosto de 2007

30 anos de Tieta do Agreste

A AMBIVALÊNCIA DO FEMININO DE JORGE AMADO

Generalizações são sempre arriscadas, mas quem nasceu no Nordeste, especialmente em municípios do interior, e viveu, no mínimo, a infância nessa terra, testemunhou ou ouviu falar da saga de mulheres repudiadas pela sociedade por terem adotado a própria liberdade como regra primeira, acima dos manuais de conduta do patriarcalismo que ainda assombra as relações na região.

Com Tieta do Agreste, lançado em 1977, Jorge Amado revelou para o resto do país a existência da mulher “gulosa de homens”, ansiosa por extravasar sua natureza. Preservadas as peculiaridades das experiências individuais, Tieta retratou o duelo do natural (mulheres geradoras de homens e de mulheres) e cultural (a função social da mulher ditada pelos homens).

Desde Gabriela, Cravo e Canela, 1958, Jorge Amado resolveu registrar os costumes de tipos reais. A linguagem, por vezes obscena, ficou conhecida do grande público através das novelas da Globo que estereotiparam a mulher fogosa e despudorada. Livre como uma cabra, Tieta se libertou dos desígnios familiares e privilegiou os instintos, a feminilidade. “É importante falar da posição ambivalente de Jorge Amado em relação à questão feminina. Ele enxerga a mulher como um homem libidinoso, às vezes como um objeto sexual e ao mesmo tempo como um ser político capaz de atormentar os homens em suas posições machistas. As mudanças que elas operam ou que são operadas a partir da chegada delas são fortes”, disse o professor de literatura e doutorando pela UFBA em Letras e Lingüística, Marcos Aurélio dos Santos Souza.

Pano de fundo para os ideais socialistas do autor, a história descreve as peripécias de uma adolescente que não sucumbiu à autoridade paterna e viveu as suas histórias de amor. Discriminada, Tieta, tal qual uma retirante, foi expulsa de Sant’Anna do Agreste, cidadezinha perdida na Bahia, prostitui-se para sobreviver até, 26 anos depois, retornar à terra natal rica, poderosa, em busca do resgate de sua natureza, porém trajada de um novo espírito cultural: Tieta, em São Paulo, adquiriu outros costumes mais sofisticados sem perder o apego aos parentes, incluindo o pai repressor que aceitava sua ajuda financeira.

Tieta retorna a Sant’Anna travestida de alegoria do progresso. A chegada na cidade é festejada e seu poder contribui para a instalação da luz elétrica, por exemplo. Dona de si, com os pés fincados nas areias de Mangue Seco, onde reativa os impulsos naturais, a cabrita impudica comanda a própria liberdade para cometer incesto com o sobrinho.

O imaginário de Jorge Amado trafegou pelas telas da TV e do cinema para, 30 anos depois de sua publicação impressa, fazer a sociedade enxergar a própria hipocrisia. A história de Tieta surgiu para confrontar os conceitos cristalizados do pai, o homem-centro, o dono, a lei, com as protagonistas da vida real, mulheres de pequenas cidades tão comuns no interior do Nordeste, transgressoras de todos os arquétipos de submissão, castidade, fidelidade. É a mulher no papel que ela sabe desempenhar melhor que o homem: o da sedução.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A violência bate à porta

Somos, diariamente, separados de forma brusca dos entes queridos, amigos, companheiros de trabalho ou de escola. Enfim, pessoas que amamos são extirpadas do nosso convívio sem, ao menos, terem chance de reação. Não é difícil descobrir sobre o que estou escrevendo. Que brasileiro não tem uma triste história de violência para contar?

Infelizmente, muitos de nós conhecemos vítimas de assaltos, seqüestros, balas perdidas, estupros e assassinatos. Vidas são ceifadas por motivos vis. Hoje, dá-se muito valor às coisas materiais. Mata-se por um carro, um celular, um real. Mata-se por tudo. Mata-se por nada.


Antes, ouvíamos comentários de amigos que tiveram amigos assaltados ou que sofreram algum tipo de violência. Hoje, já não são só os amigos dos nossos amigos. São os nossos amigos, os nossos familiares, são pessoas que amamos. A terrível sensação de que a violência bate à nossa porta é real.

Eu sou uma dessas pessoas que, infelizmente, têm histórias tristes para contar. Uma delas, ainda, não consigo acreditar que foi verdade. Parece um pesadelo que nunca terá fim. No dia 1º de janeiro de 2006, perdi um amigo, e de uma forma lastimável. Ele foi assassinado em um crime passional. Um policial covarde atirou contra ele, que não resistiu e morreu. Nunca imaginei perder um amigo tão cedo, ainda mais desse modo. Um jovem que teve seus sonhos interrompidos. Crescemos juntos, estudamos juntos, brincamos tantas vezes... Só me restaram essas doces lembranças e uma grande indignação!

Gostaria de estar escrevendo sobre algo alegre, bonito. Contudo não posso fechar os olhos para a realidade - triste realidade! Nossos políticos ainda tiveram a “brilhante” idéia de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Apenas isso irá resolver? Considero 16 anos uma idade muito avançada! Que tal reduzirmos para dez anos? Essa medida é mais um paliativo. É uma forma que os governantes encontraram para “atender” ao apelo do povo que clama por justiça. Precisamos encarar com mais seriedade esse assunto. Temos leis eficazes, que não são aplicadas como deveriam. Por outro lado, elas têm inúmeras brechas. Temos uma justiça morosa, uma polícia corrompida e somos representados por políticos corruptos, os quais, sozinhos, não chegam onde estão: eles contam com a nossa preciosa ignorância!

Aos políticos o que interessa mesmo é a nossa incapacidade de escolher as pessoas certas. E não estou falando, apenas, daquele humilde cidadão que troca o voto por uma dentadura, um botijão de gás ou uma cesta básica. Falo, sobretudo, dos grandes empresários que investem vultosas quantias nas campanhas eleitorais em troca de milionários favores.

O que podemos esperar desse país que tinha, naturalmente, tudo para ser uma potência mundial e, entretanto, graças à incompetência dos governantes (e por que não dizer da nossa ignorância e passividade), parece fadado ao fracasso. As eleições se aproximam, e eu espero que possamos escolher bem aqueles que irão defender os nossos direitos. Não vamos votar em fulano porque é bonitinho, porque é cômico, porque é artista, porque fala bem... Tenhamos critérios para votar corretamente! É preciso conhecer a vida pública dos candidatos, para não termos que nos envergonhar de ter eleito Clodovil, Frank Aguiar, Paulo Maluf, Roberto Jefferson, Fernando Collor, Renan Calheiros, José Dirceu, etc., e para não nos sentirmos ofendidos com conselhos como o da excelentíssima ministra, Marta Suplicy:
“Relaxa e goza.”

Aniversário de Madonna!

Madonna, a mais aclamada popstar do mundo, completa 49 anos de idade nesta data! A cantora está em plena atividade e forma física, produzindo seu novo álbum, a ser lançado ainda neste semestre, após o grande sucesso de “Confessions on a dance floor”. O novo álbum conta com a co-produção do cantor Justin Timberlake, com quem Madonna compôs seis músicas e divide os vocais em pelo menos duas delas. “Ela é uma mulher extremamente talentosa. Existem momentos onde eu paro e penso: ‘Uau estou trabalhando com a Madonna!’. Ela é cool, inteligente e muitíssimo inovadora. Eu me senti honrado em trabalhar com ela. Madonna é ao mesmo tempo divertida e sabe dar conselhos e direções, sem contar que ela tem uma mente genial”, afirma Justin. Para 2008, a popstar planeja uma grande festa em Manhattan para comemorar seus 50 anos de idade. Há, ainda, rumores de uma possível mega-turnê e um curta-metragem. Parabéns para a estrela!

Música nova de Djavan nas rádios.

Já está em execução nas rádios de todo o Brasil a nova música do mestre Djavan, intitulada "Pedra", do seu mais novo e aguardado CD, "Matizes", o 18º de sua carreira, com lançamento previsto para setembro. Djavan não lança disco inédito desde o classudo "Vaidade" (2004). Seu último trabalho foi "Na pista, etc.", uma compilação de sucessos em versões remixadas, lançada em 2005, mas que não obteve muito êxito.

"Agora é só fluir, que o melhor ainda está por vir".

Acabo de ter um acesso de inspiração nesta madrugada gélida e chuvosa. É que me encontro no estado de graça típico dos ébrios! Mas o meu uísque não é suficiente para saciar a sede que estou sentindo da tua presença, criatura voluptuosa! Nem acredito que estive a poucos centímetros de distância da tua boca, do teu olhar malicioso e do cheiro altamente inebriante que exala da tua pele... Meu corpo em frêmito pede o teu... E eu quero a esgrima de língua, o toque ágil das tuas mãos, o calor das tuas coxas nas minhas, o afago nos cabelos, a compilação de obscenidades ao ouvido, a respiração quente e ofegante a me entorpecer... Sinto a vontade incontida de fazer do meu corpo o teu templo de torpes desejos! Quero romper os limites da paixão arrebatadora e me esquecer do mundo mesquinho e desprezível lá fora, para que eu possa ficar unicamente à mercê dos teus carinhos, sem pensar em mais nada... No entanto, tu encontras todo tipo de acinte para me deixar morrer de sede em frente ao mar, e isso só faz aumentar a minha ânsia de te conquistar a qualquer custo. Dou-te a certeza de que persistirei em alcançar o meu intento de te fazer cair de amores por mim!

Ah! Agora preciso dormir, mas não sem antes terminar de beber aquele uísque que deixei pela metade para vir escrever estas ignóbeis, porém sinceras linhas.

"Eu só queria que não amanhecesse o dia/ Que não chegasse a madrugada/ Eu só queria amor/ Amor e mais nada".

terça-feira, 7 de agosto de 2007

"Tudo é tão claro em mim... Sei que é amor e será fundo como o mar".

Não é possível prever a data em que o amor baterá à nossa porta (ou entrará sem pedir licença). De repente, encontramo-nos perdidos, entregues, jogados aos leões da paixão “infinda”. Quando, enfim, percebe-se que os planos foram destruídos e que o amor foi banido de um dos corações por algum motivo de força maior, nada resta a não ser dizer: - Vai! Segue teu caminho e sê feliz! Espero que tu consigas amar alguém um dia!

Ficar triste? Claro! Somos humanos, embora não seja muito inteligente estagnar-se por conta de uma desilusão. Ajudar os outros é uma boa sugestão para esquecer o peso nos próprios ombros. “Essa já não é mais a época de se ligar na própria dor”.

Algo que não me deixa permanecer triste é minha relação de carinho e amizade com as palavras. Através delas, posso ser eu mesmo, posso personificar coisas e criar personagens, os quais, na verdade, não passam de frações da minha própria essência: o “eu racional”, o “eu sozinho”, o “eu crítico”, o “eu (in)dignado”, o “eu amante” etc. Enfim, EU, e nada mais que eu mesmo!

E sigo assim: tropeçando e me reerguendo, mas amando sempre! E, como diria Djavan, espero que o amor nunca se perca de mim, enquanto puder...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Auto-retrato.

Às vezes penso que sou um poeta atormentado, insano e equivocado. Talvez eu seja um simples “nerd” hipertenso e viciado em nicotina, devaneios poéticos e canções de amor! Porém, em mim prevalece um vício maior: ser feliz. Mas pode a felicidade ser classificada como vício? Não seria um caminho ou um estado de espírito? Decerto, todos a querem, embora poucos a consigam. Ninguém está satisfeito por completo com o que tem. Essa insatisfação nos leva a uma busca desesperada e constante de um bem irreal, o qual está muito acima de nossas limitações de pobres mortais.

É difícil lidar com a ambigüidade tão presente nesta existência, tal qual o fogo e a água no planeta. Ganha-se daqui, perde-se dali! Desconsolo e solidão não são prerrogativas apenas dos desvalidos. Sofrem de tristeza o sóbrio e o ébrio, o branco e o preto, a Rita e a Beatriz, o belo e o mal-afeiçoado, o patrício e o plebeu. A vida é inconstante como o clima equatorial, em que os raios ensolarados de uma manhã facilmente se convertem em tarde sombria e chuvosa.

Bem, mas não vou ficar aqui a escrever coisas tolas e sem nexo sobre prazeres e dissabores! Tampouco terei a pretensão de querer explicar o que não tem explicação: o amor. Meu maior defeito (ou virtude) é gostar demais das coisas da vida e amar com toda a intensidade do meu corpo e do meu espírito! Contudo, há uma simples coisa que nunca consegui fazer: conjugar o verbo auxiliar SER na primeira pessoa do presente do indicativo junto ao verbo AMAR no particípio.

domingo, 5 de agosto de 2007

Blog aberto a convidados!

É com grande satisfação que resolvo abrir espaço a contribuições de amigos, a fim de diversificar o meu blog com outros conteúdos, visões e estilos de escrita! O primeiro texto recebido - e já postado - foi o da colega Renata Gabrielle, cujo conteúdo evoca os valores de Pernambuco em diversas esferas, ressaltando suas principais referências. Boa leitura!

Uma rica mistura

A minha mãe costuma contar que por pouco eu não nasci no Rio Grande do Norte (nada contra), é um lugar lindo, mas, graças ao bom Deus, sou pernambucana. Filha desta terra multicultural e multirracial. Sou filha desta rica mistura.

Pernambuco reúne de forma harmônica uma infinidade de culturas, raças, credos e ritmos. Além de uma exuberante beleza natural, composta de um vasto litoral e um rico interior. A alegre miscelânea de estilos e ritmos é marca registrada desse Estado. Ritmos como o frevo, maracatu, caboclinho, ciranda, xote, xaxado, coco, baião e manguebeat são frutos da união entre o moderno e o tradicional. Criados a partir da genialidade de mestres como o rei do baião Luiz Gonzaga e o mangueboy Chico Science.

Pernambuco foi palco de memoráveis batalhas. O seu solo foi regado pelo sangue de bravos guerreiros e berço de grandes intelectuais. Aqui, há uma das maiores concentrações de fazedores de arte do país. Com seus entalhes de madeira, cerâmica, tapeçaria, bonecos de barro e pinturas, artesãos traduzem de diversas formas a vida do nosso povo, sofrido, porém marcado pela coragem, alegria e hospitalidade. É possível perceber no rosto de cada pernambucano a multiplicidade de raças. Vê-se neles (em nós) o negro, o índio e o branco mesclados de forma singular.

A natureza foi, realmente, generosa com esse Estado. Uniu o litoral, formado por praias de areia branca, piscinas naturais e águas mornas, ao interior, caracterizado pelo clima quente e, às vezes, úmido e frio das cidades serranas. O pernambucano convive com os encantos do litoral e o aconchego do interior.

Não posso esquecer de falar da bandeira de Pernambuco, que é a mais bela dos Estados tupiniquins. Carregada de significados, é exibida com orgulho pelos seus filhos e pelos visitantes que, à primeira vista, apaixonam-se. Não é difícil amar Pernambuco - difícil mesmo é viver longe daqui... Longe dessa região mágica que abriga homogêneos contrastes; cantada, pintada, declamada, talhada e esculpida pelas mãos de anônimos e fabulosos artistas inspirados na exuberante beleza da “terra dos altos coqueiros”.

Um texto é pouco para descrever esse pedacinho do Brasil que o desbravador espanhol Vicente Pinzón escolheu para atracar. Foi aqui que surgiu o Brasil. Foi neste solo, ricamente adubado pela criatividade, que nasceram: Gilberto Freyre, Capiba, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Nabuco, Alceu Valença, Nelson Rodrigues, Juninho Pernambucano, Geninha da Rosa Borges, José Wilker, Lula Cardoso Ayres, Manuel Bandeira, Ascêncio Ferreira, Frei Caneca, Mestre Vitalino, Lia de Itamaracá, Josué de Castro, Arlete Sales, Antônio Nóbrega, Cícero Dias, Carlos Pena Filho, Mestre Salustiano, Lampião, Patrícia Franca, Padre João Ribeiro, Brennand, Lenine, José Ermírio de Morais, Aguinaldo Silva, Rivaldo, Paulo Freire, Dominguinhos, General Abreu e Lima, Luiz Gonzaga, Barbosa Lima Sobrinho, Nando Cordel, Marco Nanini, Bezerra da Silva, Virgínia Cavendish, Geraldo Azevedo, Henrique Dias, Chico Science, J. Michilles, Padre Roma, Naná Vasconcelos. Só para citar alguns. Há tantos outros que ainda estão para nascer. Há tantos que ainda hão de brilhar...

Para entender todo o encantamento que Pernambuco causa nos filhos e nos visitantes, só vindo até aqui e conhecendo os mínimos e fascinantes detalhes dessa terra única, sedutora, apaixonante... imortal, imortal, imortal.


quinta-feira, 2 de agosto de 2007

18 anos sem o Rei do Baião.

“Sempre achei Luiz Gonzaga a maravilha máxima. Cantando e contando a verdade nordestina, Gonzaga nos mostra, com um lirismo incomum, as dores e a sensibilidade de um povo extraordinário”. (Nara Leão)


No dia 02 de agosto de 1989, falecia aquele que se tornara expressão maior da cultura nordestina de todos os tempos: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Nascido em 13 de dezembro de 1912, esse pernambucano de Exu estabeleceu definitivamente sua carreira como músico na década de 40. Tornou-se nacionalmente reconhecido a partir do lançamento, em 1947, da canção Asa Branca, parceria sua com Humberto Teixeira, e que se tornou mundialmente conhecida, quase chegando a ganhar uma regravação dos Beatles.

Luiz Gonzaga é uma figura ímpar no cenário musical brasileiro. Sua música é simples, mas de um lirismo profundo e um incomensurável alcance popular! Deixou um legado artístico-cultural que ficará resguardado para sempre na memória do povo brasileiro. O velho “Lua” era um músico extremamente inventivo – foi responsável pela introduçãoo e consolidação do gênero a que se chamou Baião. Sobre Luiz e seu legado, eis algumas palavras do ministro da cultura, Gilberto Gil:

“Dentre aqueles gêneros diretamente criados a partir da matriz folclórica, está o baião e toda a sua família. E da família do Baião, Luiz Gonzaga foi o pai. Seu nome se inscreve na galeria dos grandes inventores da música popular brasileira, como aquele que, graças a uma imaginativa e inteligente utilização de células rítmicas extraídas do pipocar dos fogos, de moléculas melódicas tiradas da cantoria lúdica ou religiosa do povo caatingueiro e, sobretudo, da alquímica associação com o talento poético e musical de alguns nativos nordestinos emigrantes como ele, veio a inventar um gênero musical. Eu, como discípulo e devoto apaixonado do grande mestre do Araripe, associo-me às eternas homenagens que a História continuada prestará ao nosso Rei do Baião”.

(Extraído do Livro “Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”, de Dominique Dreyfus).


Luiz, junto com inúmeros parceiros, numa infinidade de canções, passeou por vários estilos adjacentes ao baião, dentre eles o xote, a marchinha junina e o forró. A versatilidade do cantor pode ser percebida em músicas como Noites brasileiras (xote), Olha pro céu (marcha), Numa sala de reboco (xote) e ABC do Sertão (baião).

Além de compositor, o Rei do Baião tinha uma bela e grandiosa voz – por essa razão, ele era um grande intérprete de suas próprias canções e também dava a sua cara a composições de outros autores, fazendo-as parecer que fossem suas. Dentre canções de outros autores que ficaram eternizadas na voz do Rei, destacam-se: Boiadeiro e Cigarro de Paia, ambas de Klécius Caldas/A.Cavalcante; Súplica Cearense (Gordurinha/ Nelinho); Óia eu aqui de novo (Antonio Barros Silva); A feira de Caruaru (Onildo Almeida); Hora do adeus (Luiz Queroga/ Onildo Almeida); e a toada A triste partida (Patativa do Assaré).

Mas foi com os parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas que Luiz Gonzaga compôs seus mais importantes sucessos. Com o primeiro, ele fez músicas como Baião, Respeita Januário, Légua tirana e Qui nem jiló. Com o segundo, compôs O xote das meninas, Riacho do Navio, Vem morena, Vozes da seca, A volta da Asa Branca, Cintura fina, Forro de Mané Vito, Sabiá, A dança da moda, dentre outras.

Luiz Gonzaga soube, como ninguém, retratar com propriedade a cultura, os hábitos e as mazelas de seu povo:

Quando eu vim do Sertão, seu moço, do meu Bodocó
A maleta era um saco e o cadeado era um nó
Só trazia coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei...

(Trechos de Pau-de-Arara, parceria de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes).


Em seu cancioneiro, há inúmeras músicas que primam pelo humor, como é o caso de Capim novo (Luiz Gonzaga/ José Clementino):

Nem ovo de codorna,
Catuaba ou tiborna
Não tem jeito não
Não tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não, não, não
Esse negócio de dizer que
Droga nova
Muita gente diz que aprova
Mas a prática desmentiu
O doutor disse
Que o problema é psicológico
Não é nada fisiológico
Ele até me garantiu
Não se iluda amigo véio
Vai nessa não
Essa tal de droga nova
Nunca passa de ilusão
Certo mesmo é
Um ditado do povo:
- Pra cavalo véio
O remédio é capim novo.

Em muitas canções, o mestre expressa romantismo de uma forma simples, singela e única:

Juazeiro, Juazeiro
Me arresponda por favor
Juazeiro, velho amigo
Onde anda o meu amor
Ai, Juazeiro
Ela nunca mais voltou
Diz, Juazeiro
Onde anda o meu amor

Juazeiro, não te alembras
Quando o nosso amor nasceu
Toda tarde à tua sombra
Conversava ela e eu
Ai, Juazeiro
Como dói a minha dor
Diz, Juazeiro
Onde anda o meu amor

Juazeiro, seja franco
Ela tem um novo amor
Se não tem, por que tu choras
Solidário à minha dor
Ai, Juazeiro
Não me deixa assim roer
Ai, Juazeiro
Tô cansado de sofrer...

(Excertos de Juazeiro, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

Vai cartinha fechada
Não deixa ninguém te abrir
Aquela casa caiada
Onde mora a letra i
Existe uma cacimba
Do rio que o verão secou
Meus óio chorou tanta mágoa
Que hoje sem água
Me responde a dor
Ai, diz que o amor
Fumega no meu coração
Tal qual fogueira
Das noites de São João
Que eu sofro por viver sem ela
Tando longe dela
Só sei reclamar
Eu vivo como um passarinho
Que longe do ninho
Só pensa em voltar.

(A letra i, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. O “i” a que a música faz referência é de Iolanda, pessoa por quem Zé Dantas se apaixonou e para quem fez a letra, a qual foi musicada por Luiz Gonzaga).

Em sua vasta discografia, o velho Lua não se esquece de exprimir sua religiosidade:

Quando batem as seis horas
De joelhos sobre o chão
O sertanejo reza
A sua oração

“Ave Maria, mãe de Deus, Jesus
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz”

Nessa hora bendita e santa
Viemos suplicar à Virgem Imaculada
Os enfermos vir curar

“Ave Maria, mãe de Deus, Jesus
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz.”

(Ave Maria Sertaneja)

Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer minha oração
Vou pedir à padroeira
Numa prece verdadeira
Que proteja o meu baião

Penha, Penha
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, Venha
Trazer paz para o meu lar

Nossa Senhora da Penha
Minha voz talvez não tenha
O poder de te exaltar
Mas dê bênção, padroeira
Pra essa gente brasileira
Que quer paz pra trabalhar.


(Baião da Penha, de Guio de Moraes e David Nasser).

Na qualidade de intérprete, Luiz estava sempre atento às novidades que apareciam no cenário musical. Em 1971, gravou um LP intitulado “A música jovem de Luiz Gonzaga”, constituído de canções do pessoal da bossa e do tropicalismo, que estava em evidência. O LP continha as músicas Procissão (Gilberto Gil); Fica mal com Deus (Vandré); No dia que eu vim me embora (Caetano Veloso/ Gilberto Gil); Cirandeiro (Edu Lobo/ Capinan); Caminho de Pedra (Vinícius de Moraes), dentre outras.

Luiz Gonzaga realizou, ao longo de sua carreira, duetos com os mais diversos artistas, dentre eles, Elba Ramalho (Sanfoninha choradeira) e Gal Costa (Forró nº 01). Também gravou dois discos com Fagner, em 1984 e 1988, ambos um enorme sucesso de vendas. Cabe ressaltar suas parcerias com seu filho Gonzaguinha, como Pense n'eu e A vida do viajante, dois grandes sucessos da carreira de ambos.

O Rei do Baião manteve-se na ativa, compondo, lançando disco e fazendo show até o fim, mesmo acometido do câncer, somado à osteoporose que o debilitava fisicamente. O último disco lançado, "Vou te matar de cheiro", trazia a faixa-título (parceria de Luiz Gonzaga e João Silva) e Xote ecológico (Aguinaldo Batista/Luiz Gonzaga) como músicas de trabalho, as quais fizeram enorme sucesso, elevando as vendas do disco, também motivadas pela comoção em torno da enfermidade do rei do baião. Seu último show foi realizado em Recife-PE, no Teatro Guararapes, no dia 06 de junho de 1989. Debilitado, em cadeira de rodas, o velho Lua entrou vestido a caráter, com gibão e chapéu de couro. Apresentava perda de memória e já não se lembrava direito até mesmo de Asa Branca, seu maior sucesso. Mesmo assim, exprimia preocupação em falar, expressar sua gratidão ao povo que sempre o acolheu com bastante carinho. “Ninguém vai acabar com o forró. Não vai, porque essa é a música do povo”. Falou dos músicos que o acompanhavam, como Dominguinhos e Pinto do Acordeon. Caiu em prantos quando falou de Exu, sua terra natal. Em 21 de junho do mesmo mês, foi internado no Hospital Santa Joana, onde viria a permanecer por 42 dias na UTI. Nos momentos de dor atroz, para apaziguar a dor, Luiz trocava os gemidos por prolongados aboios que ressoavam em alto e bom som pelos corredores. Logo em seguida, desculpava-se humildemente com os outros doentes que se encontravam na UTI: - Não me levem a mal. Sinto muitas dores e gosto de aboiar quando deveria gemer.

Luiz Gonzaga encerrou sua passagem na Terra às 5h15 do dia 02 de agosto de 1989, aos 76 anos de vida, deixando um patrimônio artístico de incalculável valor que ficará eternizado na memória de sua imensa legião de admiradores, de geração a geração.